Mais de 460 mil estudantes voltam às aulas presenciais hoje em 685 escolas do Distrito Federal. Mas além da vontade de aprender, a retomada do ano letivo chega com o clima de insegurança por parte dos pais e dos estudantes, que temem a escalada de violências nas unidades de ensino. Em contraponto, o GDF aposta em ações educativas para combater os problemas no ambiente escolar.
Somente de 24 de janeiro a 23 de março deste ano, o Batalhão Escolar da Polícia Militar do DF (BPEsc) registrou 121 incidentes, com 28 casos de vias de fato, 26 de ameaça e três de lesão corporal. Segundo a Polícia Militar do DF (PMDF), o uso e porte de substâncias entorpecentes também chamam atenção das autoridades. Conforme relatório, a maioria dos casos envolve alunos com média de 15 a 17 anos.
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Atento a esse cenário, Uriel Martinez, 45 anos, não esconde sua preocupação com a segurança do filho Kariel Martinez, 12, estudante do 7º ano do Centro de Ensino Fundamental (CEF) do Bosque, em São Sebastião. No dia 23 de março, um aluno esfaqueou um colega na unidade de ensino.
Embora reconheça o empenho da direção do estabelecimento em evitar conflitos, Uriel revela o medo. "Naquele colégio, sei que os profissionais cuidam muito bem das crianças, mas é complicado porque isso (comportamentos violentos dos estudantes) vem da educação que recebem em casa. Muitos pais empurram a criança no colégio para que eduque tudo", acredita.
Outra preocupação do pai é com a pandemia. Embora o filho já tenha tomado a segunda dose da vacina, a pauta deve ser levada em consideração. "Continuam os casos e nunca parei de usar máscara, assim como o meu filho, que é um dos poucos que ainda usavam no colégio", relata o pai de Kariel.
A diretora do CEF do Bosque, Priscila Silva de Jesus, explica que os estudantes participaram de palestras com psicólogos durante o primeiro semestre. "Estamos trabalhando a saúde emocional para que eles fiquem seguros dentro da escola e pedimos aos pais que possam nos apoiar a incentivar os alunos à não violência, verificando a mochila deles para ver se o filho não vai levar algo que não seja do material escolar", explica.
Operação volta às aulas
Para garantir a segurança no retorno dos estudantes, o Batalhão de Policiamento Escolar da PMDF vai realizar a "Operação Volta às Aulas", de 1º a 5 de agosto. Entre as ações a serem desenvolvidas, terá o Escola livre — contra a entrada de alunos com armas ou drogas nas escolas —, Varredura, Bloqueio e Blitz Escolar. Os policiais vão intensificar o policiamento a pé e motorizado e distribuir folders com dicas de segurança aos alunos.
O Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran-DF) realizou atividades em escolas particulares nos dias 28 e 29 de julho. Os estudantes assistiram a apresentações teatrais e participaram de contação de histórias. Os alunos foram orientados sobre os procedimentos corretos no interior dos veículos, local seguro para o embarque e desembarque e sobre o uso das calçadas e faixas de pedestre. Ao todo, 800 crianças de 4 a 9 anos receberam as informações.
Trauma
No dia 6 de maio, a violência nas escolas tornou-se uma preocupação para a dona de casa Ivanete Maria Soares Ferreira, 35. O adolescente Victor Samuel, 15, recebeu voz de prisão por um policial militar no Centro Educacional nº 1 da Estrutural. O estudante, filho de Ivanete, participava de um protesto contra a saída da vice-diretora e teria xingado o tenente da PMDF. "Não deixei ele continuar (os estudos), e o mandei ficar com familiares em Minas Gerais", conta a mãe do menino, que, à época, disse ter ficado traumatizado.
Para o segundo semestre, dentro do Plano de Urgência pela Paz nas Escolas haverá formações para professores, para policiais das escolas cívico-militares, Concurso cultural da Secretaria de Segurança Pública, Curso de Promoção de Segurança Cidadã nas Escolas, implementação do projeto Jovens Líderes nas Regionais de Ensino e terá também um lançamento da plataforma de educação Gentileza e Generosidade. Também será desenvolvido o projeto Jovens Líderes nas Regionais de Ensino, com objetivo de incentivar os estudantes a resolverem desafios públicos. Entre as ações programadas estão: a apresentação sobre o Caderno de Convivência Escolar, busca escolar ativa, semana da saúde mental, clubes de interesse e mural de oportunidades. "Nossa expectativa é que os registros de violência nas escolas diminuam a cada dia", declara o coordenador da comissão do Plano de Urgência pela Paz nas Escolas, Aspas Tony Marcelo.
Preocupação sanitária
A Secretaria de Saúde (SES) alega que segue com o protocolo sanitário da nota técnica nº 1 de 2022 do Centro de Operações de Emergências em Saúde Pública, que trata de temas como as relações de afastamento de infectados com o novo coronavírus, uso de máscara de proteção, vínculo epidemiológico e monitoramento de contatos entre pessoas infectadas. E, diante do aumento de 451% nos casos de dengue no DF no primeiro semestre deste ano — conforme o Correio noticiou em 23 de julho —, a Secretaria de Educação do DF (SEE-DF) combate o avanço de casos na capital contra a proliferação do mosquito Aedes aegypti.
Sobre a varíola dos macacos — com 21 casos confirmados no DF —, a pasta informa que o Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen) recebeu, na última terça-feira, os reagentes necessários para realizar os exames diagnósticos da doença na capital.