A evasão escolar afeta diretamente a geração de renda. Essa é a conclusão do estudo Combate à evasão no Ensino Médio: desafios e oportunidades, realizado pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan Sesi), em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud).
A pesquisa indica que se a taxa de conclusão do ensino médio entre os jovens mais vulneráveis estivesse em 84%, haveria uma economia de R$ 111 bilhões por ano nos cofres públicos. Caso o Brasil alcançasse a taxa do Chile (93,4%), esse ganho econômico seria de R$ 135 bilhões. Atualmente, apenas 46% de brasileiros mais pobres concluem o ensino médio.
Segundo a consultora em educação, técnica e coordenadora da pesquisa, Andrea Marinho, o jovem que não conclui a escola tem maior dificuldade de se colocar no mercado de trabalho. E isso pressiona os serviços do Estado voltados para atender a população mais vulnerável, como segurança, saúde e benefícios sociais.
"O jovem que não tem ensino médio tem mais dificuldade de se colocar no mercado de trabalho, de conseguir emprego formal. E quando consegue, ganha um salário menor. Além disso, tem expectativa de vida menor. Tende a ter problemas de saúde, acaba usando mais o sistema de saúde. É óbvio que o jovem mais vulnerável fica mais suscetível às questões de criminalidade. O que vivemos hoje é um mundo em constante mudança, e a economia depende de como esse mundo do trabalho se organiza", afirma a especialista.
Os valores apontados no estudo revelam o drama de uma geração que é obrigada a ficar sob a tutela do Estado para sobreviver. Essa dependência impacta em custos com benefícios sociais, com habitação ou com os investimentos em saúde que passarão a ser "curativos", ou reparadores.
"O ensino médio é um momento em que o jovem passa da juventude para a vida adulta, do mundo da escola para o do trabalho, quando tem uma educação básica de mais qualidade tem condições de fazer melhores escolhas, de se adaptar melhor. Portanto, está mais preparado para buscar uma qualificação profissional que permita mais opções", argumenta Andrea Marinho. "A evasão escolar não só acomete os jovens mais pobres, mas também perpetua a desigualdade social, porque, se não tem uma educação, não tem base para o exercício pleno da sua cidadania, nem para constituição de uma carreira", acrescenta.
Por isso, a pesquisadora ressalta a importância de o governo priorizar a redução do abandono escolar, que se tornou uma questão estruturante. A pesquisa identifica fatores críticos nessa realidade: baixa aprendizagem; alto índice de repetência; necessidade de criar ambientes estimulantes; ausência de currículo escolar interessante, que dialogue com os alunos; reforço do apoio à gestão escolar, à formação e à valorização dos professores.
"Se o aluno não tem na escola um ambiente favorável ao seu desenvolvimento, que seja atraente, ele não se convence, no projeto de vida, de que as questões educacionais fazem parte do caminho. O jovem passa a se atrair pelas coisas cotidianas, que normalmente é a geração de renda. A vida real grita para a necessidade de renda, por uma questão de sobrevivência", observa a especialista.
Andrea Marinho salienta, ainda, a necessidade de se levar em conta os pontos específicos de cada localidade. "É preciso fornecer aos gestores públicos um conjunto de alternativas para que possam adaptar a cada realidade local um conjunto de soluções", aponta a coordenadora.
Governo quer ouvir 100 mil
O Ministério da Educação (MEC) começará, em 8 de maio, a ouvir 100 mil estudantes e professores sobre o novo ensino médio com uma pesquisa feita por meio do WhatsApp. As pessoas selecionadas para a pesquisa por um instituto receberão um QR code pelo aplicativo de mensagens para participar. A população em geral também poderá opinar sobre a reforma a partir de 24 de abril na plataforma Participa Brasil, pela internet.
"Queremos evitar a polarização e um discurso plebiscitário. O que queremos é uma participação de qualidade, com proposições, situações reais que nos direcione para medidas com relação a implantação, alguma alteração no desenho do currículo", disse a secretária executiva do MEC, Izolda Cela, ao participar do evento Educação Já do Todos Pela Educação, em Brasília.
Ela ouviu professores da plateia falar das dificuldades com o novo ensino médio. A decisão de suspender, por meio de uma portaria, o cronograma da reforma causou muita controvérsia. Além das pesquisas, o governo pretende divulgar, no fim do mês, um calendário com reuniões sobre o tema com entidades representativas de estudantes, professores e especialistas, on-line e presenciais.
Segundo Izolda, a pesquisa pelo WhatsApp deverá ser finalizada apenas em julho, portanto após o período de 90 dias estipulado para a consulta pública sobre o assunto no MEC. "Não vejo problema em prorrogar, desde que as coisas já estejam acontecendo", afirmou.
"Pelo amor de Deus, não levem esse assunto para o Supremo, isso tem que ser decidido por educadores", disse o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, presente no evento. Segundo ele, o novo ensino médio "parece um avanço". E "pior que um modelo ideal é um modelo que nunca se consolida". Para Barroso, as políticas educacionais precisam ter continuidade.