A tecnologia chegou para revolucionar a forma como vivemos. E, em uma sociedade cada vez mais hi-tech, todas as gerações buscam se adaptar a essas mudanças. Depois da chegada do WhatsApp, por exemplo, fazer ligações tornou-se algo tão incomum que estranhamos ao receber uma chamada. A plataforma logo invadiu o ambiente profissional e, claro, as escolas. Com isso, tornou-se comum grupos de pais da turma. O objetivo geralmente é trocar experiências e debater sobre temas inerentes aos alunos.
A psicóloga Alessandra Araújo, da clínica Via Vitae, diz que a escola é, por vezes, o único lugar em que a criança tem contato com outras crianças. Com isso, segundo ela, a união dos pais possibilita um diálogo acerca dos filhos e do ano letivo. "(O grupo) é importante a partir do momento em que as pessoas saibam estipular as regras que vão ser tratadas ali."
A advogada Bárbara Fontoura Souza, especialista em direito das famílias e presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente da OAB da Subseção de Águas Claras, concorda que os grupos no aplicativo são importantes pois facilitam a comunicação entre os pais e alunos, principalmente para a resolução de assuntos imediatos que surgem, correlatos à rotina da turma, por exemplo.
"A simplicidade de acesso ao aplicativo facilita a troca de informações em relação a tarefas, eventos, sociabilização, entre outras informações não oficiais, mas que são de interesses comuns da comunidade escolar", afirma.
Essa é a experiência vivida pela agente de viagens Carolina Tanno. Ela conta que os filhos, Vítor, 9 anos, e Vinícius Tanno, 16, estudam na mesma escola, em Taguatinga Norte, desde os 3 anos de idade, e que a instituição tem o hábito de manter sempre a mesma turma unida ao passar dos anos.
Para ela, o grupo do WhatsApp funciona bem, pois trata apenas de assuntos escolares, sobre o desenvolvimento das crianças e para tirar dúvidas sobre trabalhos e atividades. "Realmente é um grupo de troca e de coisas bem positivas."
O que é adequado?
O problema começa quando não há bom senso entre integrantes desses grupos. De acordo com a psicóloga Alessandra, os participantes de grupos de WhatsApp escolares devem abordar somente questões voltadas aos alunos. "Pode ser sobre uma festinha de algum dos colegas, pode ser sobre alguma apresentação que vai ter na escola, pode por alguma diretriz, uma conclusão. Mas sempre as conversas devem ser voltadas ao tema do grupo", diz.
Na avaliação da advogada Bárbara Fontoura, os grupos de WhatsApp devem se ater a assuntos informais e apenas servir para a troca de informações não oficiais e que não extrapolem a esfera da privacidade das pessoas. Não podem também violar a integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente. "O adequado é utilizar o WhatsApp somente para a comunicação informal, sem adentrar na esfera de temas mais aprofundados."
Segundo ela, que também é mãe, não é adequado tratar nos grupos sobre assuntos pessoais e temas polêmicos, tais como: política, religião e posicionamentos ideológicos.
Por fim, em relação à exposição dos menores, a advogada alerta: "É preciso lembrar que é dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor. Além disso, os menores têm que ser colocados a salvo de qualquer forma de humilhação, ameaça e ridicularização, o que significa dizer que as particularidades dos indivíduos não devem ser tratadas em grupos de WhatsApp".
Cuidado com fotos
De acordo com Bárbara Fontoura, a divulgação de imagens de crianças e adolescentes é um assunto sempre delicado. Eles têm a proteção e preservação da imagem garantidas pela Constituição Federal e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
"Para além da exigência de autorização dos pais ou responsáveis, deve-se levar em consideração a finalidade da divulgação e o conteúdo em si", diz a advogada. O mesmo cuidado deve ser tomado pelas escolas, em listas de transmissão ou outras redes sociais.