ARTIGO

Na onda da pandemia: a queda na alfabetização no Brasil

Quando as habilidades e as competências necessárias não são trabalhadas na idade correta, os alunos passam a ter dificuldades constantes e não conseguem absorver novos conteúdos

Sueli Pereira de Oliveira e Priscilla Martins Mazzetti*
postado em 21/06/2023 18:02
As educadoras Priscilla Martins Mazzetti e Sueli Pereira de Oliveira -  (crédito: Arquivo pessoal)
As educadoras Priscilla Martins Mazzetti e Sueli Pereira de Oliveira - (crédito: Arquivo pessoal)

Alfabetizar vai além do saber ler e escrever. É entender o mundo e isso muda o rumo de uma vida e de uma história. A alfabetização é o tal viajar sem sair de casa. É ir além da decodificação, e interpretar e entender, dando significado aos símbolos. Já alfabetizar e a ação de ensinar e de instruir alguém sobre o processo de ler e escrever.

Assim como a educação, a alfabetização é um direito de todos, seja criança, jovem ou adulto. Ela é um elemento essencial para o exercício da cidadania. Contudo, resultados recentes da pesquisa Alfabetiza Brasil, realizada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), revelam uma lacuna na educação nacional.

Em 2021, 56,4% dos estudantes do 2º ano do ensino fundamental não estavam alfabetizados. Os números nos chamam a atenção, sobretudo, quando comparados com dados de 2019, antes da pandemia da covid-19. Naquele período, o percentual de não alfabetizados era menor, 39,7%, enquanto que a taxa de alfabetizados ultrapassava os 60%.

O resultado é, sem dúvida, um reflexo e um impacto da pandemia. Com ela, tanto os profissionais da área da educação quanto a comunidade escolar tiveram que se adequar às novas realidades. Alunos e professores passaram a ter aulas virtuais. O que foi mais um desafio. Nem todas as escolas tinham estrutura para capacitar profissionais, nem todas as famílias tinham espaço, equipamentos e tempo para acompanhar as crianças que precisavam de suporte.

O cenário gerou uma aprendizagem comprometida. Na fase de alfabetização, os alunos precisam de acompanhamento e direcionamento de um adulto. Mas, na pandemia, os responsáveis também precisavam dos computadores para trabalhos em home office e também estavam se adaptando.

Os desafios da alfabetização

No Brasil, a alfabetização se dá entre os 6 e 7 anos. Sabemos que ela faz parte de um processo que se inicia na Educação Infantil. Quando as habilidades e as competências necessárias não são trabalhadas na idade correta, os alunos passam a ter dificuldades constantes e não conseguem absorver novos conteúdos apresentados, o que gera desmotivação e, possivelmente, contribui para a evasão escolar, reprovação e abandono escolar.

A partir disso, a escola e os professores exercem papeis importantes no processo de leitura e escrita, pois e dever da instituição de ensino oferecer ambiente e estrutura adequada, material proprio para a faixa etária e capacitação dos profissionais envolvidos na alfabetização. Pensar no desenvolvimento completo de cada aluno, planejar atividades, favorecer a ludicidade e o gosto pela leitura são papéis do corpo docente.

Reverter esse quadro é imperativo. E precisamos falar sobre alfabetização infantil em pleno 2023, pois a pandemia deixou marcas profundas no processo educacional do pais. E importante valorizar e investir cada vez mais nos profissionais da educação para que as crianças saibam ler e escrever na idade correta.

É preciso trabalhar a alfabetização de maneira integrada e entendendo todas as particularidades, a complexidade e a diversidade de realidades e contextos que existem no Brasil. Neste jogo, entram em campo todos os jogadores, reservas e titulares, governo, professores, orientadores, psicólogos, pais, responsáveis e alunos.

*Sueli Pereira de Oliveira é formada em teologia, pedagogia e psicopedagogia, com especialização em matemática para séries iniciais e coordenadora pedagógica do Colégio Objetivo-DF; Priscilla Martins Mazzetti é formada em pedagogia, com especialização em gestão escolar, pela Universidade Católica de Brasília (UCB) e assessora pedagógica do Colégio Objetivo-DF

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