A diversidade e a pluralidade regional marcaram a primeira edição do Desafio Liga Jovem, maior competição brasileira de empreendedorismo e tecnologia voltada a estudantes do nono ano do ensino fundamental ao terceiro do ensino médio. Os grandes vencedores foram anunciados nesta sexta-feira (24), durante o encerramento do Bossa Summit 2023, mega evento para investidores e startups do Brasil. Alunos do Rio de Janeiro, São Paulo, Maceió e Rio Grande do Sul se destacaram na competição promovida pelo Sebrae e Instituto Ideias de Futuro, que mobilizou 5 mil participantes e o envio de 1.200 projetos. Das 21 que chegaram à grande final, seis que obtiveram as maiores pontuações foram premiadas por se destacarem, diante dos jurados especialistas, pelo empreendedorismo criativo, sustentável e com alcance social.
Os estudantes - 75% de escolas públicas, a maioria de cidades do interior - foram desafiados a defender seus projetos junto a bancas de jurados especialistas nas áreas de empreendedorismo, tecnologia, educação e comunicação. Foram dez bancas de avaliação, nas semifinais e duas bancas para a final, até o resultado. Entre as equipes vencedoras apenas duas são de alunos de escolas particulares, uma, de São José dos Campos (SP) e outra de Maceió (AL). Todos os integrantes de cada equipe, incluindo os professores orientadores, ganharam troféu, certificado, kit viagem e, "de quebra", uma viagem, ou melhor, uma missão de dez dias para Madri, onde terão contato com grandes empresas de tecnologia e trocarão experiências.
As equipes vencedoras do Desafio Liga Jovem 2022/23 foram Callíope, do Colégio Marista Maceió, que apresentou um app de cuidados e orientações sobre o espectro autista, por meio da gameficação, para auxiliar crianças atípicas não verbais a desenvolver a comunicação e aprender coisas novas; a equipe Hera, da Escola Técnica Juscelino Kubitschek, do Rio de Janeiro, com uma plataforma digital para artistas migrantes e refugiados passarem a vender sua arte em formato de NFTs; a PD, do Colégio Técnico de Campinas Unicamp, com aplicativo voltado aos cuidados paliativos a idosos, possibilitando a contratação de cuidadores para realização de tarefas básicas e homecare.
Foram também laureadas as iniciativas Opennova, do Instituto Federal do Rio de Janeiro - de São Gonçalo -, que criou um aplicativo de linhas de crédito focado em atrair a atenção da Geração Z, priorizando a venda para influenciadores digitais; a equipe OpenNova, com projeto que facilita e barateia a tomada de empréstimo por meio de Open Finance e disponibiliza o Crowdinvesting - uma espécie de vaquinha remunerada para levantar recursos pensada em influciadores digitais; a Garotas de Vermelho, da Escola Municipal Saint-Hilaire, de Porto Alegre (RS), com o projeto que propõe dignidade menstrual, voltado a jovens em vulnerabilidade socioeconômica; e a do Colégio Poliedro, de São José dos Campos (SP), com o Curativo Bio, protótipo de um curativo biodegradável feito com elementos químicos que não poluem o meio ambiente e 0% plástico em sua na composição.
Orientador da equipe Curativo Bio, o coordenador de projetos do Poliedro, Thiago Pavan, conta que a maturação do projeto envolveu dedicação total dos alunos durante os dois últimos anos. "Chamou a atenção nesse processo o empenho, a garra e a resiliência da equipe. O grande diferencial, sem dúvida, foi o protagonismo de todos", disse. Cursando o terceiro ano do ensino médio, Ana Luíza Mazzeo, 17, fará agora sua primeira viagem internacional. "Nos empenhamos muito e agora veio esse reconhecimento, que será ainda mais grandioso com essa viagem que consideramos de formatura", comemora.
Representante da equipe PD, do Colégio Técnico de Campinas Unicamp, Nicolas Militão Ivotto, 17, do 3º ano do ensino médio, atribui o reconhecimento ao esforço e trabalho de equipe. "Esse evento é de extrema importância para todos. Crescemos bastante com esse novo formato de aprendizado", disse. Larissa Ferreira da Silva, 17, lembra que a ideia do projeto partiu do colega Thales, que abrigou em sua casa um grupo de mulheres venezuelanas refugiadas. A coordenadora Ana Letícia Andrade destaca que a ideia surgiu durante o período de isolamento imposto pela pandemia de covid-19 e que, no final do ano passado, deu o ultimato para a equipe se inscrever no Desafio Liga Jovem.
