FESTIVAL LED

"Uma professora me tirou do esgoto", afirma rapper Emicida

Artista afirma que não seria o que é hoje se, aos 9 anos, educadora não percebesse que estava prestes a abandonar a escola

Talita de Souza
postado em 08/07/2022 17:49 / atualizado em 08/07/2022 19:55
O cantor Emicida compartilhou a história de quando uma professora o ajudou a permanecer na escola aos 9 anos de idade -  (crédito: Divulgação/Globo)
O cantor Emicida compartilhou a história de quando uma professora o ajudou a permanecer na escola aos 9 anos de idade - (crédito: Divulgação/Globo)

O racismo causa e potencializa dores, mas a educação antirracista e afetiva pode curá-las. Assim resme o rapper e empresário Emicida, ao compartilhar sua história no Festival Led – Luz na educação, nesta sexta-feira (8), no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro. Um dos artistas de maior visibilidade do cenário nacional, com expressiva luta contra o racismo, o artista afirma que não seria o que é hoje se, aos 9 anos de idade, uma professora não notasse que estava em franco processo de evasão escolar. 

“Na quarta série decidi não ir mais para a escola. Os ataques contra minha pele e meu cabelo ficaram mais agudos. Minha mãe me deixava no colégio, esperava ela virar a esquina e ia para uma praça”, relata.

Ele conta, ainda, que após alguns dias, as inspetoras do colégio e sua professora perceberam a tática  para fugir das aulas. “Um dia fui fazer a mesma coisa e elas correram atrás de mim. Fui correndo e vi um tubo de esgoto. Desci o tubo e fui caminhando, tentando não pisar, e saí em outra rua. Fugi nesse dia, mas minha professora, Rita de Cássia, não desistiu.”

O músico afirma que seus primeiros anos de escola foram muito difíceis. Lembra que, na primeira série, ao perder o pai, ficou ainda mais introspectivo. “Foi a primeira vez que sai do seio da minha família e comecei a sofrer ataques com frequência, por meu cabelo e minha pele. Na época, era a única criança de pele escura na sala e isso se repetiu muito. Na quarta série, junto com o luto, os ataques ficaram bem mais intensificados e eu não aguentava mais.”

Após esses episódio, ainda segundo ele, sua professora perguntou se havia algo que gostasse de fazer, já que era curioso e sempre demonstrou interesse pela leitura, mas não sentia prazer em estudar. Foi quando revelou que amava histórias em quadrinhos e a professora viu um caminho para resgatá-lo, evitando a interrupção de seu crescimento cognitivo, permitindo-lhe fazer, inclusive, as rimas que o levou a ser indicado como melhor artista internacional no prêmio norte-americano BET Awards, em 2021.

“Ela se ligou que eu não gostava de estudar, mas gostava de histórias em quadrinhos. E começou a me dar todas as matérias em histórias em quadrinhos. Todos sabem quanto um professor ganha, quanto trabalho tem. E ela teve todo esses esforço por uma só criança”, disse, emocionado.

“A minha professora não queria que eu ficasse em um bueiro de esgoto a vida toda. Eu existo porque tinha uma professora teimosa, que correu atrás de mim, me tirou do esgoto e salvou a minha vida”, concluiu.

Emicida participou da roda de conversa A ponte para o futuro vem do passado - uma educação crítica e antirracista. Sua história emocionou a educadora Conceição Evaristo, que lembrou ter passado anos de carreira acadêmica auxiliando professores de escolas públicas e de educação básica a cuidarem melhor dos alunos.

Emicida participou da mesa que discutiu educação antirracista no Festival LED no Rio de Janeiro
Emicida participou da mesa que discutiu educação antirracista no Festival LED no Rio de Janeiro (foto: Oxidany/Globo)

Ângela Figueiredo, que estava presente na mesma mesa, também afirmou que teve uma professora que a auxiliou nos estudos. “Todos nós, alunos negros ou não negros de classes populares, tivemos um professor desses que nos observou, que nos acolheu e mudou nossas vidas”, disse.

Movimento LED

O Festival que ocorre nesta sexta e sábado (9/7) é um dos três pilares da iniciativa Movimento LED, promovida pelas organizações Globo e Fundação Roberto Marinho com o objetivo de reconhecer, incentivar e fomentar práticas inovadoras de educação no país.

Além do festival, o Movimento LED oferece premiação, por meio de edital anual, para acelerar novas formas de ensinar e aprender na educação básica, técnica e profissional, e educação não-formal. Cada iniciativa vencedora recebe R$ 200 mil.

Dez iniciativas feitas por estudantes universitários que apresentem soluções criativas para problemas vividos dentro de escolas ou em universidades também receberão um incentivo de R$ 300 mil, no desafio LED - Me dá uma luz aí.

O último pilar do Movimento LED é voltado a oferecer, de maneira gratuita, uma plataforma de aprendizado on-line, denominada Comunidade LED, disponível para pessoas que estão envolvidas ou querem aprender mais sobre novas metodologias, tecnologias disruptivas, experiências de sala de aula e educação inovadora.

Todo o movimento é acompanhado de perto por um conselho consultivo, formado por diversas instituições de ensino, como a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), Todos pela Educação, Centro de Inovação para a Educação Brasileira (CIEB), Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio (ITS), Vale do Dendê e Porto Digital.


*A repórter viajou a convite das organizações Globo e da Fundação Roberto Marinho.


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