Um misto de surpresa e felicidade. Foi assim que a estudante Gabriely Santos Souza, 18 anos, conhecida como K7, recebeu a notícia do 4° Prêmio Carolina Bori Ciência & Mulher, da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). A premiação homenageia as cientistas do país e incentiva novas mulheres à trajetória científica. Abordando biodiversidade, negritude, política e protagonismo juvenil, K7 venceu na categoria "Ensino Médio".
A estudante foi contemplada ao entrelaçar educação, ciência e arte. "É um espaço muito grande de reconhecimento", pontuou acerca da premiação. O projeto premiado de K7 envolve duas peças teatrais, escritas na companhia de teatro do Centro de Ensino Médio Elefante Branco: Ato de resistência - primeira peça da estudante, escrita em parceria com o diretor Marcello D' Lucas, em 2021 - e Mundo da lua.
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"Ato de resistência engloba política, a época da escravidão, a dança e o Slam (poesia falada). É um projeto bem forte, a gente teve uma devolutiva muito boa dos alunos. E Mundo da lua é uma peça infantil que fala sobre ciência, tendo como protagonista o senhor Paulo, que é um físico negro, e ele vai de encontro com algumas crianças em prol da biodiversidade e da humanidade em si, trazendo a valorização dos profissionais da saúde no combate à Covid-19 no ápice da pandemia", conta a estudante.
K7, que foi aprovada no vestibular da UnB para o curso de artes cênicas, relata a importância da representatividade desde a infância. "Ver o brilho nos olhos das crianças ao verem as profissões sendo espelhadas na peça e, principalmente, ver nos olhos das crianças pretas vendo o protagonista preto, em uma peça que fala sobre ciência e ficar com aquele pensamento 'cara, um dia eu posso chegar lá', porque falamos pouco sobre ciência às crianças, e menos ainda com protagonistas negros", explica a jovem.
Arte e educação
Para a estudante, arte e educação estão entrelaçadas e ocupam um lugar de expressão e conhecimento de mundo. "É entender quem veio antes de você e quem vai vir depois e, principalmente, ter um local de reconhecimento na escola, de expressão e criar para si mesmo, porque a arte necessita do conhecimento e do autoconhecimento. Tem muita educação passada em forma de arte e arte engloba muito o mundo da educação", diz.
K7 escolheu cursar licenciatura e sonha com o dia em que possa entrar em sala de aula e observar os alunos dispostos a aprender, impulsionados pela arte. "O aprender artístico é sensacional, é um lugar em que muita gente se reconhece, mas não permanece por conta de muitos tabus presentes na sociedade, e eu espero fazer parte de um movimento que mude essa visão. A arte é fundamental no ambiente escolar, até porque ela já é produzida em massa nesse espaço", ressalta a estudante. Para ela, prêmios como o da SBPC servem para ajudar a estimular e reconhecer os desejos e os talentos de alunos em todo o país.
"Disponível para criar"
Segundo Marcelo D' Lucas, diretor de teatro do Elefante Branco, um dos principais desafios nas aulas de teatro é despertar o interesse na escrita aos adolescentes. Entetanto, K7 sempre foi uma aluna que se destacou nessa área, mesmo não tendo experiência com a escrita de peças teatrais no início. "Ela é muito disponível para criar e bastante curiosa", define o diretor.
Marcelo D' Lucas sempre incentivou K7 e foi ele quem a inscreveu na premiação. "Sempre fizemos o esquema de sentar e fazer as provocações juntos, questionar sobre algumas temáticas e criar um universo dramático para aquilo poder ser uma peça e, a partir desse esqueleto, ela distribuir isso em cenas e escrever os diálogos. Pela primeira vez, em tantos anos, tivemos uma aluna que escrevia a peça e a gente montar e colocar como um projeto da escola ou projeto extracurricular.", lembra o diretor de teatro. "O prêmio é uma forma de abrir espaço para eles estarem ocupando os lugares que devem ocupar, e a K7 sendo uma menina preta e periférica, isso ganha uma importância maior ainda".
Sobre o prêmio
O Prêmio Carolina Bori Ciência & Mulher foi criado em 2019 e leva o nome da primeira presidente mulher da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, Carolina Martuscelli Bori. "A SBPC – que já teve três mulheres presidentes e hoje a maioria da diretoria é feminina – criou essa premiação por acreditar que homenagear as cientistas brasileiras e incentivar as meninas a se interessarem por este universo é uma ação marcante de sua trajetória histórica, na qual tantas mulheres foram protagonistas do trabalho e de anos de lutas e sucesso da maior sociedade científica do País e da América do Sul", diz a instituição.
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