Quem cresceu na década de 1990 certamente se lembra do refrão "brincadeira de criança, como é bom, como é bom. Guardo ainda na lembrança...", do grupo de pagode Molejo. As brincadeiras são parte essencial do desenvolvimento físico e emocional das crianças, porque é por meio dessa ação que os pequenos treinam habilidades motoras, cognitivas, sociais e culturais.
"Por meio da brincadeira de faz de conta, por exemplo, a criança pode explorar e recriar situações sociais ou temas de seu interesse. Portanto, há contribuição para a regulação emocional e o desenvolvimento sócio-cognitivo", explica Raphael Cardoso, professor do Departamento de Processos Psicológicos Básicos, do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB), e pai de duas crianças que adoram brincar.
Em grupo, os benefícios são multiplicados: troca de experiências, criação de vínculos, aprendizagem social e treino de habilidades socioemocionais (quem nunca chorou quando perdeu?). Há, porém, muitos elementos que contribuem para a ausência do divertimento compartilhado, entre eles, o projeto urbanístico, com poucos espaços de convivência comunitária; o estilo de vida; e a diminuição do número de crianças nas famílias. Isso é marcante nas grandes cidades, como Brasília.
"As brincadeiras são parte da cultura, transmitidas de geração para geração, logo, o contexto social é um fator importante para que a transmissão cultural das brincadeiras possa ocorrer. Assim, a falta de envolvimento de alguns pais é um fator negativo, pois, como uma criança pode aprender uma brincadeira se não há ninguém para ensiná-la?", ressalta o especialista.
O professor lembra que, hoje, a brincadeira em grupo de crianças é muito focada em produtos de mercado, algo que diminui seu aspecto inventivo. E isso diz muito mais sobre os adultos do que sobre os pequenos. Afinal, crianças não precisam de brinquedos caros e da moda, uma vez que são capazes de se divertir usando poucos objetos e a criatividade. "Elas querem atenção, carinho, proteção e espaço para brincar com outras crianças. Os pais são fundamentais nesse processo. Portanto, brinque com seus filhos. Apenas brinque!"
Marcelo Ferreira/CB/D.A Press - 14/10/2022 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF - Caderno Escolha a Escola do seu filho. Colégio Moraes Rêgo na 706 Sul.
Marcelo Ferreira/CB/D.A Press - Oferecer atividades diversas e em espaços ao ar livre é fundamental
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Marcelo Ferreira/CB/D.A Press - Pedagogia montessoriana valoriza o brincar. Alunos
do Moraes Rêgo aproveitam de circuitos a amarelinha
Papel da escola
Conforme as Diretrizes Curriculares Nacionais da educação infantil, os eixos estruturantes das práticas pedagógicas dessa etapa da educação básica são as interações e a brincadeira, experiências nas quais as crianças podem construir e apropriar-se de conhecimentos por meio de suas ações e interações com seus pares e adultos, possibilitando aprendizagens, desenvolvimento emocional e a socialização.
No Colégio Moraes Rêgo, que adota a metodologia montessoriana, estimular o brincar é considerado fundamental. A equipe pedagógica elabora dinâmicas interativas e projetos educacionais capazes de promover o desenvolvimento das interações. A ludicidade, por exemplo, é uma ferramenta importante para a aprendizagem. Assim, cada brinquedo e brincadeira tem uma função que auxilia no progresso do aluno de uma forma divertida. Além disso, por meio da imaginação e da exploração, as crianças desenvolvem suas próprias teorias do mundo, que permitem a negociação entre o universo real e o imaginado por elas.
"Preparamos nossos alunos para a vida, por meio do desenvolvimento da autonomia e também de competências, habilidades, talentos e potencialidades; respeitando o ritmo de cada criança. Nessa prática contínua, a nossa comunidade escolar atua em parceria efetiva com a escola percebendo a criança segura, feliz e protagonista de sua própria história", ressaltam Simone Moraes Rêgo, diretora-geral, e Andreia Falcão, diretora pedagógica da instituição.
