A tão aguardada volta às aulas após o período de férias de julho na rede pública de ensino de Brasília trouxe um misto de entusiasmo e adaptação para estudantes, professores e funcionários, nesta segunda-feira (31/7). O retorno às atividades marca um novo capítulo no cenário educacional das 831 escolas públicas do DF, que, depois da greve dos professores da capital e a reposição de aulas, recepcionaram 472 mil estudantes.
Logo cedo, os alunos do Centro de Ensino Fundamental (CEF) 01 do Cruzeiro estavam a postos na porta da escola. Mesmo com a manhã fria, os estudantes apresentaram disposição e foram recebidos com calorosos sorrisos e abraços dos amigos, professores e funcionários da unidade de ensino.
A autônoma Rayanne Araújo, 35 anos, foi uma das que pulou da cama junto com os filhos, Dimitri Araújo, 13, e Esther Araújo, 17. Ela contou que, além da disposição natural dos filhos para ir à escola, fez um trabalho prévio nos últimos dias de recesso, para que eles se acostumassem com a rotina. "Sempre fazemos uma semana de adaptação, então, fica mais fácil. Mesmo sem aula, eles acordam um pouquinho mais cedo, estudam", revelou.
A mãe também espera que o segundo semestre seja mais tranquilo que o anterior, tendo em vista que, para ela, a greve dos professores da rede pública de ensino causou impacto na rotina de estudos. "Deu uma complicada na vida de todo mundo. Os meninos perderam o ritmo e o rendimento escolar. Mas a escola conseguiu se adaptar da melhor forma. Acho que, agora, vai ser melhor", avaliou.
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Reencontro
Maria Heloísa, 12, moradora do Cruzeiro Novo, chegou animada à escola e se surpreendeu com tanta gente logo cedo. "Foi melhor do que eu pensava. Achei que ia ser mais quieto e que ninguém viria, mas veio muita gente. A maioria dos meus amigos está aqui", disse, empolgada.
Para a adolescente, a greve dos professores dificultou um pouco. "O primeiro bimestre foi bem de boa. O segundo já não foi muito bom. A greve atrapalhou muito, pois os professores não vinham. Por conta das aulas no sábado, nem consegui dormir. Mas vou recuperar agora no terceiro", garantiu.
A jovem Flávia Stephanie, 14, corria pelos corredores da escola a procura dos colegas. "Para acordar foi terrível. Moro em São Sebastião, então é meio longe. E fica ainda pior no frio", assinalou, encolhida e protegida por um grande casaco.
A estudante considera que a paralisação docente foi ruim para o desempenho, mas que a segunda metade do ano letivo tende a ser mais tranquila. "A greve foi horrível e atrapalhou muito os estudos. Vamos ficar com muitas faltas, porque a maioria das pessoas não pôde repor no sábado", lamentou. No entanto, ela está otimista. "Queria estar debaixo das cobertas, mas estar aqui também é muito bom. Espero que todos venham."
Os educadores da unidade de ensino estavam em sintonia com a vibração dos estudantes. "Eles gostam muito de estar na escola. Esse retorno para eles, vai ser um período de readaptação. Mas eles estão sempre muito dispostos para estudar e isso é o mais importante", comentou a professora da educação especial Sama Coelho, 29.
Desafios
Entre os professores e a direção do CEF 01, a expectativa é de que, com a colaboração de todos, o restante do ano letivo seja proveitoso, com avanços significativos no processo de ensino e aprendizagem. "A segunda metade do ano tende a ser mais tranquila, pois os alunos estão mais adaptados. Vários são oriundos de outras escolas e cidades do DF, mas estão acostumados com o ambiente e as regras. Então fica mais fácil para cobrar, reavaliar e ver onde melhorar", ponderou a vice-diretora, Fátima Mendonça, 58.
"Estamos preparando os nossos alunos para as provas do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). A expectativa é melhorar o aprendizado e ajudá-los a alcançar os objetivos que não conseguiram no primeiro semestre", adiantou. "Sacode a poeira e vamos retornar com tudo. A escola é muito importante. Sem educação não é possível um futuro promissor", concluiu Fátima.
Ao Correio, a secretária de Educação, Hélvia Paranaguá, comemorou a volta às aulas. "Hoje, temos o resultado da avaliação diagnóstica. A partir disso, vamos discutir quais os caminhos que precisamos seguir para continuarmos a ampliar a superação de alunos que têm atraso na aprendizagem, para que não fiquem aquém dos demais estudantes. Esse é o nosso foco: trabalhar individualmente com o aluno que apresenta algum tipo de atraso para que ele possa seguir sem nenhum problema", destacou.
*Estagiário sob a supervisão de Malcia Afonso