A prática de prestar atenção na respiração ajuda a melhorar o raciocínio e a concentração de crianças e adolescentes. De acordo com Ana Cláudia Messias, coordenadora do programa Plena Atenção da Sociedade Vipassana de Meditação, o hábito também auxilia na regulação emocional, tomada de decisões e diminuição de ansiedade. "É um exercício simples, um treino mental, que pode trazer muitos benefícios a essa turminha. Temos tido relatos disso acontecendo nas salas de aulas onde o Programa de Plena Atenção está sendo aplicado", conta a instrutora.
Desde 2016, a Sociedade Vipassana de Meditação atua em escolas públicas do Distrito Federal com o programa Plena Atenção. A prática consiste na formação de educadores, por meio de palestras e cursos de treinamento. "Passamos as técnicas para a prática pessoal dos educadores(as) e, depois, abordamos como repassar essa prática aos estudantes. Como sempre digo, a gente ensina aquilo que sabe. Ou seja, precisamos aprender, testar em nós mesmos e, se vermos que é bom para nós, repassarmos para os estudantes. É antes de tudo um aprendizado pessoal. Um educador será um bom repassador da técnica quando conhece e vivencia seus efeitos em si mesmo", explica Ana Cláudia.
Uma das técnicas do Plena Atenção é a respiração consciente. A prática é focada na conexão com o próprio corpo. Para Ana Cláudia, as crianças vão perdendo essa capacidade conforme vão crescendo. "Nós, adultos, estamos bastante distanciados de nosso corpo e percebemos como é difícil ter consciência de que respiramos. Estamos no automático. As crianças já são mais ligadas ao corpo e vão perdendo esse contato conforme crescem. Assim, é mais fácil introduzir a técnica para os mais jovens", afirma.
Além da respiração, as crianças e adolescentes são incentivadas a prestarem atenção nos próprios pensamentos e emoções. Os estudantes também aprendem sobre o funcionamento do cérebro. A Escola Classe da 415 Norte aplica a prática todos os dias, desde 2018, com alunos e colaboradores da comunidade escolar. "Com a prática da meditação diariamente podemos proporcionar momentos de calma, relaxamento, melhorar a concentração com a respiração mais tranquila e fazer com que as crianças em situação de conflito pensem antes de agir. Aplicamos a Plena Atenção todos os dias, com toda a escola, na entrada dos períodos matutino e vespertino", relata a professora Lígia Fernanda Fruet. A prática serve para momentos de ansiedade ou tensão pré-provas, por exemplo.
Cantinho da paz
Na Escola das Nações, a transição de uma fase escolar para outra é olhada com atenção, pois é comum que os alunos se sintam ansiosos ou inseguros nesses momentos. Um dos projetos implementados é a disciplina positiva, uma abordagem centrada na comunicação não violenta e respeito mútuo. "É uma forma de conseguir que as crianças sejam autônomas, independentes e que elas cooperem com o ambiente da comunidade", explica Hannah Assante Lampert, orientadora da educação infantil e psicóloga.
Além disso, a escola conta com um espaço confortável destinado aos alunos, conhecido como save place (ou cantinho da paz). "Todas as salas têm que ter um cantinho onde o aluno se sinta seguro para ir sozinho e saber que lá ele vai parar e refletir o que está sentindo", defende Hannah.
No cantinho da paz também há espelho e cartões com figuras esboçando diversas emoções para que o aluno olhe para si mesmo e tente reconhecer os próprios sentimentos no momento. "Isso tudo são estratégias que a disciplina positiva sugere. Tem também um roda de escolhas com 10 opções de como resolver um conflito: contar até 10, sair andando, perguntar para a professora, conversar com um amigo", elenca a psicóloga.
Hannah explica que as professoras apresentam o cantinho da paz aos alunos, explicando-os como e quando usar. Depois que os estudantes conhecem, eles têm a autonomia para frequentar o espaço sempre que se sentirem ansiosos, tristes ou agitados. Outro recurso utilizado pela Escola das Nações é a garrafinha sensorial. "Ensinar para as crianças a autorregulação é algo muito mais complexo do que a gente imagina, então a garrafinha sensorial é uma ferramenta para que elas consigam se concentrar no que está acontecendo dentro delas", conta Hannah.
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