Em um cenário de insegurança escolar promovido por ataques e ameaças de massacres, um projeto do Distrito Federal que promove atividades em instituições públicas de ensino foi reconhecido nacionalmente como uma iniciativa inovadora e essencial para a educação brasileira.
O Jovens Líderes pela Paz é o único finalista brasiliense do Prêmio do Movimento Led, promovido pela Fundação Roberto Marinho, e concorre a um aporte financeiro de R$ 200 mil para ampliar as ações. A história do projeto ocupará as telas da TV Globo no horário nobre nesta quarta-feira (26/4), após a novela Travessia, no Especial LED, apresentado por Regina Casé.
Após a história ser apresentada, a jornalista Maju Coutinho, madrinha do Jovens Líderes, defenderá o projeto diante dos jurados. Ela será responsável por mostrar o potencial e como o projeto usará o prêmio para ampliar a atuação e auxiliar mais jovens a terem caminhos diferentes por meio da educação. Entre os juízes do prêmio Led, estão Pedro Bial, Taís Araújo e Marcelo Adnet.
O co-fundador do projeto, Eduardo Vasconcelos, conta que a expectativa para o programa e para o resultado do prêmio é grande. “Estamos concorrendo ao maior prêmio de educação no Brasil hoje e se a gente ganhar, vamos levar R$ 200 mil para a educação pública do DF”, diz animado o estudante de gestão e políticas públicas da Universidade de Harvard.
“Não estou conseguindo segurar a emoção e nem acreditar que é verdade. A gente se dedica tanto pelo Jovens Líderes pela Paz, pelas nossas escolas públicas do DF e a gente nunca imaginou que teríamos a oportunidade de contar sobre o que a gente faz”, acrescenta emocionado.
Em busca de embaixadores da paz
Idealizado por Eduardo e as irmãs Isabela e Isadora Rodrigues, o projeto chegou às escolas do DF no segundo semestre de 2022, com o objetivo principal de promover a paz em escolas com grau severo de violência ou vulnerabilidade social. Hoje, são mais de 60 voluntários para auxiliar na implementação nas escolas e centenas de professores que já auxiliaram no aprimoramento do programa.
“Formamos os alunos da escola como Embaixadores da paz, que a gente chama de Jovens Líderes pela paz. Têm escolas com 20 líderes, outras que chegam até 60 jovens. Esses alunos passam por uma formação com a gente para se tornar um promotor da paz”, diz Eduardo ao definir o projeto.
Foi Eduardo quem teve a ideia inicial de fazer algo para mudar o cenário de insegurança que a escola pública vive nos últimos anos. “Na verdade, nós três vivemos a violência escolar de perto, essa é a realidade no Brasil. Brigas nunca faltaram quando estávamos lá, vi vários amigos próximos seguirem caminhos ruins, um caminho de tráfico e violência”, relata. Eduardo é ex-aluno do Colégio Militar de Brasília e Isabela e Isadora estudaram no CED 16 de Ceilândia.
Em 2022, ao observar uma piora no cenário de violência, Eduardo decidiu fazer algo pelo ensino público no qual estudou e pelos estudantes do DF. Com o plano de oferecer suporte psicológico e entrosamento na comunidade escolar, ele “bateu na porta da Secretaria de Educação do DF”, em maio de 2022, durante as férias da Universidade, e falou sobre o desejo de implementar um projeto que diminuisse a violência nas escolas.
“Eu disse ‘olha acho que temos que tentar uma coisa diferente’. Nada tinha sido proposto ainda que envolvesse os alunos a trabalhar a saúde mental dos alunos, a evasão escolar, a comunicação não violenta. E foi muito importante fazer essa parceria com a Secretaria”, pontua.
Apoiados pela Comissão da Paz da Secretaria, o trio passou a finalizar o conteúdo do programa. “Desse encontro, começamos a finalizar o desenho do projeto, que começamos em março, e de maio a julho conversamos com centenas de professores entendendo como funcionaria a ideia nas escolas e colhendo muitas sugestões, em uma construção democrática do projeto”, lembra.
Suporte psicológico e busca de alunos faltantes: o projeto na prática
Com a ideia pronta, um colégio de Santa Maria foi o primeiro a receber a versão piloto do projeto. Assim como nas demais escolas que receberam o programa nos meses seguintes, a instituição foi acompanhada passo a passo na implementação pela equipe de voluntários. A primeira etapa é apresentar o projeto para a comunidade escolar e o corpo docente. Em seguida, os próprios alunos escolhem os Jovens Líderes da Paz da escola.
“Esses alunos escolhidos aprendem sobre as cinco atividades que eles têm que tocar nas escolas e aprendem também a como trabalhar com a gestão com os professores para que essas atividades sejam implementadas — essa formação acontece por um dia todo”, conta.
Depois, o grupo de Jovens Líderes começa a desenvolver as atividades, que vão desde a conscientização por uma comunicação não violenta, baseada no conteúdo do Caderno de Convivência Escolar, produzido pela Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEEDF), até a busca ativa de alunos que não vão às aulas há, pelo menos, cinco dias.
“A busca ativa é uma atividade para de fato evitarmos que os alunos desistam da educação. Ela é uma atividade muito inovadora, porque no Brasil inteiro a busca ativa é feita pelos professores ou pelos gestores e o que a gente faz é os alunos mandam mensagem para os seus colegas que estão faltando aula dizendo estamos sentindo a sua falta — o nome dessa atividade é você faz falta”, explica.
Uma semana de debates e conscientização sobre saúde mental também é prevista no projeto. “São promovidas palestras com psicólogos, distribuição de materiais da Unicef e de contatos de psicólogos gratuitos para que os alunos procurem ajuda. Atividades de valorização da vida e prevenção do suicídio também são realizadas”, conta Eduardo.
Além disso, há a instalação de “clubes de interesse”, como Clube de leitura, de hip-hop, dança e até TikTok. “A ideia é fazer com que os estudantes se envolvam com suas paixões e interesses na escola, motivando-os para o estudo”, explica Eduardo.
O mesmo ocorre com o Mural das Oportunidades, no qual são inseridas notícias que mostram como é possível um futuro por meio da educação. Apesar do protagonismo do estudante, o projeto prevê a inclusão e harmonia do corpo estudantil com os docentes: desde a implementação, o programa não é desenvolvido sem o olhar cuidadoso dos professores, que moldam as atividades para a escola em que atuam e dão suporte para os Jovens Líderes em cada etapa.
Valor do prêmio levará projeto para o nível nacional e promoverá melhorias no DF
Os co-fundadores do projeto já têm o plano traçado de como gastariam o prêmio — se forem um dos escolhidos da categoria em que concorrem, a Estudantes. “Vamos abrir o projeto em outros estados do Brasil, queremos Jovens Líderes da Paz no Brasil inteiro”, começa Eduardo.
O trio também planeja viabilizar um transporte particular do projeto para os voluntários que se movimentam entre as escolas que recebem o programa. “Hoje nossos voluntários pegam até três ônibus para chegar em uma escolar, um trajeto que dura duas, três, quatro horas. Então nosso intuito é dar um transporte digno para eles”, acrescenta.
O último investimento do prêmio seria para promover alternativas para saciar a fome dos Jovens Líderes e de outros alunos. “São muitos os estudantes no Distrito Federal que estão passando fome só tem o que comer na escola, a merenda da escola. E isso acontece em quase todas as escolas em que nós atuamos. Como é que a gente quer que os nossos alunos sejam líderes pela paz de barriga vazia. Não tem como, né?”, considera Eduardo.
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