Alunos da educação básica da Escola Classe 1 da Estrutural — uma das regiões mais pobres do DF —, tiveram na tarde desta terça-feira (18) o primeiro contato com a sétima arte, por meio de uma ação da professora Cinthia Cortes, 29 anos, que arrecadou cerca de 300 ingressos para o longa de animação Super Mário Bros - O Filme.
A professora, que cumpre contrato temporário na Secretaria de Estado da Educação, ficou conhecida na comunidade por ações similares, como a realizada no final do ano passado, quando possibilitou à sua turma uma grande festa regada a sanduíches do McDonalds, e de uma festa de Natal no ano anterior, com a arrecadação de presentes, de bicicletas a tablets e pipas, por meio de cartinhas escritas para o Papai Noel.
A ação desta terça, afirma, foi ainda mais repleta de magia e encantamento. “Foi surreal, incrível. Nunca vi tanta gritaria e alvoroço. Chorei de emoção”, conta Cinthia. Segundo ela, os ingressos foram doados pela empresa LedMe, atendendo a uma solicitação da amiga Suyane Maia, dona da página do Instagram Perdidos no Multiverso, especializada em estreias de filmes, animes e games.
“O dono dessa empresa tinha um lote de ingressos para distribuir entre seus clientes e topou participar da ação, doando tudo para a escola”, disse Cinthia, calculando que a economia gerada foi da ordem de R$ 8 mil só em ingressos. A administração do shopping Pier 21, onde o filme foi exibido, também colaborou, doando pipoca e refrigerante para toda a meninada.
Ela conta, ainda, que além do frenesi vivido durante pouco mais de uma hora e meia de exibição do filme, os alunos foram arrebatados pelas instalações do shopping, principalmente dos banheiros. “Foi a maior festa para eles usar o secador de mãos com ar quente. Para quem sequer entrou em um shopping de luxo, ter tido contato com esse tipo de equipamento, pela primeira vez na vida, foi coisa de outro mundo”, destacou.
O conforto da sala do Cinemark, prossegue a professora, foi outro capítulo a parte. “Tudo para eles foi novidade, desde o tamanho da tela, para muitos uma 'televisãozona', até as cadeiras reclináveis, que compararam a 'cama de avião'”, lembra, projetando que pelo menos mais de 70% das crianças jamais havia entrado em uma sala de cinema.
A magia do cinema, diz a professora, despertou reações de toda ordem entre os alunos. “Teve os que alimentaram a expectativa dos personagens saírem da tela, se materializar, conversar com eles, e ainda os que choraram muito quando o filme acabou, querendo que a história continuasse”, destaca a educadora, que pretende prosseguir levando outras formas de arte para os alunos da Escola Classe 1.
A meta, adianta ela, é proporcionar a toda a escola a oportunidade de assistir a espetáculos teatrais e musicais. “Quem sabe alguma orquestra, um grupo de teatro, uma trupe circense não se habilita e compartilhe conosco essas metas, que podem mudar radicalmente a vida de muitos alunos”, sonha a professora.
Até a Polícia Militar do DF participou do projeto e garantiu a segurança dos ônibus até o cinema e no retorno para a escola. “Cerca de dez viaturas foram mobilizadas para o acontecimento”, relatou a professora. “Foi uma forma de prevenção, diante de tantos ataques a escolas e a estudantes, fatos deploráveis que, infelizmente, acompanhamos quase que diariamente no país”, completou.