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Educação integral vai além de atividades no contraturno; entenda

Ensino integral é uma das garantias previstas nas diretrizes da educação brasileira. Saiba o que as escolas podem e devem oferecer e a diferença para a oferta de atividades no contraturno

Helena Dornelas
postado em 22/10/2023 05:59
Opções variadas que incluem de música a esportes contribuem para a formação dos pequenos -  (crédito:  Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
Opções variadas que incluem de música a esportes contribuem para a formação dos pequenos - (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
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"Toda prática educativa implica uma concepção dos seres humanos e do mundo." A frase do patrono da educação brasileira, Paulo Freire, ilustra parte do conceito de educação integral: uma formação preocupada em preparar cidadãos conscientes do seu papel no planeta. O educador considerava o conhecimento um direito e a educação parte da política cidadã, dos direitos humanos e da construção diária da história.

Para alcançar esse objetivo, o conceito de educação integral geralmente vem aliado ao de ensino em tempo integral. Esse período varia de seis horas e meia a oito horas diárias. No Brasil, o Artigo 36 da Resolução do Conselho Nacional de Educação do Ministério da Educação (MEC) considera como período integral a jornada escolar que compreende, no mínimo, sete horas diárias.

Além de aulas das matérias tradicionais, a modalidade de ensino integral permite que os alunos ocupem o tempo com momentos de recreação, aulas de reforço, prática esportiva e outras atividades que contribuam para o desenvolvimento. Os pais que matriculam os filhos em escolas de ensino integral buscam tranquilidade para deixar os pequenos durante o tempo em que estão trabalhando.

"Além da listagem dos conteúdos, a abordagem curricular deve expressar o atendimento ao que acredito ser a função social da escola: construir aprendizagens significativas para todos", avalia a coordenadora-executiva adjunta da Ação Educativa, Ednéia Gonçalves.

A educação integral reconhece que os alunos são seres complexos, compostos não apenas de aspectos cognitivos, mas também de aspectos emocionais, sociais, físicos e culturais. Nesse sentido, o objetivo é proporcionar um ambiente educativo que valorize e promova o desenvolvimento equilibrado e integrado de todas essas dimensões.

"O reconhecimento dos estudantes como sujeitos e sujeitas de conhecimento exige de professores e demais profissionais da educação o aprimoramento contínuo dos instrumentos metodológicos, para que os saberes dos estudantes possam emergir e se ampliar sem barreiras ou discriminações", concluiu a especialista.

Evolução

O Colégio Marista João Paulo II, na Asa Norte, oferece opções de ensino integral desde a inauguração, em 1997. No início, havia apenas uma atividade de contraturno, até a ampliação para uma grade completa de possibilidades. "Tudo começou como um turno extra para os filhos de profissionais da escola, mas vimos que poderia ser um agregador ao currículo das crianças", comenta a vice-diretora educacional, Luciana Winck.

Pouco depois, surgiu o Turno Integral Marista (TIM), disponível para a educação infantil até o 9º ano do ensino fundamental, que oferece atividades que podem ser escolhidas em um pacote de dois, três, quatro ou cinco dias na semana, em um modelo que tem sido adotado por algumas escolas particulares de Brasília.

O trabalho pedagógico é guiado pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), privilegiando a integração das áreas do conhecimento e práticas que superam a fragmentação dos componentes, como a educação por projetos. Há diversas opções, como artes, ateliê, balé, capoeira, dança, flauta, futsal, ginástica rítmica, robótica, inova, jazz, judô, musicalização, natação, teatro, tênis de mesa, xadrez, arte e sustentabilidade, jogos aquáticos, jogos esportivos, vôlei, basquete e coral.

Cada pai e aluno pode escolher as atividades que mais caibam nos seus interesses. "Todo ano nós vemos as estatísticas, os comentários e os pedidos ao longo do ano e adaptamos a nossa grade horária. Ouvimos quais modalidades estão faltando e, assim, modificamos o currículo", explica a coordenadora da educação integral da escola, Greice Bruscatto.

