No Brasil, educação é um direito de todo cidadão desde o início da vida. No entanto, a matrícula escolar só passa a ser obrigatória a partir dos 4 anos, de acordo com emenda adicionada à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) em 2013. Carol Velho, oficial de educação infantil no Unicef Brasil, explica que, além de garantir um direito fundamental, a educação formal tem o papel de acompanhar individualmente e socialmente o indivíduo. "Na escola, a gente tem a oportunidade de estar com ela (criança) diariamente. Então a gente tem uma importância muito grande para promoção da aprendizagem, mas também para o cuidado."
A especialista destaca que, mesmo no início da vida, a criança é um ser que traz uma série de bagagens e de conhecimentos. "Um dos grandes objetivos é que a educação infantil articula as experiências de saberes que as crianças já têm com os novos aprendizados", reforça. Cada pequeno tem diferentes habilidades, formas de se expressar, de ver o mundo e, mais importante, o seu próprio ritmo.
Valorizar essa individualidade, de acordo com a gerente de Conhecimento Aplicado da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, Beatriz Abuchaim, é um dos pilares para o desenvolvimento de cidadãos conscientes. "A gente está construindo nessas crianças a noção de respeito ao outro, de tolerância e da valorização das diferenças", diz.
Adaptação
O começo na escola, no entanto, pode ser uma experiência difícil, que requer um tempo para se adaptar à nova realidade. Esse foi o caso de Teresinha Feitosa, 50, dona de casa e mãe do Pedro, de 3 anos e oito meses. "O Pedro queria ficar muito grudado comigo, porque ele nasceu numa pandemia onde só tinha gente", relembra. "Hoje, na hora de dormir, ele começa a falar: 'Eu quero ir para minha escola, eu vou sentir muita falta dos meus amigos'", conta.
A supervisora do método da Escola Maria Montessori, Cleia Antunes, explica que, nesses momentos de adaptação, o primeiro passo é transmitir confiança para o filho. É importante ainda que o processo ocorra de forma gradual, com carga horária reduzida no início, para que a criança se acostume aos poucos com a convivência escolar. "É importante que o responsável olhe no olhinho da criança e diga: 'Filho, nós vamos voltar para casa', ou: 'Nós vamos te esperar do lado de fora da escola, agora é o momento que você tem para explorar todo esse ambiente, e daqui duas horas a mamãe volta'", exemplifica a profissional.
O período de adaptação demora em média um mês e meio, mas é importante entender que cada criança tem tempos e necessidades diferentes. "Tem situações em que quem sai chorando é a mãe e o pai", brinca Cleia.
A psicóloga Karen Loiola, da Faculdade Anhanguera, explica que atividades simples como levar a criança para ajudar a escolher os materiais escolares podem ajudar nesse processo.
Ela orienta que o adulto subestime a capacidade de entendimento da criança e ouça o que ela sente e pensa. "É indicado que eles fiquem até com curiosidade, sabendo que tem novidades legais para desbravar nesse espaço, nessa intenção de que a escola vai ser uma extensão da sua própria casa."