"A lição pedagógica mais importante para nós é que, às vezes, para mudar uma realidade você precisa ter persistência", destaca o diretor sobre o processo. De acordo com ele, a alegria foi tanta que uma festa está sendo planejada para comemorar o rebatismo da escola. "A gente tem esses pais e mães que são muito engajados, que participam da escola, então foi uma festa", diz sobre as manifestações que chegaram presencialmente e por mensagens de whatsapp.
Para Neto, a luta pela mudança faz parte da construção do "tipo de conhecimento" que a escola propõe. "Você deixa de contar a história do ponto de vista do dominador e passa a contar do ponto de vista das pessoas simples do lugar".
"Pensei que era uma pessoa boa"
A mudança foi considerada bem-vinda entre os alunos. "Fiquei surpreso, porque pensei que era uma pessoa boa", disse Pedro Brito, aluno do 8º ano, quando foi informado a respeito da história do Infante Dom Henrique. "Se não é [uma pessoa boa], por que deixar o nome [na escola] e representar uma pessoa que é ruim?", questiona o jovem de 14 anos.
"A Carolina Maria de Jesus foi uma mulher muito forte", afirma, com uma ponta de orgulho, Emanuelly Ferreira, que tem 13 anos e também cursa o 8º ano.
Para a historiadora especialista em patrimônio cultural, Debora Neves, dificuldades como a enfrentada pela comunidade da escola Espaço de Bitita para conseguir a alteração do nome, tem a ver com "uma burocracia instrumentalizada que barra o avanço desses debates". Segundo ela, isso acontece "porque são temas que ainda estão muito presentes na nossa sociedade. Tem a ver com a dificuldade de a gente encarar o passado como ele efetivamente é. O nosso passado não é simpático, não é bonito".
No entanto, apesar dos obstáculos, Deborah acredita que movimentos como o que ocorreu no Canindé devem se multiplicar. "Esse é um processo que não vai ser interrompido, porque as pessoas estão cada vez mais se apropriando daquilo com que elas convivem no cotidiano e querem se sentir pertencentes a esses espaços", enfatiza.
O caminho percorrido pela comunidade na zona norte é, na avaliação da historiadora, o melhor trajeto para trabalhos como esse, começando pelo reconhecimento e debate. "De modo geral, as pessoas não sabem quem são os patronos dessas escolas, prédios públicos, de ruas. Então, o primeiro passo é justamente despertar essa curiosidade".
Estação Paulo Freire
Em maio, a Justiça de São Paulo impediu que o metrô mudasse o nome da futura Estação Paulo Freire, prevista para ser inaugurada em 2026 na Linha Verde, para Fernão Dias. O primeiro nome faz referência ao patrono da educação brasileira e o segundo a um bandeirante que viveu no século 17.
A empresa sustenta que a alteração foi feita após uma pesquisa de opinião. A estação ficará localizada na Avenida Paulo Freire, na zona leste paulistana.
Nesse caso, a historiadora vê o processo como insuficiente. "O processo participativo envolve discussão, debate, leituras, escutas, estudos. Enfim, não é só abrir um formulário e as pessoas votam sim ou não", destaca Deborah.