Incorporar a visão do estudante significa romper com o paradigma do ensino passivo, no qual o currículo é um conjunto de conteúdos a ser absorvido por um sujeito despersonalizado. "É difícil falar de um currículo ideal. Nós tentamos observar a identidade desses grupos aqui na escola. Com as suas personalidades, nós conseguimos observar que são pessoas atrás de esportes, mas que gostam da parte artística e tecnológica", avalia a coordenadora.

Preparação e parceria

A educação integral é um direito de todo estudante brasileiro, conforme garantido pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que ressalta a importância de desenvolver todas as competências de crianças e jovens, em todos os âmbitos. De acordo com o documento, "a Educação Básica deve visar à formação e ao desenvolvimento humano global, o que implica compreender a complexidade e a não linearidade desse desenvolvimento, rompendo com visões reducionistas".

"O ensino integral exige tanto dos professores quanto da escola uma proposta diferente para poder contemplar todas as necessidades, tendo em vista que o estudante vai passar todo o dia na escola, o que inclui planejamento, estrutura e recursos humanos", comenta Ana Elisa Dumont, presidente do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino no Distrito Federal (Sinepe/DF).

A mensalidade também se torna um fator importante quando os pais pensam em colocar os filhos o dia todo na escola. "Não há uma média de diferença nas mensalidades em função da oferta de ensino integral. Os valores dependem das atividades que serão oferecidas, nível escolar e todos os demais recursos que são ofertados aos alunos, como a alimentação, infraestrutura específica e profissionais especializados", ressalta o vice-presidente do sindicato, Marcos Scussel.

Aspecto emocional

Um dos desafios do modelo é desenvolver plenamente o estudante em todas as suas dimensões, como intelectual, física, socioemocional, híbrida, motivacional, entre outras, dando oportunidades para que possa construir seus projetos de vida. "No ensino integral é fundamental que seja contemplada a formação socioemocional dessa criança, tendo em vista a importância que a parte emocional tem no desenvolvimento do ser humano. Não adianta você ter um cognitivo muito desenvolvido se o emocional não acompanha", avalia Ana Elisa Dumont.

O vice-diretor administrativo do Marista João Paulo II, José Maria, avalia que um dos principais pontos da educação integral é a segurança para a família. "Nós já conhecemos as crianças, nós já conhecemos as famílias e tudo isso se soma à segurança dos estudantes. Estão no mesmo ambiente, já conhecem a instituição e os educadores", destaca. "Existe uma intencionalidade nessa caminhada integral. Vai além da confiança, é como se a escola estivesse fazendo uma parceria com os pais no sentido de auxiliar no processo de formação do estudante como pessoa", conclui. (HD)

Tempo integral x educação integral

A concepção de educação integral trata sobre compreender os estudantes como sujeitos integrais e, a escola, como agente central para desenvolver suas múltiplas dimensões: intelectual, física, emocional, social e cultural. Também diz respeito a trabalhar para fazer valer os direitos dos estudantes e suas famílias, apoiados pela rede de proteção integral. Ainda, a realizar um processo de ensino e aprendizagem conectado ao território, à comunidade e às demandas dos estudantes e do mundo contemporâneo. "Tempo integral é bastante diferente de educação integral, uma vez que o tempo está relacionado à quantidade de horas que o estudante vai passar na escola e a educação integral está relacionada à oferta de um currículo que olhe e trabalhe a construção de diferentes aprendizagens além da cognitiva", alerta a gerente de projetos do Instituto Ayrton Senna, Maria Lucia Voto. "Somos seres múltiplos, que fazemos parte de uma comunidade, de um lugar, que carregamos bagagens sociais e emocionais e, sendo assim, a escola deve considerar essa totalidade de cada estudante, buscar apoiá-los em seu desenvolvimento pleno", reforça a especialista.

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