Criatividade

Dia do Estudante: conheça projetos liderados por alunos para mudar o país

Nesta Dia do Estudante, celebrado nesta quinta-feira (11/8), o Correio separou alguns projetos pelo país para conhecer e se inspirar

Thays Martins
Yasmin Rajab
postado em 11/08/2022 13:41 / atualizado em 11/08/2022 13:42
 (crédito: divulgação)
(crédito: divulgação)

O desejo de mudar o mundo faz parte do cotidiano de muitos estudantes pelo país, mas se engana quem pensa que por serem jovens, eles não podem fazer grandes feitos. Hoje, 11 de agosto, é celebrado o Dia do Estudante, e em comemoração à data, o Correio separou alguns projetos pelo país liderados por estudantes que resolveram arregaçar as mangas e fazer algo para mudar suas realidades. Conheça: 

Sertanejas cientistas 

A participação de mulheres na ciência ainda é baixa em todo o mundo. Durante as feiras de ciência na escola, estudantes do Centro de Excelência Dom Juvêncio de Britto, em Canindé de São Francisco, no Sergipe, ficaram incomodados com a baixa participação de meninas nos eventos científicos e também com as poucas escolas públicas nos grandes eventos. Foi então que resolveram criar o Sertanejas Cientistas. "Eu comecei a observar que não tinha participação grande de meninas e de escolas públicas aqui no meu estado", explica Ariane Tobias da Silva, de 19 anos.

Ariane destaca que o projeto é importante para mostrar para os estudantes que a ciência não é inalcançável e também capacita todos para o mercado de trabalho e para a vida. "Acreditamos que a nossa iniciativa é de extrema importância, pois, com o desenvolvimento destas atividades, permitimos aos aprendizes se tornarem protagonistas de seus estudos ao estarem em contato com grupos, linhas de pesquisas e orientação com pesquisadores mais experientes", diz.

O projeto foi dividido em duas etapas. A primeira totalmente virtual, devido à pandemia, com a criação de páginas nas redes sociais; Foram dadas palestras, workshops, feitas entrevistas e desafios virtuais. A segunda etapa está sendo presencial, inclusive em outras cidades. Nela, 10 participantes, entre elas duas professoras, estão promovendo trabalhos com crianças e adolescentes do ensino fundamental e médio, com oficinas, palestras e encontros. Apesar de o projeto ter conseguido muitas conquistas, como ser premiado no Criativos da Escola, prêmio do Instituto Alana, a falta de apoio ainda é um grande desafio. "Fomos selecionadas para algumas feiras fora do estado, mas acabamos não podendo participar por falta de verba", lamenta Ariane.

Enfrentamento ao suicídio


Os cuidados com a saúde mental são temas bastante discutidos atualmente, isso porque os casos de depressão e ansiedade estão em constante aumento no Brasil e no mundo. Pensando nisso, estudantes do Centro de Ensino Médio Escola Industrial de Taguatinga (CEMEIT) desenvolveram o Grupo de Enfrentamento a Depressão e ao Suicídio (GEDS). O projeto surgiu após a triste notícia de que uma aluna havia tirado a própria vida. Inicialmente, a estudante foi confundida com uma das alunas da escola, mas depois foi constatado de que ela não era do CEMEIT.

Apesar da confusão, a notícia impactou os alunos, provocando um enorme sentimento de tristeza, o que fez com que eles criassem a iniciativa de conscientizar os estudantes sobre os efeitos da ansiedade e depressão. Em reunião com alguns representantes de turma e o supervisor da escola, Gabriel Souza Rodrigues, os estudantes decidiram abraçar a causa, e prevenir, acolher, ouvir e fomentar a cultura da vida na sociedade a partir da escola. A coordenadora-geral do projeto, Vitória Maria Limeira Pereira Kalil, menciona que a iniciativa é de extrema importância, uma vez que dão voz as informações sobre os assuntos de saúde mental. "Depressão não é frescura e precisamos cada vez mais conscientizar todos ao nosso redor sobre o assunto, e romper com os estigmas da doença, pois há saída", relata.

De acordo com pesquisa realizada pelo Instituto Vigitel em 2021, cerca de 11,3% dos brasileiros relataram ter recebido um diagnóstico médico de depressão. A frequência foi maior entre as mulheres (14,7%) em comparação com os homens (7,3%). Vitória agora é aluna de letras na Universidade de Brasília (UnB). Apesar de ter saído da escola, ela ainda continua fazendo parte do projeto. Além dela, fazem parte do grupo estudantes e ex-estudantes da escola, e dois servidores do CEMEIT, Rosana Santos Sousa e Gabriel Souza Rodrigues. No total, cerca de 30 pessoas fazem parte da organização do GEDS, e outras 2.400 pessoas estão envolvidos com as atividades. Além de tratar sobre depressão e ansiedade, o projeto desenvolve rodas de conversa sobre masculinidade, autoconhecimento, compulsão alimentar e empoderamento feminino.

