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CENÁRIO EDUCACIONAL

Alfabetização no Brasil: realidade social da criança deve ser considerada

Especialistas abordam, em festival nacional de educação, o panorama da alfabetização no Brasil, a importância de uma abordagem mais ampla e seu impacto tanto no indivíduo quanto na sociedade

Alvo de investimento de mais de R$ 3 bilhões do governo federal até 2026, a alfabetização das crianças brasileiras é mais do que um objetivo, mas um alvo necessário para estancar o crescimento do abismo educacional, social e econômico que ocorre entre as classes baixa, média e alta no Brasil. A afirmação é das pedagogas Daniela Montuani e Simone Pereira e da professora Márcia Baldina, integrantes de um painel sobre o tema promovido nesta sexta-feira (16/6) no Festival Led — Luz na Educação, no Rio de Janeiro. 

O evento, promovido pela Fundação Roberto Marinho, reúne especialistas e ativistas pela educação para discutir a educação do futuro. Em painel mediado pela jornalista Sandra Annenberg, as pedagogas afirmam que a alfabetização é um dos pilares para garantir uma educação assertiva e transformadora e por isso deve ser priorizada pelo país. 

Doutora em educação e vice-diretora do Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita (Ceale/FaE/UFMG),  Daniela Montuani destacou que, apesar dos avanços, ainda enfrentamos desafios significativos, como altos índices de analfabetismo funcional e desigualdades socioeconômicas que afetam o acesso à educação de qualidade. Ela alerta para a urgência de uma alfabetização que vá além da decodificação das palavras e que considere a realidade social, cultural e emocional dos estudantes.

Márcia Baldini acrescenta que não existe método único quando se trata de alfabetização de crianças e adolescentes. "É necessário considerar a especificidade de cada região onde a criança está inserida", alerta. A professora também ressalta que é preciso lembrar que aprender a ler, escrever e interpretar é um direito de todo ser humano, independente da idade.

"A alfabetização e educação é um princípio educacional, um direito garantido a toda criança, jovem, adulto e idoso., é necessário manter um olhar atento e contínuo sobre a alfabetização, buscando sempre aprimorar as práticas educacionais e garantir que todos os estudantes tenham acesso igualitário a uma educação de qualidade", pontua.

Para chegar a esse patamar de acesso igualitário, é importante que a União tenha políticas públicas com subsídios financeiros e técnicos para fazer com que os municípios e estados brasileiros sigam o plano de alfabetização nacional. “Novas políticas de alfabetização são extremamente necessárias e as crianças precisam ser ouvidas e vistas.”, reforça Márcia. "Se nós queremos melhor qualidade no ensino fundamental e médio, até mesmo superior, é preciso investir em alfabetização para as crianças.", completa. 

Samara Bandeira - Sandra Annenberg mediou o debate que propôs caminhos para alcançar índices ideias na alfabetização do Brasil

Alfabetização: letramento e pensamento crítico também devem ser objetivos da prática

A alfabetização vai além da esfera individual e impacta diretamente a sociedade. Ao desenvolver habilidades de leitura crítica e pensamento reflexivo, os indivíduos se tornam agentes ativos na transformação social. A educação de base, quando abordada de maneira contextualizada e inclusiva, tem o potencial de romper ciclos de desigualdade e promover uma sociedade mais justa e acolhedora.

"É necessário inserir as crianças nas vivências culturais para que ela desenvolva pensamento crítico e seja agente se seu processo", afirma Simone Pereira.

A coordenadora pedagógica traz ainda uma visão aprofundada sobre o letramento como complemento à alfabetização. Ela destaca a necessidade de desenvolver habilidades de interpretação, análise e produção de textos, capacitando os estudantes a se tornarem leitores críticos e produtores de conhecimento.

Daniela Montuani ressalta a importância do papel do professor como mediador nesse processo, orientando e incentivando os alunos a explorarem diferentes fontes de informação. "Precisamos garantir que o professor entenda seu protagonismo para a criança.", afirma Montuani.

"É necessário termos políticas que pensem na educação e no professor e em como apoiar esse profissional. Se não houver uma integração de apoio ao professor, não teremos resultados positivos.", acrescenta Márcia.

*Estagiária sob supervisão de Talita de Souza

*A estagiária viajou a convite da Fundação Roberto Marinho