Já olhou para seu bebê e pensou: "O que se passa na cabecinha dele?" Você ficaria surpreso ao descobrir a quantidade de atividades neurológicas que ocorrem de uma só vez. Na primeira infância, isto é, a fase que vai desde o nascimento até os 5 anos e 11 meses de idade, 90% das nossas conexões cerebrais são formadas. Especialmente nos primeiros mil dias de vida, a contar do início da gravidez até os 2 anos de idade, o cérebro do bebê pode fazer até um milhão dessas conexões por segundo.
É uma fase em que as descobertas ocorrem a todo o momento e em uma velocidade bem maior se comparada a um indivíduo adulto. Por isso, uma educação infantil de qualidade é essencial. A gerente de Conhecimento Aplicado da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, Beatriz Abuchaim, explica que a educação na primeira infância impacta toda a vida escolar. "Uma criança que frequenta uma educação infantil de qualidade cria bases bastante sólidas para as aprendizagens posteriores que ela vai ter no ensino fundamental", destaca.
Quando falamos em educar, é comum imaginarmos uma sala de aula com um conteúdo no quadro e provas. Não é esse o caso na primeira infância. "Não é desejável na educação infantil que as crianças fiquem todas enfileiradas respondendo ao professor", explica a especialista. Segundo Abuchaim, o ideal é que elas possam participar e aprender com atividades concretas, e, claro, com muita brincadeira.
De acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento que norteia a educação básica no país, o objetivo dessa etapa é estimular as habilidades da criança de conviver, brincar, participar, explorar, expressar-se e conhecer-se. Estão entre as habilidades a serem trabalhadas: aprender a viver em comunidade, dividir e compartilhar objetos, comunicar emoções e perceber o outro, desenvolver a coordenação motora e se expressar corporalmente, além de desenvolver sentimentos como a empatia e o respeito para com o outro.
Eu e o outro
Encontrar um ambiente seguro para que os filhos pudessem interagir com outras crianças era uma das principais preocupações da dona de casa Cira Noda, 42 anos. Mãe de dois meninos, um de 5 e outro de 11 anos, ela conta que a escolha da escola foi permeada por angústias e dificuldades devido ao diagnóstico de autismo do mais novo. "Meu lema era justamente uma escola que incluísse ele", relata.
Após visitar algumas instituições de ensino, Cira optou por matricular os filhos na Escola Maria Montessori e conta que o desenvolvimento do caçula tem surpreendido a família. "Eu via que ele estava feliz com outras crianças", conta. "cantando, dançando, sentando para fazer uma atividade", complementa.
A escola, aponta a psicóloga e coordenadora acadêmica da Faculdade Anhanguera de Taguatinga Karen Loiola, representa a passagem do ambiente privado para o público. "Até então, na minha casa o meu pai é meu, minha mãe é minha, meus brinquedos são meus", exemplifica. "Quando ela vai para o espaço público, que é o espaço de socialização, ela vai agora compartilhar tanto as pessoas — porque o coleguinha não é só dela, a tia não é só dela — quanto os objetos", observa a especialista.
Segundo a psicóloga, as relações afetivas e emocionais devem ser o foco da educação infantil. "Eu via muito essa preocupação da família de falar: 'Meu filho aprendeu o que hoje, tia?' Mas foram poucas as vezes que eu vi pai chegar no ambiente para perguntar: 'Professora, meu filho foi feliz? Ele se divertiu? Ele brincou? Quem é o amigo dele?", relata a psicóloga.