*Estagiárias sob supervisão de Mariana Niederauer
Para se inspirar
Confira algumas das brincadeiras que podem ser feitas com crianças de diferentes idades
Desde bebê
Cesto de tesouros
Para realizar a brincadeira, é necessário um local onde seja possível colocar o bebê sentado no chão, de preferência onde ele possa se encostar em algum momento. Escolha objetos que possibilitem a exploração dos cinco sentidos: tato, visão, olfato, paladar e audição. É importante destacar que todos os materiais devem estar limpos e higienizados, além de não oferecerem nenhum risco ao bebê.
Parlendas que contam o tempo
Parlendas são, em geral, versos ritmados, repetitivos e de fácil memorização. Fazem parte da tradição oral e não precisam de um lugar em específico para serem cantadas. Podem ser feitas só pela voz ou por meio de desenhos, fazendo o uso de papel e lápis colorido.
Bambalalão
A brincadeira envolve pais e filhos e possui muitas variações, a depender da idade das crianças e de quantos adultos estiverem participando. O objetivo é cantar a cantiga enquanto se faz algum movimento, e finalizá-la com um gesto rápido. O jogo deve ser realizado em um ambiente em que seja possível balançar a criança.
A partir de 3 anos
Cada macaco no seu galho
Essa brincadeira é um pega-pega que possibilita que a criança treine o equilíbrio e a velocidade. Deve ser feita em um local espaçoso e que tenha mobílias em que os participantes possam subir. O "pegador" é denominado "chefe dos macacos" enquanto os outros são os "macaquinhos", que devem fugir e subir em alguma mobília. O objetivo do chefe é pegar os "macaquinhos" antes de eles subirem nos "galhos". Aquele que for pego torna-se o novo chefe e a brincadeira recomeça.
Corrida com obstáculos
A brincadeira é uma corrida na qual se colocam inúmeros obstáculos a serem superados, como num circuito. Se for realizado no ambiente doméstico, os obstáculos podem ser os próprios móveis da casa. Exemplos de obstáculos feitos com a mobília: dar uma volta na mesa; sentar ou subir em uma cadeira; e passar por baixo de algum móvel.
Batatinha frita
Nessa brincadeira, ocorre uma mistura de jogo de corrida e estátua e só precisa de duas paredes opostas que permitam que os jogadores se movimentem de uma à outra. Um dos participantes deve ser "observador" e o restante "estátuas". O observador deve ficar em uma parede e os outros, na oposta. O principal objetivo das estátuas é chegar na parede oposta, mas com uma limitação, só podem se mexer enquanto o observador fala a frase "batatinha um, dois", pois quando chega no "três", todos devem estar congelados. Se o observador avistar alguém em movimento, este deve voltar para o ponto de início. Vence quem chegar à parede primeiro.
A partir de 4 anos
Gato mia
Um esconde-esconde no escuro em que deve ser selecionado um cômodo escuro e uma venda para os olhos. O jogo precisa de, no mínimo, três jogadores. Um deles deve ser selecionado para ser o "caçador" e deverá usar a venda. Os outros são "gato" e deverão se movimentar pelo quarto. Quando o caçador encostar em um dos jogadores, ele diz "gato mia" e os gatos deverão miar de volta. O caçador deve adivinhar pela voz quem é o gato e, se acertar, este será o novo caçador. Possíveis variações: Cachorro ladra! Passarinho pia! Cavalo relincha!
A partir de 5 anos
Abecedário
A brincadeira é uma parlenda que consiste em toques de mãos ritmados em que duas pessoas, uma de frente para a outra, encostem as palmas das mãos enquanto falam o abecedário. Depois de aprender a brincadeira, é possível acrescentar diferentes níveis que trabalhem a atenção e a rapidez, por exemplo, ao chegar a uma vogal, cada um bater as próprias mãos debaixo de uma das pernas.
Bola de gude
Este jogo é muito antigo e pode ser praticado por pessoas de todas as idades. Entretanto, para fazer com crianças menores, é importante atentar-se para que elas não coloquem nada na boca. O local ideal é um espaço com o piso liso, para que a bolinha deslize com mais facilidade. Uma das inúmeras possibilidades de jogos é traçar linhas no chão e tentar jogar a bola o mais reto possível, de um ponto ao outro.
Fonte: Brincadeira em família, Fundação Itaú Social