Não há dúvidas que educação inclusiva é um pilar fundamental para garantir que todas as crianças e jovens tenham acesso igualitário ao aprendizado. No entanto, quando se trata de crianças refugiadas, a inclusão, segundo especialistas, vai além da simples matrícula, exigindo a adoção de práticas pedagógicas que garantam sua permanência e participação plena nas escolas.
Neste sábado (17/6), especialistas e professores discutiram boas práticas que as escolas podem adotar para promover a inclusão de crianças e adolescentes refugiados, destacando a importância desse ambiente protetor de direitos e provedor de saberes. O tema foi destaque no Festival LED 2023, que ocorre este fim de semana no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro.
A conversa contou com a participação de Maria Beatriz Nogueira, chefe do escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) de São Paulo, e de Carolina Cuarez, pedagoga venezuelana. O bate-papo foi mediado pelo jornalista Pedro Bassan, da TV Globo.
Inclusão de crianças e adolescentes refugiados: uma responsabilidade educacional e social
Carolina Cuarez, pedagoga venezuelana, relatou no evento suas experiências de quando teve de se refugiar em território brasileiro. "Perdi tudo que tinha e vim para o Brasil com minha filha de 14 anos, deixando meu filho mais velho em casa. Fiquei com um coração dividido, partido. Quando eu cheguei, transformei o dinheiro e vi que não tinha nada.", relembra. "O pior foi botar minha vida numa mala, o que da sua vida você coloca numa mala de 20kg?" indaga a pedagoga.
Durante o relato, Carolina recorda do período de adaptação de sua filha às escolas brasileiras. "Quando coloquei ela na escola eu a perguntei: tá legal aqui no Brasil? E ela estava com a etiqueta de refugiado. Minha filha queria passar despercebida. Ela se incomodava muito com o rótulo, ela não queria voltar à escola.". Carolina afirma que, enquanto professora , percebeu que se as situações fossem invertidas, ela também não teria propriedade ou conhecimento para lidar com um adolescente estrangeiro e refugiado em sala de aula.
A presença de crianças refugiadas nas escolas é uma realidade global. Estima-se que elas representem cerca de metade das pessoas refugiadas no mundo, e muitas delas enfrentam dificuldades para acessar a educação. Segundo a chefe da Acnur, Maria Beatriz Nogueira, essas crianças têm duas vezes mais probabilidade de estar fora da escola em comparação com as nacionais. Ela afirma que, diante desse contexto, torna-se fundamental que as escolas assumam a responsabilidade de criar ambientes inclusivos que atendam às necessidades específicas desses estudantes. "Isso tem que ser mais falado e reconhecido para que a inserção de crianças refugiadas já esteja nas diretrizes das escolas para poder melhor incluir essas pessoas," diz. "Tem que estar presente em planejamento desde o nível federal até as estratégias de integração escolar. ", completa Maria Beatriz.
A importância da inclusão para a proteção de direitos e o desenvolvimento integral
Maria Beatriz aborda ainda a relevância da inclusão escolar na proteção dos direitos das crianças refugiadas. Ela afirma que a escola não apenas fornece acesso à educação, mas também é um espaço seguro onde essas crianças podem reconstruir suas vidas, estabelecer vínculos sociais e desenvolver habilidades essenciais para seu futuro.
" A matrícula escolar é o mecanismo que mais rapidamente íntegra toda a família à nova nação.", Conclui Beatriz.
Boas práticas para a inclusão de crianças e adolescentes refugiados:
A mesa compartilhou boas práticas que as escolas podem adotar para promover a inclusão de crianças e adolescentes refugiados.
1. Sensibilização e formação: Promover a sensibilização da comunidade escolar sobre a situação dos refugiados e oferecer capacitação aos professores para lidar com as necessidades específicas desses alunos.
2. Acolhimento e apoio emocional: Criar um ambiente acolhedor, onde os estudantes refugiados se sintam seguros e amparados emocionalmente, por meio do apoio de profissionais da área de psicologia e serviços de orientação.
3. Ensino da língua: Oferecer aulas de língua do país de acolhimento e/ou suporte linguístico para que os estudantes possam acompanhar as atividades acadêmicas.
4. Currículo inclusivo: Adaptar o currículo de forma a valorizar e integrar a diversidade cultural.
*A estagiária, sob supervisão de Thays Martins, viajou a convite da Fundação Roberto Marinho
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