Duas professoras da Escola Classe 8 do Guará são afastadas após o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) expedir medida protetiva para quatro crianças com necessidades especiais, vítimas de maus-tratos no colégio, segundo informou ao Correio a mãe de um dos estudantes. As docentes eram responsáveis pelos cuidados com a classe e foram denunciadas por tortura.
A professora apontada como autora das agressões estava afastada da escola, por licença médica, desde as denúncias da família de uma das crianças à Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), em 14 de junho. A outra docente seguia lecionando na instituição, até a decisão do tribunal. Com a medida protetiva, as duas ficam impedidas de se aproximar da escola até o fim das investigações.
A violência foi registrada por iniciativa da mãe de uma das crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), que levou um tablet escondido na mochila e gravou a rotina de agressões sem o conhecimento da escola. A mãe Marina Valente diz que notou um comportamento estranho em seu filho de 11 anos e, por isso, decidiu fazer os registros.
“Meu filho tem dificuldade de comunicação, mas ele reproduz algumas falas. De repente ele começou a falar coisas como ‘menino chato’ e ‘vai ficar de castigo’. Ele puxava o próprio cabelo e falava ‘machucou’”, conta Marina, sobre os primeiros sinais emitidos pelo filho acerca da violência sofrida.
“Depois disso, ele começou a não querer ir para a escola e a se esconder. A gota d’água foi quando ele ouviu o barulho do ônibus escolar que o levava até lá e teve uma crise de pânico”, explica. A mãe diz que após a rotina de agressões o filho passou a se automutilar.
Violência
Segundo Marina, as gravações foram feitas durante quatro dias e, em 12 de junho, com a presença de todas as crianças em sala de aula, o comportamento das professoras ficou claro. “Nos áudios ela (a professora) grita, berra e hostiliza. Elas desqualificam a família para as crianças”, afirma.
De acordo com a mãe, as agressões sofridas, desde o início do ano letivo, causaram um impacto no desenvolvimento do filho. “Ele regrediu bastante, passou a fazer xixi e cocô nas roupas. Fazendo o acompanhamento dele nas lições, percebemos que ele não estava sabendo de nada e não pegava mais na caneta, como fazia no ano passado”, conta.
Nos áudios gravados por Marina é possível ouvir uma das professoras gritando com as crianças e fazendo ameaças: “você vai se ver comigo”. Em diversos momentos é possível ouvir os menores chorando.
Procurada pelo Correio, a Secretaria de Educação do Distrito Federal informou que o caso está sendo apurado pela Corregedoria, no âmbito administrativo. Em nota, a secretaria disse que “os fatos serão apurados em relação a todos os servidores envolvidos e que adotará todas as medidas cabíveis nos termos da Lei Complementar nº 840/2011”.
O TJDFT não informou o andamento do processo, porque, segundo a assessoria do Tribunal, ele corre em segredo de justiça.