Após cinco anos da aprovação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), quase todas as escolas do país já estão com os currículos alinhados. Com o documento, é a primeira vez que o Brasil terá as mesmas diretrizes educacionais de norte a sul. A implementação do documento foi prejudicada pela pandemia, mas especialistas consultados pelo Correio são otimistas em relação aos avanços até aqui e destacam que, para o ano que vem, ainda há muito trabalho a ser feito.
A BNCC é um documento que detalha quais são as aprendizagens essenciais a que todos os estudantes devem ter acesso na educação infantil, ensino fundamental e ensino médio. Este ano era o prazo-limite para implementar, na última etapa da educação básica, as mudanças promovidas pela BNCC. "O primeiro passo era a adaptação dos currículos. Agora, é preciso que várias outras políticas se adequem", explica João Paulo Cêpa, gerente de Articulação e Advocacy do Movimento pela Base.
Um dos desafios elencados pelos especialistas daqui para a frente é o investimento na formação dos professores. São esses profissionais que estão na linha de frente da aplicação da Base e precisam adequar suas práticas às mudanças. Mas, para isso, é necessária formação continuada e adequação dos cursos de licenciatura. Esse processo foi um dos que sofreu impacto na pandemia.
"De certa forma, a pandemia interrompeu o ritmo de implementação. Esperava-se que, a partir de 2019, começasse um foco maior na formação dos professores, mas todo esse esforço foi transferido para garantir o ensino remoto para que os estudantes pudessem estudar de casa", destaca Daniel de Bonis, diretor de Conhecimento, Dados e Pesquisa da Fundação Lemann.
Por isso, Patricia Mota Guedes, gerente de Pesquisa e Desenvolvimento do Itaú Social, acredita que o foco agora deve ser voltado para isso. "Precisamos avançar nas diretrizes curriculares para a formação de professores. O MEC precisa acompanhar como as instituições de ensino superior estão revisando seus programas", ressalta.
No colégio Arara Azul, a elaboração do novo currículo baseado na BNCC contou com a participação dos professores. De acordo com Luzia Hypólito, conselheira da escola e uma das redatoras da Base, isso foi muito importante para que os docentes tivessem autonomia no processo. Ela destaca a importância de que o documento seja usado como norteador para que cada escola elabore seu currículo.
"A BNCC é um norte. Cada escola tem características próprias e isso tem que ser considerado. O Arara Azul, por exemplo, preza pelo meio ambiente, contato com animais. Outras escolas têm outras características", afirma. Além disso, ela destaca a importância de que os professores sejam capacitados em relação às mudanças. "Nós fomos acostumados com a formação tradicional, em que se preza pelo conteúdo. Agora, temos que pensar no desenvolvimento dessas habilidades cognitivas", explica.
A percepção de como essas mudanças são importantes pode ser vista até para os pequenos alunos. Davi Barreto, 8 anos, estudante do 3º ano na escola, se alegra ao falar que gosta de estudar porque "aprende brincando" e que o que é ensinado ele poderá "levar para a vida". Com a intenção de ser médico no futuro, Davi é bem claro quanto ao que mais gosta de estudar: matemática. "Meus amigos até me pedem para respirar um pouco para dar tempo de pensar quando estamos estudando", afirma.
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Novo Ensino Médio
Este foi o primeiro ano da implementação do novo ensino médio, com base na BNCC. Agora, a última etapa da educação básica é organizada por áreas de conhecimento e não por matérias. Os itinerários formativos são divididos em quatro áreas: linguagens e suas tecnologias; matemática e suas tecnologias; ciências da natureza e suas tecnologias; ciências humanas e sociais aplicadas. Os itinerários devem abordar a investigação científica, processos criativos, mediação e intervenção sociocultural e empreendedorismo.