Estudantes da rede pública se reuniram na Esplanada, na manhã desta quarta-feira (15), para reivindicar a revogação do Novo Ensino Médio. O ato foi convocado pela União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) e pela União Nacional dos Estudantes (UNE), e contou com a participação de movimentos estudantis e do Sindicato dos Professores da Rede Pública (Sinpro-DF). A concentração começou por volta das 9h em frente ao Museu Nacional da República.
O protesto ocorre de forma pacífica. Depois de uma hora de concentração, o grupo de estudantes saiu em passeata rumo ao Congresso Nacional por volta de 10h. A polícia bloqueou duas pistas da via S1. Não houve registro de confronto entre os participantes e a polícia.
O diretor de assistência estudantil da UNE, Victor Carvalho, 25 anos, acredita que o novo ensino médio prejudica não apenas os alunos da rede pública, como os estudantes de licenciatura nas universidades. "Esses estudantes hoje saem das universidades sem uma perspectiva de como irão ingressar no mercado de trabalho, como atuarão nas salas de aula devido às disciplinas eletivas", destaca. Para Victor, o único caminho é a revogação do modelo, em vez de uma reformulação.
"Na avaliação das entidades e dos movimentos estudantis, não há como se falar em reformulação, porque o novo ensino médio impede que os estudantes tenham acesso a uma formação de qualidade e à ciência dentro da sala de aula. Por isso, é importante revogar e discutir com os estudantes, a partir disso, o que nós queremos para as escolas hoje", argumenta o dirigente da UNE.
Para a estudante de ciências sociais (licenciatura) Sofia Cartaxo, 19, militante do Levante Popular da Juventude, o novo modelo do ensino médio tem prejudicado cada vez mais a formação dos jovens. "O novo ensino médio dificulta a formação de futuros professores e prejudica o acesso à universidade, além de aumentar a distância entre o ensino público e o ensino privado", afirma. Sofia, que já foi aluna de escola pública, avalia que o modelo foi imposto de forma antidemocrática, sem consulta prévia aos professores e à comunidade escolar.
Os participantes gritavam palavras de ordem, como "Um, dois, três, quatro, cinco mil, revoga a reforma ou paramos o Brasil", "Nas ruas, nas praças, quem disse que sumiu? Aqui está presente o movimento estudantil" e "Pobre formado derrubado o estado". De acordo com estimativa do comando da Polícia Federal, 400 pessoas estiveram presentes no protesto, além de 250 policiais e bombeiros. Segundo os organizadores do ato, a estimativa foi de 500 participantes. Os estudantes começaram a se dispersar por volta de 11h.
A pedagoga Izabel Cristina Alves de Sousa, 48, e mãe de um estudante do ensino médio conta que não houve uma comunicação com os pais sobre como seria feita a implementação do novo ensino médio. "Até agora, meu filho não conseguiu entender de fato o que ele vai escolher e como funciona o modelo. Não senti, como mãe, se esses conteúdos serão determinantes para o desenvolvimento dele. Espero que seja revogado e que possamos discutir os conteúdos, porque é o futuro de uma juventude que está em jogo", argumenta.
A diretora e coordenadora da secretaria de imprensa do Sinpro-DF Letícia Montandon, 45, também reforça a falta de diálogo na execução do novo ensino médio. Ela lembra que a medida surgiu de maneira provisória ainda no governo Temer. "O ensino médio de fato precisa passar por mudanças, mas isso precisa ser construído junto aos estudantes, professores e a sociedade. As disciplinas mais fundamentais para o conhecimento global ficam em segundo plano. Enquanto escola pública, reivindicamos um ensino global, um ensino que possa de fato contribuir para que esses jovens se tornem cidadãos", reforça.
Letícia observa que o novo ensino médio é muito voltado para a "mercantilização da educação" e que os professores estão perdendo os postos de trabalho. "Pelo fato de ter sido imposto, muitos professores não conseguem, ainda, trabalhar com esse novo modelo, já que não passaram por uma preparação prévia. Esses profissionais são desvalorizados, já que precisam assumir itinerários formativos que não são ligados à sua formação acadêmica", defende.
O deputado federal Glauber Braga (Psol) também participou da manifestação. Disse ser fundamental que a revogação do novo modelo. "Além disso, é importante que consigamos demonstrar ao Ministério da Educação que a mobilização que está sendo tocada na ruas é para ajudar a educação pública brasileira contra esse desmonte que vem sendo promovido até então", ressalta.