Última etapa antes do ensino superior, do técnico ou mesmo que antecede a entrada no mercado de trabalho, o ensino médio é uma fase desafiadora para os adolescentes nos anos finais da educação básica. Nessa transição, o estudante tem que lidar com mudanças em vários âmbitos da vida. O corpo e a mente estão a todo o vapor no processo de formação e decisões cruciais, que impactarão o futuro, devem ser tomadas. Somado a isso, há o retorno recente à modalidade presencial nas escolas, após a pandemia, e a implementação do Novo Ensino Médio.
O superintendente-executivo do Instituto Unibanco, Ricardo Henriques, diz que as mudanças no ensino médio são benéficas no aspecto de preparação do adolescente para o futuro profissional ou acadêmico. Agora, os alunos têm a oportunidade de se aprofundar em uma área de interesse entre as disponíveis na escola. "Além disso, também há a oferta da formação técnica e profissional. Todo este contexto faz com que a escola potencialize aptidões e habilidades dos jovens de olho nas exigências para o futuro e, ao mesmo tempo, possa atuar diretamente para a redução dos índices de evasão e abandono", explica Ricardo.
Segundo o superintendente, o ensino médio precisa ter um "caráter terminativo", ou seja, deve oferecer aos jovens condições de exercer sua profissão, seu direito de cidadão e ingressar no ensino superior, caso desejem. "É importante que o ensino médio coloque o estudante no centro, possibilite flexibilização e integração curricular e fortaleça a conexão com o mundo do trabalho e com o contexto extraescolar."
Fora atuar no desenvolvimento pleno do estudante, incluindo o exercício da cidadania, o ensino médio também é essencial na ajuda da construção e fortalecimento de habilidades e competências socioemocionais. "É na sala de aula que eles contam com acompanhamento pedagógico de maneira estruturada e são estimulados a desenvolver atividades que envolvam planejamento. São conhecimentos que, se bem passados, perduram por toda a vida. Em outras palavras, trata-se de um importante meio para promover acessos, mobilidade social e transformar vidas", pontua Ricardo.
Ele destaca uma pesquisa feita pela organização não governamental Todos Pela Educação. Segundo o levantamento, 98% dos estudantes do ensino médio gostariam de uma escola que os preparasse para o mundo do trabalho. Nove em cada 10 gostariam de escolher uma área para aprofundar os estudos ainda na etapa e 87% pretendem seguir os estudos, seja no ensino técnico, seja no superior. "É fato que há interesse estudantil, e isso aumenta a necessidade de oportunizá-los, principalmente quando falamos das redes públicas".
Reflexão
O CEO da Qstione, plataforma de sistemas de gestão de avaliações de estudantes brasileiros, Fabrício Garcia, conta que o ensino médio é a etapa na qual os jovens começam a desenvolver mais fortemente as suas capacidades cognitivas, como as de expressão da linguagem numa forma mais sofisticada, a de análise crítica e reflexiva e o desenvolvimento de habilidades socioemocionais, permeadas por decisões que impactam diretamente os rumos da própria vida. "Eles começam a construir a capacidade de aplicar os conhecimentos obtidos na escola na vida cotidiana, percebendo o impacto e consequências de suas decisões no seu futuro social e profissional", detalha Garcia.
"Tudo isso acontece em um contexto de puberdade, com variações de ordem fisiológica que impactam fortemente a vida deles. Por isso, estes jovens precisam, além da atenção da escola, do suporte da família. Tal acompanhamento pelas famílias se torna o verdadeiro diferencial educacional no ensino médio".
Autoconhecimento
De acordo com o coordenador geral do Colégio Pódion, George Gonçalves, além do hábito do estudo, a escola valoriza o desenvolvimento do autoconhecimento do aluno. "Em outras palavras, o ajudamos a ter mais clareza de sua personalidade, das dificuldades e afinidades, para que suas atitudes e emoções sejam mais estáveis diante de situações e adversidades que são enfrentadas e vivenciadas em sua vida. Assim, com esse objetivo, estimulamos que ele busque excelência nas suas afinidades e aprenda a desempenhar o mínimo necessário em seus momento de dificuldade, oferecendo inclusive trabalhos complementares em áreas diversas", diz.
Ainda nesse sentido, um dos aspectos educacionais desenvolvidos no Pódion é a ética e honestidade, por meio da disciplina consciente. A escola trabalha com carga horária estendida, inserindo estudos dirigidos, resolução de exercícios e agendamento individual com um coordenador especialista em técnicas de estudos. "Neste atendimento individual, nosso coordenador orienta o estudante sobre como ele pode organizar seu tempo e qual seria a melhor técnica para que ele se desenvolva cognitivamente e emocionalmente", pontua o coordenador.
Colaborou Cecília Sóter
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Opções na ponta do lápis
Luisa Kaori Rodrigues Toratani, 17 anos, é estudante do 3º ano do ensino médio no Colégio Católica e tem o objetivo de ingressar no ensino superior em odontologia. Ela ainda estuda o currículo antigo, mas garante que a instituição tem dado suporte na preparação para a nova fase que está por vir. "Aqui no colégio temos a Secretaria de Vestibulares, cujo professor responsável auxilia em escolhas como a área do conhecimento de interesse do aluno, na inscrição para as provas, além de orientar na escolha do curso com base na pontuação que fazemos nas provas", detalha a estudante.
Os alunos do 1º ano de 2022 de todo o Brasil são a primeira geração a estudar no novo Ensino Médio, como é o caso de Hussan Kalid Jalal, 15, também no Católica. Embora ainda faltem dois anos para o momento da escolha do curso no nível superior, ele já tem decidido o seu objetivo, com a primeira opção como medicina e a segunda, direito. "O colégio sempre tem mostrado para a gente as várias carreiras e os diferentes caminhos para ingressar na faculdade. Também tem havido palestras com profissionais de diversas áreas de atuação a fim de nos auxiliar nessa decisão", conta.
Pandemia
Os dois adolescentes relatam que o retorno ao presencial depois de dois anos na modalidade a distância também tem sido um desafio. "Eu fiz o primeiro e o segundo ano na pandemia. Acredito que essa transição do nono ano para o ensino médio é muito importante para o amadurecimento, uma experiência que não pude viver plenamente", revela Luisa, que também confessa que gostaria de estar estudando no novo currículo.
Hussan estudou os dois últimos anos do ensino fundamental durante a pandemia e também acha que a experiência trouxe perdas. Já sobre o Novo Ensino Médio, ele considera as mudanças positivas. "Eu acho o novo currículo muito bom. É ensinado para a gente todas as matérias que sempre tivemos, aquelas que decidimos escolher e as eletivas."
A coordenadora pedagógica do ensino médio do Católica, Joelma Fernanda Carneiro Silva, ressalta que a reformulação dessa etapa do ensino coloca o estudante no lugar de protagonista na sua formação. Para auxiliar na decisão da carreira, ela conta que o colégio oferece projetos de orientação. "Desde o 1º ano, eles são estimulados a discutirem os seus futuros. No 3º ano, ocorrem encontros mensais com profissionais de várias áreas, que compartilham com os estudantes os desafios da carreira, como eles alcançaram o sucesso, se o momento é propício para aquela profissão, além de tirar as dúvidas", esclarece Joelma. (NG)