Eu, Estudante

A HORA É DE REVISÃO

Pedagoga e gestora de educação analisa o resultado do Censo Escolar 2022

Jocimara Roesler afirma que as taxas que mostram a volta de crianças e jovens para a escola depois da pandemia representam uma clara aposta da sociedade na aprendizagem

“O aumento do número de matrículas na educação básica é uma ótima oportunidade para as instituições apostarem nos recursos tecnológicos e nas metodologias ativas, que atraem a atenção e o interesse do aluno para o aprendizado. É uma chance para o resgate da educação”, é o que destaca a pedagoga e gestora de educação, Jucimara Roesler.

Segundo ela, os índices que mostram a volta do crescimento de crianças e jovens à escola representam uma clara aposta da sociedade no aprendizado. "É como se fosse um resgate. Para o desenvolvimento social do país é um alívio. Para a escola, uma alegria e oportunidade de engajar o aluno, considerando as profundas transformações que impactaram profundamente o aprendizado de crianças e de adolescentes e até impulsionaram a evasão escolar", diz ela.

"É um retorno da sociedade para as instituições de ensino, uma chance para que as escolas tragam novas soluções e digam ao aluno que as instituições tem procurado entender, acolher e se organizar para conseguir atender às demandas dessa geração em todos os níveis: social, emocional, tecnológico, pedagógico e metodológico", prossegue Jucimara, que nessa retomada do ensino básico destaca alguns pontos que merecem atenção.


O que é imprescindível nesse momento de retomada para que uma escola possa oferecer uma educação de qualidade?

É necessário que haja mudança de atitude, mudança de modelo. O estudante vinha de um modelo focado em metodologias tradicionais e, da noite para o dia, houve uma ruptura radical na forma de aprender. O aluno voltou para a escola, mas a escola não se reinventou. A desmotivação e a ansiedade tomaram conta desses alunos de forma nítida.

Somado a isso, as crianças lidam com inteligência artificial. A escola precisa encontrar um caminho de recriação de suas práticas, pois é mais atrativo aprender na internet, com vídeos, no chatGPT [algoritmo baseado em inteligência artificial]. A cultura é digital, mas não vale só incorporar o celular e o tablet na rotina da escola, é preciso utilizar essas ferramentas de forma ativa e interdisciplinar na linguagem didática, em um modelo psicopedagógico que faça sentido para o aluno e para as disciplinas essenciais. A esses alunos deve-se, ainda, apresentar a possibilidade de escolher e montar sua grade curricular. Enfim, a tecnologia é essencial, mas ela por si só não mantém o aluno motivado a aprender. É necessário que as aulas mostrem um propósito que impacte de forma direta na vida desse aluno, considerando sua realidade e a realidade do seu entorno, seu bairro, comunidade, cidade.

Quais os caminhos de recuperação desses alunos após as lacunas deixadas pela pandemia?

É hora de ouvir para entender os déficits de aprendizagem dos alunos. A participação, protagonismo e a personalização são decisivas agora. O aluno não quer mais ser um ouvinte, ele quer colocar a mão na massa. A mudança na forma de ensinar é uma questão urgente que precisa ser praticada pela escola. Aprender é oferecer uma experiência que encante os alunos. A escola precisa se perguntar: por que, na visão dos alunos, estudar é chato? O que tornaria as aulas mais encantadoras?

Arquivo Pessoal - .

O que os pais mais devem monitorar?

Os pais precisam acompanhar, logo no inicio, quais as dificuldades de aprendizagem que seus filhos enfrentam. Afinal, aprender é sempre um exercício de parceria entre família e escola. Por exemplo, uma dificuldade inicial em matemática, se não for percebida no começo pode se tornar um grande problema crônico de aprendizado. Identificou o problema, vale muito apostar na aula de reforço, seja em casa ou na escola. As crianças têm uma capacidade incrível, mas precisam que o professor e os pais não entrem no ano letivo no piloto automático. Elas precisam de um suporte atento. Para retomar estes dois anos em que viveram um fenômeno que ficará marcado em suas vidas, é necessário observar para depois agir.

E na escola pública, como ficam os déficits de aprendizagem?

Muitas escolas públicas não conseguiram implementar o ensino remoto. Esses dois anos passaram em branco na vida de muitas crianças brasileiras, o que é um ponto muito negativo para os municípios que não conseguiram se organizar para seguir com o calendário letivo. Seja pública ou privada a escola, a ordem é recuperar a aprendizagem perdida, partir do zero para que sejam sanados os déficits de aprendizagem. Ainda é possível.

Bio

Jucimara Roesler é Pedagoga, com mestrado em Educação, doutorado em Comunicação Social e com pesquisa Pós-doutoral pela Universidade Complutense de Madri. Jucimara é Membro do Comitê de Qualidade da Associação Brasileira de Educação a Distância - ABED; Consultora de Educação a Distância da Hoper; Avaliadora MEC/INEP. Foi a primeira diretora de EaD da Unisul (maior universidade pública de direito privado de Santa Catarina). Atua como gestora acadêmica e operacional de cursos de graduação e pós-graduação, além de gestora de expansão de EaD nas regiões Sul, Nordeste e Nordeste do país.Entre as práticas de Jucimara Roesler estão a revisão da estrutura do Ensino a Distância e implantação do EAD 100%, disciplinas a distância em cursos presenciais, cursos híbridos e semipresenciais nos modelos online e por satélite.