"Toda prática educativa implica uma concepção dos seres humanos e do mundo." A frase do patrono da educação brasileira, Paulo Freire, ilustra parte do conceito de educação integral: uma formação preocupada em preparar cidadãos conscientes do seu papel no planeta. O educador considerava o conhecimento um direito e a educação parte da política cidadã, dos direitos humanos e da construção diária da história.
Para alcançar esse objetivo, o conceito de educação integral geralmente vem aliado ao de ensino em tempo integral. Esse período varia de seis horas e meia a oito horas diárias. No Brasil, o Artigo 36 da Resolução do Conselho Nacional de Educação do Ministério da Educação (MEC) considera como período integral a jornada escolar que compreende, no mínimo, sete horas diárias.
Além de aulas das matérias tradicionais, a modalidade de ensino integral permite que os alunos ocupem o tempo com momentos de recreação, aulas de reforço, prática esportiva e outras atividades que contribuam para o desenvolvimento. Os pais que matriculam os filhos em escolas de ensino integral buscam tranquilidade para deixar os pequenos durante o tempo em que estão trabalhando.
"Além da listagem dos conteúdos, a abordagem curricular deve expressar o atendimento ao que acredito ser a função social da escola: construir aprendizagens significativas para todos", avalia a coordenadora-executiva adjunta da Ação Educativa, Ednéia Gonçalves.
A educação integral reconhece que os alunos são seres complexos, compostos não apenas de aspectos cognitivos, mas também de aspectos emocionais, sociais, físicos e culturais. Nesse sentido, o objetivo é proporcionar um ambiente educativo que valorize e promova o desenvolvimento equilibrado e integrado de todas essas dimensões.
"O reconhecimento dos estudantes como sujeitos e sujeitas de conhecimento exige de professores e demais profissionais da educação o aprimoramento contínuo dos instrumentos metodológicos, para que os saberes dos estudantes possam emergir e se ampliar sem barreiras ou discriminações", concluiu a especialista.
Evolução
O Colégio Marista João Paulo II, na Asa Norte, oferece opções de ensino integral desde a inauguração, em 1997. No início, havia apenas uma atividade de contraturno, até a ampliação para uma grade completa de possibilidades. "Tudo começou como um turno extra para os filhos de profissionais da escola, mas vimos que poderia ser um agregador ao currículo das crianças", comenta a vice-diretora educacional, Luciana Winck.
Pouco depois, surgiu o Turno Integral Marista (TIM), disponível para a educação infantil até o 9º ano do ensino fundamental, que oferece atividades que podem ser escolhidas em um pacote de dois, três, quatro ou cinco dias na semana, em um modelo que tem sido adotado por algumas escolas particulares de Brasília.
O trabalho pedagógico é guiado pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), privilegiando a integração das áreas do conhecimento e práticas que superam a fragmentação dos componentes, como a educação por projetos. Há diversas opções, como artes, ateliê, balé, capoeira, dança, flauta, futsal, ginástica rítmica, robótica, inova, jazz, judô, musicalização, natação, teatro, tênis de mesa, xadrez, arte e sustentabilidade, jogos aquáticos, jogos esportivos, vôlei, basquete e coral.
Cada pai e aluno pode escolher as atividades que mais caibam nos seus interesses. "Todo ano nós vemos as estatísticas, os comentários e os pedidos ao longo do ano e adaptamos a nossa grade horária. Ouvimos quais modalidades estão faltando e, assim, modificamos o currículo", explica a coordenadora da educação integral da escola, Greice Bruscatto.
Incorporar a visão do estudante significa romper com o paradigma do ensino passivo, no qual o currículo é um conjunto de conteúdos a ser absorvido por um sujeito despersonalizado. "É difícil falar de um currículo ideal. Nós tentamos observar a identidade desses grupos aqui na escola. Com as suas personalidades, nós conseguimos observar que são pessoas atrás de esportes, mas que gostam da parte artística e tecnológica", avalia a coordenadora.