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Bê, á, bá tech: como funciona o letramento na era digital?

As gerações que nasceram num mundo digital também precisam ser preparadas para usar as ferramentas tecnológicas com responsabilidade e destreza

As crianças e adolescentes passam boa parte da vida no ambiente escolar. Essa convivência é fundamental para que consigam viver e conviver em sociedade. Para acompanhar as evoluções, é preciso, hoje, ir além da alfabetização básica. Matemática, história, português, geografia e outras disciplinas continuam essenciais, mas, para garantir a compreensão do mundo, as instituições de ensino precisam garantir o letramento digital, que é a compreensão e capacidade de interpretar, criar e desenvolver habilidades de leitura e escrita no cenário tecnológico.

O termo letramento não é novo no vocabulário, e está diretamente ligado a alfabetização, mas com uma representação mais complexa. A ideia é não apenas decodificar as interações comunicativas, mas saber quando e como aplicá-las. O letramento digital nas escolas é importante porque ele estimula a multidisciplinaridade e a cooperação entre as diferentes áreas de conhecimento. Dessa forma, o estudante ganha mais autonomia e aprende, de forma crítica, como aproveitar os reais benefícios oferecidos pela tecnologia.

Especialista em Educação da Fundação Itaú Social, Juliana Yade avalia que a formação tecnológica é importante para o futuro das crianças. “As crianças estão cada vez mais expostas à tecnologia desde cedo, sendo fundamental que elas desenvolvam habilidades digitais básicas para se prepararem para um mundo em que a tecnologia é tão essencial”, avalia.

O domínio de múltiplas habilidades é uma das principais vantagens do letramento digital, pois ele estimula a multidisciplinaridade e a cooperação entre as diferentes áreas de conhecimento. “Também é imprescindível ensiná-las sobre segurança on-line, incluindo a
importância de não compartilhar informações pessoais, identificar comportamentos de risco
e entender, mesmo que minimamente, os princípios de privacidade”, comenta Yade.

Na prática, a escola deve ensinar os estudantes com e sobre tecnologia, inserindo recursos educacionais digitais no dia a dia da instituição e abordando temas relacionados à cultura digital de forma interdisciplinar. “A integração bem-sucedida da educação com o letramento digital requer uma abordagem equilibrada, em que a tecnologia deve ser usada como uma ferramenta para aprimorar o aprendizado, e não como um recurso substituto. Isso garantirá que os estudantes estejam preparados para o mundo digital em constante evolução”, avalia Juliana Yade.



A diretora pedagógica da Escola Canadense de Brasília, Amanda Payne, avalia o aprendizado tecnológico nas escolas como essencial. “Entendemos que o computador e a internet como um recurso, e abordamos muito isso com os alunos”, explica. “Ajudamos os estudantes a fazer a seleção do que é válido, de quais sites têm informação confiável, onde verificar as fontes e, assim, ter uma educação mais prática para o dia a dia também”, acrescenta a profissional sobre cuidados que se devem ter ao apresentar as redes aos estudantes.

A pedagoga Miliane Benício, mãe do Axl Benício, 11 anos, explica que apresenta para o filho o universo de possibilidades que a tecnologia oferece. “Sempre que conversamos com o nosso filho, apresentamos textos, vídeos sobre as questões que abordamos. Assim, ele tem condições de ouvir de outra forma, uma reflexão sobre o mesmo assunto. Falamos sobre fontes confiáveis de pesquisa. E, como a escola é nossa cúmplice nessa leitura, procuramos uma escola que potencializasse habilidades e interesses que ele demonstrava possuir”, destaca a mãe.

“A educação pode ser aliada da tecnologia criando um currículo que garanta aos estudantes o desenvolvimento de competências e habilidades neurocognitivas, linguísticas, físicas, afetivas, éticas e solidárias lado a lado das competências tecnológicas. Um currículo crítico, prático, mas embasado em conhecimentos sobre como se estrutura e funciona a linguagem da programação e a comunicação mediada pelas Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação”, acrescenta Miliane.

Novas gerações

As novas gerações, principalmente a Z (nascidos entre o fim dos anos 1990 até o início do ano 2010) e a Alfa (nascidos a partir de 2010), têm contato com as tecnologias de forma mais natural. Elas nasceram e foram criadas em um mundo de intenso desenvolvimento de novas tecnologias e dispositivos eletrônicos, como celulares e computadores. Por isso, as escolas precisam se preparar para dialogar com elas, afinal, o conhecimento não é mais construído apenas nos moldes da educação tradicional.

Apesar do letramento digital estar inserido na vida de muitos indivíduos antes mesmo da alfabetização, esse é um processo que não ocorre de forma rápida. É uma prática que demanda tempo, se relaciona com a realidade do aluno dentro e fora da sala de aula e precisa ser desenvolvida de forma equilibrada, devendo ser inserida no contexto escolar e acompanhada de perto pelos professores.

“Nós falamos muito da questão de trabalhar com conceitos para além dos conteúdos, de investigação dentro da investigação, e se torna uma questão disciplinar, dos alunos estarem construindo o processo interdisciplinar”, explica Amanda Payne, da Escola Canadense. "Observar o computador como um recurso, uma vez que ele vai além do formato tradicional de educação. Por isso, tanto nos anos iniciais quanto nos anos finais, os alunos estão construindo uma formação tecnológica, mas ao mesmo tempo se colocando de forma crítica dentro desse universo”, completa.

Competência em formação

Juliana Yade, da Fundação Itaú Social, acrescenta que é importante ressaltar que o letramento digital não é uma habilidade estática, mas uma competência em constante evolução, impulsionada pelo rápido avanço tecnológico. Portanto, as escolas devem continuar a adaptar seus currículos e métodos de ensino para garantir que os estudantes estejam preparados para enfrentar os desafios digitais de um mundo em constante mudança.

“Além disso, precisamos ter em mente que as crianças, adolescentes e jovens são nativos digitais e estão familiarizados com diversos recursos tecnológicos desde muito cedo. Ou seja, eles já têm um grau de inserção digital, mas não necessariamente um letramento digital. É aí que a escola ganha protagonismo, apoiando na formação desses indivíduos para fazerem o uso crítico das ferramentas e do seu conteúdo”, conclui a especialista.