Em maio deste ano, o Fundo de Emergência Internacional das Nações Unidas para a Infância (Unicef) realizou um levantamento que mostrou que metade dos adolescentes e jovens sentiu necessidade de pedir ajuda em relação à saúde mental no Brasil. Dos mais de 7,7 mil adolescentes ouvidos pela pesquisa, 35% relataram ansiedade. Após dois anos de pandemia, os impactos psicológicos causados nesse período evidenciaram a necessidade de atenção ao bem-estar de crianças, adolescentes e jovens.
No colégio Everest, o retorno às aulas presenciais se deu de forma gradual. A partir de setembro de 2020, a comunidade recebeu cerca de 30% dos alunos e o restante optou no formato on-line. Em 2021, o modelo híbrido permaneceu. De acordo com Lilian Damasceno, diretora pedagógica do Everest, além de ter que administrar o retorno presencial para atender corretamente as regras sanitárias, a escola teve que se reinventar.
"Foi bastante desafiador, pois somos um povo que gosta de estar junto, próximo, ter contato físico. Os professores precisaram se reinventar, buscar estratégias diferenciadas e flexibilizar seu fazer pedagógico. Todos passamos por altos e baixos, tivemos medo, sim, mas tínhamos, o tempo todo, a certeza de que havia nas mãos algo muito maior do que nós, que é a formação de nossos alunos", conta Lilian.
Para a psicóloga do ensino médio do colégio Everest, Luciana Palmer, a escola é um termômetro, pois quando o aluno está passando por algum momento desafiador, é possível observar o reflexo no desempenho escolar. "Queda no rendimento acadêmico, postura de desinteresse na sala, conflitos com os amigos, atrasos frequentes, ansiedade nas provas, quadros médicos recorrentes, ausência ou desistência de aulas extracurriculares que o aluno costumava frequentar e isolamento social são importantes sinais a serem considerados", pontua a especialista.
Luciana explica que, para assegurar um ambiente escolar de acolhimento, a atuação psicológica é ampla e não se restringe só aos alunos, mas também às famílias e aos professores. "Realizamos um projeto de tutoria com os alunos, semanalmente, onde vários temas são trabalhados em pequenos grupos: inteligência emocional, ética, virtudes, métodos de estudo, organização da rotina, autoconhecimento, fortalecimento espiritual", elenca a psicóloga.
Além disso, em momentos de crise de ansiedade ou conflito com colegas, os alunos têm acesso livre à psicóloga. "Nas questões pedagógicas a psicóloga também acompanha os alunos que apresentam alguns quadros, como TDAH, dislexia, discalculia, dificuldades de aprendizagem, entre outros, oferecendo orientações para o manejo pelos professores e organizando as demandas diferenciadas para as situações de provas e atividades qualitativas", diz Lilian.
Durante o isolamento social, o processo de aprendizagem foi difícil para Mateus Iwano, de 16 anos, aluno do 1ª ano do ensino médio no colégio Everest. Além do problema de adaptação da casa e das ferramentas para acompanhar as aulas, houve dificuldade em conseguir manter a concentração no que o professor ensinava. Para ele, o retorno às aulas presenciais foi um alívio. "Foi puxado, mas quando voltou foi muito bom", afirma o estudante.
Escuta atenta
Para Gleicimar Gonçalves Cunha, psicóloga, professora do Iesb e doutora em psicologia do desenvolvimento e escolar, as escolas devem promover mais espaços de fala e participação dos alunos, de maneira que eles se sintam seguros e confortáveis em expressar o que estão sentindo. "A gente ainda tem um modelo hegemonicamente tradicional que silencia o aluno e assegura a voz exclusivamente do professor. Precisamos inverter um pouco esse modo de funcionamento da sala de aula, garantindo aos estudantes o acolhimento daquilo que eles têm a dizer sobre si, o outro e o que os aflige", ressalta.
Gleicimar recomenda, ainda, que os conteúdos curriculares sejam articulados com situações que os alunos vivenciam. Segundo a psicóloga, quando as matérias são ensinadas sem conexão com a vida real, passam a ser abstratas e não contribuem para que os estudantes consigam lidar com questões existenciais. Outra recomendação da doutora em psicologia escolar e do desenvolvimento são os projetos extraclasse para garantir o desenvolvimento integral do aluno. "Significa investir em projetos com temas específicos a serem conduzidos no contraturno".
Além dos impactos causados pelo isolamento social na pandemia, Gleicimar ressalta que o cenário de instabilidade característico da pós-modernidade afeta os estudantes. "Quando a gente vai conversar com adolescentes, em especial aqueles que estão concluindo o ensino médio, percebemos entre eles dificuldades de falarem sobre o futuro, de se imaginar daqui a cinco anos, porque estamos vivendo um cenário de tanta insegurança e violações que tem sido difícil até mesmo para os mais jovens experimentarem esperança", avalia a especialista.
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