Os assuntos são tratados por meio de acolhidas, seminários, palestras, lives no Instagram, caixa do desabafo física e virtual, e murais interacionais. "É um projeto de jovem para jovem, e juntos conseguimos ter uma boa troca e entender que algumas coisas e sentimentos da vida são naturais através das vivências e partilhas do outro, que é da mesma faixa etária. Enquanto muitos querem falar, nós queremos ouvir e trazer a ajuda necessário, o colo, o ombro amigo por meio do projeto". Em setembro de 2021, o grupo organizou o I Simpósio de Saúde Mental do GEDS, e todas as palestras estão disponíveis para visualização no canal da escola no YouTube

Atheneu ONU

A maior simulação da Assembleia da Organização das Nações Unidas (ONU) ocorre em uma pública de Ensino Médio Integral no Sergipe. O Atheneu ONU teve início em 2019 no Centro de Excelência Atheneu Sergipense e mais de 640 estudantes participaram do projeto. A iniciativa já teve a participação de personalidades como Marcelo Tas, Luiza Helena Trajano, Mateus Solano, Iberê Thenório, a campeã olímpica de vôlei, Fofão.

estudantes participando da simulação da ONU
estudantes participando da simulação da ONU (foto: divulgação)

Para o estudante do 1° ano Rafael Gama, 15 anos, o projeto faz com que os estudantes percebam o quanto eles podem impactar de forma positiva o mundo. "Hoje, sou muito mais politizado em relação à tudo que acontece no meu meio social. Eu achava que eu estava de escanteio, mas agora me considero parte da sociedade, que faço parte da transformação", ressalta.

De acordo com ele, todo o projeto é desenvolvido pelos estudantes. "É muito priorizado o protagonismo dos alunos. O professor só coordena, mas todo mundo é respeitado", explica. Como resultado da assembleia, os estudantes já estão focados em outro projeto que é para reduzir o lixo da escola a zero. "É fruto do nosso trabalho e é muito gratificante. Suamos muito para conciliar tudo", lembra.

O projeto que virou lei

Foi durante uma eletiva escolar no Ensino Médio Integral ECIT Conselheiro José Braz do Rêgo, em Boqueirão, na região dos cariris, na Paraíba, que estudantes do ensino médio pensaram em projeto de lei para salvar as águas do Cariri. "A água é um símbolo do sertão", destaca o estudante Ryan de Oliveira Cavalcante, de 17 anos.

texto do projeto de lei criado pelos alunos
texto do projeto de lei criado pelos alunos (foto: divulgação)

Ele foi um dos que participou da elaboração do PL, o primeiro de iniciativa popular do município, que já virou lei. A legislação cria o Dia Municipal da Água na cidade, em 18 de abril. A data é alusiva à chegada das águas do Rio São Francisco no município, e a ideia é conscientizar a população sobre a importância de preservar o recurso hídrico. "Eu como estudante, posso dizer que está sendo uma experiência incrível. A gente conseguiu entender como funciona o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. Propor essa lei foi muito satisfatório. Um projeto que nunca imaginei fazer parte", destaca Ryan.

Todos na política 

Em ano eleitoral, um projeto que nasceu da iniciativa de uma estudante tem como intuito a educação política de jovens. É o Todos na Política, que hoje já conta com mais de 80 voluntários em todo o país. O projeto, que é virtual, tem mais de 36 mil seguidores no TikTok e mais de 7 mil no Instagram. Nas postagens, os jovens procuram simplificar assuntos complicados de política e falar sobre a importância da participação política. "A maioria dos jovens tem muita dificuldade de relacionar a política que eles veem em jornais, reportagens e na televisão com sua vida cotidiana, e são poucas as escolas que fazem algo para mudar essa situação. Muito disso ocorre porque as instituições de ensino têm carências em setores mais básicos, lidando com problemas como falta de estrutura e abandono escolar", destaca Ana Clara Guerra, de 16 anos, uma das participantes do projeto.

Estudante do Colégio Militar de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, Ana Clara lembra que o interesse pelo projeto surgiu a partir de outro que faz parte na escola e por acreditar que a iniciativa ajudaria a transmitir conhecimentos para jovens do país inteiro. "Me interessei por ser parte dessa iniciativa porque tenho uma enorme curiosidade sobre assuntos relacionados a geopolítica, desde que entrei no Clube de Relações Internacionais da minha escola", lembra. Ana Clara acredita que o projeto é ainda mais importante em época de eleição. "Em época de eleição, nosso projeto incentiva os jovens a não se manterem calados! Precisamos encontrar nossa voz, nossas opiniões, nossas causas, e isso só ocorre através da educação política", afirma.

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