A primeira infância, fase que vai do 0 aos 6 anos, é fundamental para desenvolver o potencial social, emocional e cognitivo dos seres humanos. E a ciência já provou que a educação infantil tem papel essencial na promoção desse desenvolvimento. O acesso às creches e pré-escolas é importante, mas não basta. As evidências mostram que a qualidade do atendimento é o que garante os resultados positivos dessa etapa educacional para as crianças.
Pesquisas sobre o impacto do fechamento das pré-escolas durante a pandemia dão a medida da diferença que a educação infantil pode fazer. Entre 2020 e 2021, em comparação com 2019, as crianças de 4 e 5 anos praticaram menos atividades físicas, tiveram menos oportunidades de interagir com outras crianças, ficaram mais tempo diante de telas, receberam menos estímulos de aprendizagem e, como consequência, aprenderam menos em linguagem e matemática.
Sabendo que a frequência a uma boa escola de educação infantil tem efeito na primeira infância, torna-se crucial entender o que é qualidade para essa fase e o que observar nesse sentido.
O primeiro aspecto é a escola ter um currículo alinhado à Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Trata-se de um documento norteador que contempla os objetivos de aprendizagem que todas as crianças brasileiras devem alcançar. O coração da qualidade desta etapa são as interações entre as crianças e entre crianças e adultos em sala. Nesse sentido, as brincadeiras são centrais na promoção de interações positivas e na construção de aprendizagens significativas.
O professor é elemento-chave da qualidade na educação infantil e deve possuir formação em curso superior — preferencialmente pedagogia —, participar de formação continuada que lhe habilite a trabalhar com as especificidades dessa etapa, para se tornar um mediador nos processos de aprendizagem, promovendo a autonomia e o protagonismo das crianças.
Espaços
Na educação infantil, os ambientes são também educadores, especialmente aqueles que possibilitam o contato com a natureza. Espaços seguros e adequados às faixas etárias das crianças, equipados com materiais, livros e brinquedos que promovam o estímulo e a curiosidade são facilitadores das interações e da aprendizagem.
É importante lembrar que as famílias podem e devem fazer parte do processo de aprendizagem, que não se extingue no horário de saída da escola. Manter-se conectado aos aprendizados e novos desafios apresentados na instituição promove uma dinâmica natural de complementariedade em casa.
Conversar com a criança sobre o que ela tem feito na escola e ajudá-la a descobrir mais sobre os temas tratados são maneiras de valorizar a experiência vivida na educação infantil e de manter estímulos contínuos de qualidade com as crianças.
Em suma, além de conhecer os espaços da escola, é indispensável que as famílias conversem com os gestores e professores para entender o projeto pedagógico e ver, na prática, como são organizadas as rotinas e atividades das crianças.
Há perguntas que não devem faltar: o quanto o currículo está alinhado à BNCC; qual é a formação dos professores; como se dá a dinâmica de formação continuada; e como a instituição encara o papel da brincadeira e das interações nas dinâmicas de aprendizagens entre as crianças.
Respondidas todas essas perguntas, mães, pais e cuidadores terão mapeado os pré-requisitos básicos para matricular a criança em uma escola de qualidade.
*Beatriz Abuchaim é doutora em educação e gerente de Conhecimento Aplicado da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal
Saiba Mais
- Educação básica Grupos de pais no WhatsApp: o que pode e que não pode?
- Educação básica Saiba o que levar em consideração para escolher a escola do seu filho
- Educação básica Valores da família devem ser levados em consideração na escolha da escola
- Educação básica Base Nacional Comum Curricular faz ponte com tecnologias, dizem educadores