As tradicionais agendas de papel fazem parte do imaginário coletivo quando se fala de escola. Afinal, há décadas elas são amplamente adotadas pelos educadores, principalmente para a comunicação, sendo o grande elo entre escolas e famílias.
O universo digital, no entanto, tem mudado esse cenário. Seria o fim da agenda física nas escolas? No Colégio Ciman, que oferece educação infantil, ensino fundamental e ensino médio há 50 anos, as duas opções ainda são uma realidade. "Nós entendemos que quanto mais próxima essa interação entre família e escola, mais ganhos para o aluno, e esse processo de desenvolvimento vai desde a agenda física até os recursos tecnológicos", avalia o diretor da unidade Octogonal, Mark Mello, que trabalha na instituição há mais de 40 anos.
"A comunicação é essencial entre a escola e as famílias, por isso, nós sempre trazemos novos recursos para melhorar o diálogo com os pais e integrar o corpo docente", acrescenta Leonardo Eustáquio, diretor da unidade do Cruzeiro. "A construção pedagógica acontece desde o momento de escrever na agenda até a comunicação mais imediata com os pais por meio das redes", acrescenta o educador.
Diálogo direto
Mãe dos gêmeos Felipe e Guilherme, de 9 anos, Ana Paula Alvim, 45, considera o 'momento da agenda' necessário para os dois, que estão no 4º ano do ensino fundamental. "A comunicação tecnológica é legal pela dinamicidade. Por exemplo, eu recebo todo dia a rotina deles. É um jeito de me sentir mais próxima da realidade escolar", avalia. "Essa semana eu vi que eles tiveram português e, lá do meu trabalho, pude checar qual era o dever de casa. Assim, já falo para eles irem fazendo", acrescenta.
Entretanto, a mãe avalia que o ambiente digital não supre o momento familiar de olhar a agenda com os filhos. "Acho que nada supera a agenda de papel, pelo menos para o controle, não só pelo dever de casa ou pela circular, mas pela experiência."
Segundo o professor da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB) Gilberto Lacerda, utilizar a tecnologia pode ser um fator que agrega valor e consistência. "Ela traz para a escola um ar de modernidade e de contemporaneidade, mas não necessariamente avança na comunicação efetiva entre os pais e a escola", destaca. "A tecnologia pode criar possibilidades ou atrativos para que os pais se engajem na sua relação com a escola e tenham maior participação na vida escolar dos filhos", conclui o professor.
Herança da pandemia
A agenda era o lugar onde costumavam-se centralizar a troca de informações pedagógicas e de rotina dos estudantes, mediada pelos coordenadores e professores. Com a pandemia, as escolas e instituições precisaram mudar a forma de se comunicar não só com os pais, mas com os alunos também. Sites, aplicativos, sistemas Google ou Microsoft ganharam destaque no cotidiano escolar e passaram a ser a principal ou, até mesmo, a única maneira de interagir com os colégios. "Quando a pandemia começou, nós precisamos mudar uma série de situações e se intensificou a comunicação on-line", comenta Mark Mello. "Depois da pandemia, nós continuamos com essas ferramentas, mas voltamos a utilizar a agenda física para nos comunicar com as famílias de um jeito personalizado", relata o diretor.