Desigualdade

Defasagem no ensino foi o maior desafio durante o auge da pandemia

Para maioria dos professores, falha nos dispositivos de acesso à internet prejudicou aprendizagem. Pela primeira vez, pesquisa ouviu docentes de escolas rurais

Isadora Albernaz*
postado em 15/07/2022 16:14 / atualizado em 21/07/2022 16:10
 (crédito: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
(crédito: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)

A maioria esmagadora dos professores brasileiros (90%) aponta a defasagem na aprendizagem dos estudantes como um dos maiores desafios enfrentados no processo de educação durante a pandemia, revela pesquisa do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br). O estudo mostra, ainda, que a maior parte dos docentes constatou falha nos dispositivos de aceso à internet para a realização de atividades nas casas dos alunos, sobretudo da rede pública, fator decisivo para o impedimento da continuidade dos trabalhos.

O levantamento, divulgado, na terça-feira (12), foi conduzido pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br). Os indicadores também revelaram problemas sociais: para 72% dos docentes que atuam em escolas públicas, o atendimento a estudantes em condição de vulnerabilidade social representou um desafio nos últimos anos, contra apenas 27% do ensino privado.

Os dados obtidos pelo estudo também concluíram uma desigualdade regional no acesso à internet no Brasil. Nesse aspecto, as principais prejudicadas são as escolas municipais e de áreas rurais. De acordo com o painel da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), 22,8% das escolas rurais e apenas 1,7% das localizadas em áreas urbanas não possuem conectividade à rede. Existem hoje no país mais de 138 mil escolas, 9,7% sem acesso à internet e 2,5% sem fornecimento energia elétrica.

A pesquisa ouviu mais de 1.800 professores entre setembro de 2021 até abril deste ano. Pela primeira vez, o estudo contou com a participação de docentes que atuam nas áreas rurais do país. Entre eles, 36% afirmaram não ter recebido nenhum apoio para promover atividades remotas ou híbridas.

Segundo a pesquisadora do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), Daniela Costa, responsável pelo estudo, o recorte geográfico surgiu a partir da necessidade de ouvir os docentes que lecionam fora dos pólos urbanos para entender melhor a realidade desses ambientes. “Os dados confirmam a hipótese de que o uso de tecnologia no âmbito escolar das áreas rurais é mais dificultada justamente por essas barreiras, sobretudo quando o assunto é levar tecnologias até regiões remotas e distantes de grandes centros. Verificamos isso, principalmente, com as estratégias que exigem mais internet, que são menos utilizadas nessas escolas”, afirma.

Daniela Costa é a pesquisadora responsável pelo estudo
Daniela Costa é a pesquisadora responsável pelo estudo (foto: Arquivo pessoal)

Ela pontua que o atendimento aos alunos de áreas rurais, por exemplo, precisou ser feito, em grande parte (91%), pelo telefone, sendo que 12% utilizaram exclusivamente o aparelho. A falta de aparelhos e acesso à Internet, nos casos dos estudantes de áreas rurais, foi pontuada por 92% dos professores entrevistados. Nas regiões urbanizadas do país o índice foi de 84%.

A pesquisadora observa que é preciso cautela ao comparar escolas públicas e privadas, mas que a desigualdade entre as realidades é perceptível. “De certa forma, as escolas particulares apresentam maior disponibilidade de acesso à tecnologia e recursos digitais educacionais, como plataformas e aplicativos”, diz.

Em relação às plataformas mais mais utilizadas, as escolas privadas recorrem àqueles que exigem maior conectividade. A adoção de plataformas de videoconferência, como Zoom, Google Meet ou Microsoft Teams, por exemplo, representam 91% dos recursos digitais on-line no ensino particular, 82% nas escolas estaduais e apenas 54% nas municipais. Além disso, o número insuficiente de computadores por aluno foi apontado por 82% dos docentes de colégios públicos quando questionados sobre as barreiras para o uso das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) nas escolas.

Para a pesquisadora Daniela Costa, a organização considera positiva a introdução do 5G no país, porém, segundo ela, é preciso, no momento, trabalhar com as tecnologias já existentes, como forma de ampliar o acesso à internet e a qualidade da rede.

Ao Correio, a assessoria de comunicação do Ministério das Comunicações informou que a expectativa da pasta é de que, até o final de 2022, 100% das mais de 13 mil escolas sem internet no Brasil estejam conectadas. O Ministério da Educação (MEC) também foi procurado, mas nenhum representante da pasta retornou até o fechamento desta matéria.

*Estagiária sob a supervisão de Jáder Rezende

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