As ecolas pelo Distrito Federal têm buscado diferentes maneiras de lidar com o pressão psicológica imposta pelo período de pandemia. No Centro Educacional 8 do Gama, as cadelas Lolla e Nina circulam livremente por pátio e salas e ajudam a acalmar os alunos quando se sentem ansiosos. O projeto Cãoterapia surgiu no contexto da crise sanitária e os animais são um recurso terapêutico auxiliar.
"Os alunos amam a convivência com o animal. O projeto nasceu da necessidade de buscar alternativas para investir na saúde mental. O período pandêmico acentuou este quadro e muitos alunos voltaram com graves crises de ansiedade", relata a diretora Eufrázia de Souza Rosa.
A Cinoterapia ou Terapia Assistida por Animais é utilizada como técnica terapêutica em pacientes com autismo, síndrome de Down e Alzheimer, assim como em pessoas com ansiedade e depressão. "A experiência tem demonstrado que, para o animal, são dias de lazer. Para os discentes, há alívio na ansiedade e leveza dos problemas enfrentados. O cão é usado como meio de estimulação crucial para os órgãos sensoriais, sentido cinestésico e o sistema límbico", relata o CED 8 no plano do projeto.
Eufrázia destaca que a presença das cadelas na escola é efetiva porque, trazem alegria e o amor é gratuito. "Até hoje tenho uma aluna com grave quadro depressivo e que, quando vem, precisa do contato. Às vezes algum aluno está muito triste ou muito agitado e é a hora de elas agirem. Temos um aluno autista que às vezes não consegue ficar em sala. Quando isso acontece, a missão dele é encontrar a cadela e cuidar dela", diz a diretora.
Lolla e Nina passam por adestramentos semanalmente. "Considerando que uma 'auluna' no ambiente escolar altera a rotina, todos que exercem alguma função dentro do estabelecimento de ensino trabalham em prol de auxiliar e conviver com o animal, inclusive, estabelecendo uma relação afetiva, A comunidade, por conhecer o projeto, sempre que vem à escola convive e aceita de forma satisfatória" explica Eufrázia.
Cuidar de quem cuida
Cuidar da saúde mental dos professores também é fundamental para garantir um ambiente escolar de acolhimento e bem-estar. Foi pensando nisso que o Laboratório inteligência de vida (LIV) criou o projeto "Cuidando de quem cuida". "Se entendemos a escola como um espaço em que as emoções não ficam do lado de fora dos muros, temos que admitir que todas as pessoas que ali trabalham também sentem. Afinal, reconhecer e acolher suas próprias emoções, comunicar-se de maneira assertiva, conseguir estabelecer relações saudáveis com colegas e alunos torna mais potente não só a vida pessoal do professor, como também o aprendizado das crianças e jovens e o clima do ambiente escolar", destaca a gerente Pedagógica de Conteúdo do LIV e psicóloga clínica Renata Ishida.
Renata lembra que, no retorno às aulas presenciais, os educadores relataram que as turmas estavam mais agitadas, sem concentração e com diversos casos de depressão, ansiedade e violência. Consequentemente, ao ouvir os professores foi possível perceber esgotamento mental, tristeza e sensação de impotência. Portanto, a equipe passou a considerar que as intervenções seriam insuficientes se não houvesse um olhar atento aos professores também. "Saúde mental não é um estado permanente que se conquista. A saúde é movimento e demanda compromisso e cuidado cotidianos", frisa a psicóloga.
Para acolher os professores, o projeto realiza rodas de conversas mediadas por consultores pedagógicos do LIV. "Cada roda tinha um público específico, os professores foram agrupados por segmento para qual davam aula e os gestores também tinham seu grupo separado. As rodas foram fundamentais para garantir um tempo para parar e olhar com um pouco de distância tudo o que estava acontecendo. Quando estamos mergulhados no problema, é difícil compreender suas nuances e fica mais difícil encontrar caminhos de saída", observa Renata.
As rodas de conversas têm os objetivos de fala e escuta dos desafios pessoais e troca de ideias para caminhos a serem tomados em relação ao sofrimento. Para a professora Ana Palmeirão, vivenciar a pandemia foi cansativo emocionalmente. A falta de convívio com o outroreprsentou o maior desafio. "A pandemia tirou muita a nossa possibilidade de fala e de escuta. Ficamos muito presos em nossos pensamentos. Retomar a escuta, falar e compartilhar é muito bom, mas está sendo muito difícil para as crianças. Entender que você é pertencente ao grupo gera um conforto. Ter um espaço seguro para cuidar dessa coletividade é maravilhoso", conclui a professora.
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Dicas valiosas
A psicóloga Gleicimar Gonçalves Cunha observa que os pais têm se queixado de desamparo. "A primeira coisa é acolher também os cuidadores, pais e mães, porque muitas vezes eles não estão bem", avalia a especialista. Entretanto, ela elenca algumas dicas de atenção e cuidado aos filhos:
1. Prestar atenção e ser sensível ao que os filhos comunicam: As crianças e os adolescentes não se comunicam apenas verbalmente. A questão da automutilação, em geral, leva o estudante a usar calça comprida ou camiseta de manga longa, mesmo em tempo de muito calor, justamente para esconder os machucados do corpo. Os pais devem estar atentos a isso.
2. Adoecimento mental pode vir na forma de compulsão alimentar: quando a criança ou adolescente passa a comer muito ou nada, isso também é um sinal de que alguma coisa pode não estar indo bem.
3. Isolamento e excesso de tecnologia: é necessário investir nas trocas presenciais. As habilidades sociais são potencializadas no convívio com os diferentes, mas é importante que os pais invistam em trocas com os filhos, reservar tempo do dia para estarem com eles.
4. Identificar o que angustia e o que alegra os filhos: isso contribui para o estreitamento das relações, as crianças e adolescentes se sentirão amados e queridos.