"Somos de escola pública, sem recursos, o que torna esse prêmio ainda mais especial", frisou a professora orientadora, destacando ainda o empenho dos participantes, que fizeram mais de 70 entrevistas com refugiados. "É um projeto que envolve o aprender sobre pessoas", resume.
Emocionado e realizado ao mesmo templo, o estudante José Vieira de Assis, 18, revelou pretender retornar de Madri com ainda mais garra e foco e também com o espanhol afiado. "Obter conhecimento e viver novas experiências nunca é demais para quem sonha alto", disse.
Não menos emocionada, a estudante Ana Clara Lopes, 18, da equipe Callíope, destacou o empenho de toda a equipe. “Foi uma caminhada difícil, mas valeu muito a pena ver nosso projeto ser avaliado e elogiado por tantos profissionais incríveis”, disse, revelando que Investidores já demonstraram interesse de investir no projeto de sua equipe. “Vamos para frente, sem jamais desistir”, garante a integrante da equipe 100% feminina.
Expectativas superadas
A gestora do Desafio Liga Jovem do Sebrae, Eliane Novetti, finaliza os acertos para a próxima edição, que deverá ter a grande final em julho de 2024, revista e ampliada. Segundo ela, a meta é ampliar a realização das etapas estaduais e regionais para atrair ainda mais estudantes. "Nesta edição foram mais de 5 mil participantes e 1.200 projetos enviados. Para próxima, a ordem é dobrar, triplicar, chegar a 3 mil projetos de 15 mil participantes", adianta Novetti.
Para ela, o evento superou todas as expectativas e surpreendeu, sobretudo, pela qualidade dos trabalhos apresentados. "Foi emocionante, surpreendente, desde o número de participantes à qualidade dos trabalhos, a imersão de cada aluno no processo. Foi de fato, edificante observar a responsabilidade, a coragem desses jovens, muitos que saíram de casa pela primeira vez em uma viagem distante para dar a cara a tapa em um evento desse porte. Provaram que estão prontos para encarar qualquer desafio, em qualquer lugar do mundo”, afirma.
Oswaldo Cruz corrobora a sensação de otimismo e realização manifestadas por Novetti, também reconhecendo o empreendedorismo dos estudantes, observado nas propostas apresentadas durante a competição. "São grandes promessas, com potencial de transformar a vida deles, de suas famílias e de toda a comunidade", disse, destacando, ainda, que o evento impactou muitos alunos que tiveram oportunidade de fazer novos e importantes contatos e até mesmo garantir financiamento de curso superior. "Eles furaram bolhas, impactaram, ampliaram a visão de mundo, e isso nos enche de orgulho. Para muito além da premiação, eles criaram conexões fortes, que farão grande diferença em suas vidas", disse. "Acompanhamos a evolução dos projetos e observamos o crescimento deles em cada etapa", completou, frisando que pelo menos 75% dos participantes no Desafio deste ano são estudantes da rede pública.
Bossa Sumit
A segunda edição do Bossa Summit, evento voltado a gerar negócios entre investidores, startups e corporações, realizado pela Bossanova Investimentos, venture capital mais ativa da América Latina, feuniu nos dias 23 e 24 deste mês mais de 6 mil pessoas de várias regiões do país, que circularam pelos cinco palcos e mais de 450 estandes montados no Expo Center Transamérica, em São Paulo.
Desta vez, o público teve a oportunidade de assistir a 50 palestras com vozes influentes do mercado brasileiro, que falaram sobre gestão, empreendedorismo, inovação e investimentos. Participaram especialistas como Bruno Stefani, diretor global de inovação da Ambev; Fernanda Caloi, diretora da Latitud, e Reynaldo Gama, diretor da Ânima Ventures, além de grandes influenciadores de finanças e empreendedorismo, como Carol Paiffer, Thiago Nigro, Nathalia Arcuri, Joel Jota e Janguiê Diniz.
“Chegaram até mim tanto empreendedores como investidores com dúvidas sobre como se relacionar entre si, e eu não via esse matchmaking sendo nos eventos do setor", explica João Kepler, CEO e fundador da Bossanova Investimentos. "Com nossa experiência no mercado, notamos que esse era o momento ideal para concentrar esforços em desenvolver e manter um evento deste porte. Queremos ser a ponte entre os melhores nomes e ideias para mudarmos o jeito de fazer negócios no Brasil e, no futuro, na América Latina”, finaliza o CEO.
*O jornalista viajou a convite do Instituto Ideias de Futuro