A educação desempenha um papel fundamental no acesso, formação e desenvolvimento dos indivíduos e do próprio país, mas também é capaz de conduzir a nação para um futuro que perpetue desigualdades coletivas e individuais ou mude esse cenário de limitações. Para a escritora Elisa Lucinda, "o Brasil depende de uma revolução, que, para mim, é educacional".
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A declaração foi feita nesta sexta-feira (16/6) no Festival Led — Luz na Educação, promovido pela Fundação Roberto Marinho no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro. Lucinda acrescentou, ainda, que a educação é uma importante ferramenta de transformação social e que deve ir além da mera transmissão de conhecimentos, estimulando a criatividade, o pensamento crítico e a empatia. "A educação brasileira não valoriza o menino que é criativo, descolado, ela quer deixar todos iguais", critica.
A escritora participou de um painel sobre os desafios da educação brasileira junto ao diretor de políticas públicas da fundação Santillana, André Lázaro e da antropóloga e professora Lilia Schwarcz. A atriz e apresentadora Regina Cazé mediou o debate.
Entre os desafios apontados pelos especialistas estão a falta de consciência racial na direção das escolas, estrutura para instituições em regiões mais pobres, práticas capacitistas contra alunos com deficiência e a desvalorização dos professores.
André Lázaro enfatizou a importância de investir em políticas públicas eficazes que fortaleçam o sistema educacional para garantir uma educação de qualidade para todos os brasileiros. As ações garantirão um direito fundamental do ser humano e constitucional para o brasileiro: o acesso à educação. "É fundamental que a gente consiga oferecer para crianças, jovens e adultos os critérios para o acesso ao patrimônio da educação", reforça.
O currículo escolar também deve ser uma preocupação constante, ainda mais por não estar atualizado com demandas atuais, defende Lila Schwarcz. Para ela, é importante que o ensino considere a diversidade cultural e racial do país, valorizando as contribuições dos povos tradicionais e afrodescendentes. "Vivemos uma política do esquecimento das minorias, a escola precisa ter uma política de lembranças", destaca.
"Nós continuamos admirando bandidos e vilões da nossa história, que não foi escrita por nós", complementa Elisa Lucinda. Para Regina Cazé, a solução é apostar, cada vez mais, em construir uma educação que seja inclusiva, equitativa e capaz de promover a transformação social. "A gente precisa de uma escola e educação antirracista e anticapacitista. Quanto mais a gente misturar os saberes, mais rápido a gente avança", defende a atriz.
Transformação também deve focar em valorização dos professores
A sociedade como um todo desempenha um papel de relevância no processo de transformação socioeducacional, mas o papel do professor nesse contexto é imprescindível. Apesar disso, a desvalorização dos educadores cresce cada vez mais, ao passo que o número desses decresce, alerta André Lázaro.
De acordo com os palestrantes, os professores têm uma profissão multifacetada por lidar com diversos tipos de situações, mas, ainda assim, o descaso para com estes profissionais é recorrente. "É preciso urgentemente uma política salarial para os professores.", protesta Lilia.
"Eu tenho um sonho: que os professores sejam bem pagos e que nós tenhamos uma formação de professores preparados para diversidade e para o combate ao racismo, ao capacitismo, à LGBTfobia, ao etarismo e a todo tipo de desigualdade.", acrescenta a professora.
*Estagiária sob supervisão de Talita de Souza
*A estagiária viajou a convite da Fundação Roberto Marinho