Transtornos relativos à saúde mental têm se tornado um ponto de preocupação entre os profissionais da educação. Seja na infância ou na adolescência, seja em meio ao corpo docente da escola, esses distúrbios impactam a vida dentro e fora da sala de aula, o que leva gestores a buscarem cada vez mais estratégias para lidar com o problema.
A pesquisa Saúde mental nas escolas: uma discussão necessária mostrou que 91% dos alunos já apresentaram casos de doenças relacionadas à saúde mental, como ansiedade, depressão, fobia social e síndrome do pânico. O número também é alto entre o corpo docente, chegando a 86%. Entre os transtornos mais relatados, a ansiedade é o mais frequente, com 62,96% dos casos, seguida pela depressão, com 16,67%.
O levantamento incluiu 1,5 mil escolas particulares de todo o país e foi realizado pela Meira Fernandes, consultoria de administração especializada em instituições de ensino. Segundo o gestor de Comercial e Marketing da empresa, Rogério Caramante, o intuito foi não só apontar um número, mas ajudar com informação de qualidade e acessível.
Também foi possível observar que questões de saúde mental estão entre as maiores preocupações dos gestores das escolas. Na pergunta "Qual a sua avaliação de prioridade de programas e conteúdos sobre saúde mental / bullying / suicídio dentro das escolas e na grade curricular?", 75% das escolas apontaram prioridade 10, a maior entre as opções da pesquisa. No entanto, 39% das escolas ainda não contam com programas de saúde mental.
A pesquisa foi o início de uma série de atividades junto às escolas voltadas para capacitação no cuidado à saúde mental e prevenção do bullying. Em parceria com o Instituto Ame sua Mente, a Meira Fernandes promoveu palestras com o psiquiatra Gustavo Estanislau, organizador do livro Saúde mental na escola: o que os educadores devem saber.
Olhar atento
Gustavo Estanislau destaca pontos aos quais os profissionais da educação devem ficar atentos e que indicam que o aluno pode precisar de ajuda. "Alguns sinais importantes incluem alterações de sono, apetite e alterações no peso. Outra questão são as alterações de comportamentos que a gente já tinha estabelecido. Por exemplo: uma pessoa que tem uma tendência a ser mais sociável e de repente passa a viver mais isolada, uma pessoa que tem um perfil mais tranquilo e passa de uma hora para outra a ficar mais irritável, uma pessoa que vem tendo um rendimento escolar razoável e de repente tem uma queda muito brusca que não tem uma explicação", elenca.
A perda de prazer nas atividades e uma negatividade muito grande a respeito de si e de tudo o que está a volta também configuram sinais de alerta. Ao perceber esses sinais, o psiquiatra indica que o profissional tente identificar quais são as dificuldades específicas do aluno na sala de aula. "Por exemplo, um aluno que está deprimido ou ansioso pode estar apresentando muita dificuldade na interação social. Então, o educador pode passar a ajudar essa criança a se vincular um pouco melhor, seja fazendo vínculo com a criança para ela se sentir melhor dentro da sala de aula, seja se aproximando ou aproximando outras crianças dela."
"No caso de crianças que estão apresentando uma queda no rendimento acadêmico, eventualmente esse educador pode ajudar no sentido de fazer adaptações para que ela não tenha uma queda de autoestima ou uma queda de rendimento muito grande. Pequenas adaptações, enunciados mais diretos, tarefas com um volume um pouco menor para que a pessoa chegue com um pouco mais de rapidez no fim e tenha a sensação de reforço por ter finalizado", explica o especialista.
Gestos ainda mais simples também são válidos, como parabenizar o estudante quando se sai bem em uma tarefa. Isso ajuda a lidar com frustrações que acabam sendo mais intensas.