A arte está intimamente ligada à história da humanidade. As primeiras manifestações artísticas datam do período paleolítico na pré-história, sendo produzidas em cavernas, por meio de resíduos vegetais, carvão ou argila. Nesse período, a produção artística estava relacionada diretamente ao campo espiritual e o artista era considerado um "ser superior", que tinha poderes mágicos para mediar a realidade e a arte divina.
De lá para cá, as manifestações artísticas acompanharam o desenvolvimento das sociedades, chegando também ao âmbito escolar. De acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), o aprendizado artístico manifesta sensibilidade, intuição, pensamento, emoções e as subjetividades humanas (veja quadro). Portanto, o ensino de arte como elemento curricular não deve ser apenas a mera aquisição de técnicas, mas sim a prática social que possibilite aos alunos serem protagonistas e criadores no processo.
No ensino fundamental, a disciplina é centrada nas linguagens: artes visuais, dança, música e teatro. Já no ensino médio, faz parte da área de Linguagens e suas Tecnologias. Além de objetivar a autonomia para criar, a arte é uma ferramenta para compreender a sociedade em que se vive, pois possibilita a conexão entre racionalidade, sensibilidade, intuição e ludicidade.
Consciência
Na avaliação coordenador e diretor de teatro do Centro de Ensino Médio Elefante Branco, Marcello D' Lucas, a arte contribui para o desenvolvimento dos adolescentes pois gera sensação de pertencimento, inteligência interpessoal e consciência de coletividade. "Os adolescentes são potência, mas nessa fase eles têm a autoestima muito baixa. Então, o professor de arte serve para impulsionar a autoestima e mostrar que eles são capazes. A arte também desenvolve a inteligência linguística, porque fazemos estudo de muito material histórico, artístico e criativo; o vocabulário aumenta", destaca.
Jordana dos Santos, 16 anos, ama arte. "Para mim, a arte é se expressar através do que você sabe fazer de melhor. Sabe fazer comida? É a sua arte, siga em frente", diz a aluna do Elefante Branco. Uma das principais atividades artísticas desenvolvidas na escola são as peças de teatro. O coordenador Marcello D'Lucas conta que os temas das apresentações cênicas são pensados de acordo com o perfil de cada turma, levando em consideração as subjetividades dos alunos. "Em uma turma mais séria e volumosa, escolho uma peça de drama com muitos personagens. Mas se for uma turma menor e mais brincalhona, então escolho uma comédia com menos personagens. Eu vou os conhecendo durante todo o bimestre. A partir do momento de escolha da peça, a turma é dividida em grupos: cenário, figurino, maquiagem, sonoplastia, iluminação, atores", detalha o professor.
Saiba Mais
O que diz a BNCC?
A Base NacionaL Comum Curricular (BNCC) define: “É no percurso do fazer artístico que os alunos criam, experimentam, desenvolvem e percebem uma poética pessoal. Os conhecimentos, processos e técnicas produzidos e acumulados ao longo do tempo em artes visuais, dança, música e teatro contribuem para a contextualização dos saberes e das práticas artísticas. Eles possibilitam compreender as relações entre tempos e contextos sociais dos sujeitos na sua interação com a arte e a cultura”.
Muito mais que formar artistas
No Brasil, o ensino de artes passou a ser obrigatório na educação básica a partir de 2010, com a Lei nº 12.287. A escola Canarinho é uma das que desenvolve projetos artísticos com crianças há 48 anos, mesmo antes da norma. Para a diretora Solange Cianni, a arte não é só para formar artistas, pois contribui para a expressão dos sentimentos e conhecimentos adquiridos pelos alunos.
"Não tem certo ou errado, não tem melhor ou pior, a arte já traz em si a diversidade. Cada um expressa da sua forma, livremente, da maneira como está enxergando ou sentindo", resume a gestora.Os processos artísticos também proporcionam experimentações sensoriais. "Como a criança ainda não sabe escrever, ela registra por meio da arte", enfatiza Solange.
A gestora cita o pintor Pablo Picasso ao ressaltar a espontaneidade das crianças. "Eu diria que a arte já é inerente às crianças do ponto de vista da livre expressão. A arte é importante para o desenvolvimento infantil para manter essa maneira livre de se expressar", destaca.
Solange avalia que a inteligência do eixo racional, expressada por palavras ou cálculos, costuma ser mais valorizada em detrimento de outras linguagens. "Através do movimento da dança, da música ou das artes plásticas, a criança pode tentar se expressar ou deixar fluir algum incômodo ou sensação que esteja vivendo. O processo pedagógico da aprendizagem por meio da arte é verdadeiro e seguro, chegamos a lugares muito profundos", finaliza a diretora.