Uma pequena estante de livros montada próximo ao banheiro do estacionamento 10 do Parque da Cidade, em Brasília, tem chamado a atenção dos frequentadores. Enquanto alguns param, olham para o acervo, selecionam um livro e levam para casa, outros abrem as mochilas e doam exemplares de obras que já leram. A ideia do projeto partiu do estudante Erique Sousa Vital, de apenas 11 anos, segundo ele, com o objetivo de fazer com que as pessoas leiam mais e possam contribuir com a leitura por meio da doação de livros. “Eu quero que qualquer um possa chegar, pegar um livro e ler. Se quiser levar para casa pode. E se quiser trazer um para outras pessoas lerem, pode também. Fico alegre ao saber que existem pessoas que gostam de ler e se aprofundar na leitura”, diz o garoto.
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Vital cursa o sexto ano do ensino fundamental e sempre visita o parque aos finais de semana, sempre junto com a tia, a comerciante de bolas de sabão Ana Maria de Sousa Santos.
Ele conta que a inspiração para a criação da mini biblioteca veio do “Seu Raí”, antigo frequentador do parque, conhecido como “Anjo da Guarda" do local, que morreu neste ano, vítima das complicações de um câncer.
“Seu Raí sempre trazia livros para doar e as pessoas logo se interessavam. Como o povo pegava os livros e saía lendo, pensei que daria certo com a minha biblioteca. Eu tinha muitos livros lá em casa que eu já tinha lido. Queria que mais pessoas pudessem ler e tive a ideia de doar. Minha tia pensou em trazer e deixar na frente da barraca para doar. Fiquei com medo deles molharem ou pegarem mofo com a chuva. Tive, então, a ideia de fazer uma biblioteca. A gente tinha um caixote lá em casa. Trouxemos para o parque e colocamos aqui. Depois, achamos esse armarinho e trouxemos para cá também”, conta o estudante.
Vital mora com a mãe, a dona de casa Flaviana de Souza Santos, 37, e seus dois irmãos, na Ceilândia Norte. O sonho dele é estudar direito ou ingressar em alguma corporação policial "para defender as mulheres da família". "Queria ser ou policial ou advogado porque eu sempre vejo a minha família precisando", relata.
Com a ausência do pai biológico, a tia de Vital assumiu o papel de segunda mãe. “Me considero a segunda mãe do Erique. Ele é um garoto super inteligente e super carinhoso. Fico muito feliz em saber que ele se interessa pela leitura e tem sonhos. A preocupação dele em não molhar os livros chamou muito a minha atenção. Todo sábado e domingo, quando eu trago ele para o parque, ele vai lá, em sua pequena livraria, para organizar tudo”, revela Ana Maria.
A mãe do menino conta, ainda, que durante a pandemia eles dividiram o único celular da família e muitas vezes não conseguia atender às demandas. “Ele tentava estudar no meu celular, mas vivia travando. Foi uma dificuldade imensa. Vejo ele muito motivado com a tecnologia. Vive assistindo vídeos sobre esse assunto. A gente não passa dificuldades, não falta o que comer, mas não temos condições de comprar um objeto caro desse. Meu sonho é dar um celular para ele”, diz.
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