Eu, Estudante

SEM AULAS

Escolas de Brazlândia estão sem professores

Por meio de métodos alternativos, profissionais tentam suprir a falta de professores formados em matemática. Secretaria de Educação do DF deve realizar concurso público para efetivos até julho

Escolas da Região Administrativa (RA) de Brazlândia estão sofrendo com a falta de professores desde o início do ano letivo. Além do Centro Educacional Incra 08, localizado na área rural, onde os alunos estão sem professores de matemática desde fevereiro, o Centro de Ensino Fundamental 01 também está sem docente na sala de aula do 9º ano. De acordo com a Secretaria de Educação, a alta demanda impossibilitou o remanejamento de professores na região de Brazlândia, reflexo da falta de profissionais no banco de docentes. Segundo a pasta, há carência de docentes para as disciplinas de matemática, física e artes e língua estrangeira na rede de ensino. 

Desde fevereiro deste ano, o Centro de Educacional Incra 08, localizado na área rural de Brazlândia, está sem professor de matemática. De acordo com a diretora Solange da Cunha Pereira, foi necessário lançar mão de método alternativo para reduzir o prejuízo pedagógico de dezenas de estudantes.

Como ninguém da equipe que compõe a secretaria e a coordenação têm formação na disciplina, a diretora se viu obrigada a solicitar a ajuda do professor por prazo determinado (PD) com licenciatura plena em matemática, para desenvolver apostilas de estudo e correções para as turmas afetadas. “A gente sabe que não é o ideal, mas é uma forma de amenizar a perda dos alunos. Não há como recuperar esse tempo. O conhecimento da matemática é fundamental para a vida inteira”, afirma a Solange.

“A gente sente muita dor no coração. Os alunos perderam para sempre esse aprendizado. Mesmo com o empenho da equipe não é possível resolver todas as lacunas”, lamenta a diretora.

Arquivo pessoal - "A gente sente muita dor no coração", lamenta Solange, diretora do CED Incra 08 de Brazlândia

A falta de reclamação por parte dos responsáveis dos estudantes é outro fator que surpreendeu a diretora. Segundo ela, isso ocorreu somente nos primeiros quinze dias de aulas. "Essa cobrança e participação familiar é muito significativa na luta", frisa.

Ainda segundo Solange, não é a primeira vez que a instituição aponta falhas da Secretaria de Educação. Ela reivindica melhorias e transparência na comunicação com as escolas e lembra que sempre houve uma tentativa de compreender a situação, porém, nunca houve existe um retorno claro. “Estou nessa escola há 19 anos, e nunca vi isso”, revela. O Correio não conseguiu ouvir a direção do Centro de Ensino Fundamental 01 de Brazlândia.

O que diz os estudantes

A estudante Clarice Silva, 17 anos, lamenta a falta de aulas de matemática no CED Incra 8 de Brazlândia. “Está sendo muito difícil, não só para mim, mas para todos os meus colegas. A gente não consegue acompanhar o conteúdo, mesmo com a iniciativa da escola”, diz.

Passar um bimestre inteiro sem aulas da disciplina, segundo Clarice, está atrapalhando o aprendizado em outras matérias que requerem conhecimentos de matemática, como física e química.

Para Clarice, estudar sozinha, em casa, além de ser desafiador, não traz muitos resultados, uma vez que não há possibilidade de acompanhamento com professores formados na área. Porém, afirma, a turma se mostra empenhada em ajudar mutuamente os colegas. “Confesso que não sou muito boa em matemática, mas minha amiga que tem facilidade faz as atividades comigo. E o pessoal da turma sempre está disposto a trocar esses favores”, revela.

Agora, ela implora pela contratação de professores, pois com o desaproveitamento didático, os estudantes da escola não terão como rever possíveis conteúdos que serão cobrados no Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) e no Programa de Avaliação Seriada (PAS).

Na última semana, a Secretaria de Educação nomeou mais 100 monitores, totalizando 671. Já foram solicitadas as nomeações de mais 1.318. A lei que criou o cargo previa 2 mil profissionais. A distribuição ocorre conforme as necessidades dos estudantes.

De acordo com o órgão, foram selecionados 4.100 educadores sociais voluntários para este ano, e a distribuição também acontece de acordo com as necessidades dos estudantes. Ainda segundo a secretaria, casos pontuais de falta de professor são sanados pelas regionais de ensino com a contratação de temporários, que tem um banco de 32 mil docentes. Porém, o número de aprovados no último concurso para alguns componentes curriculares não foi suficiente e, por isso, será realizado um processo seletivo complementar.

A Secretaria de Educação publicou em seu site a realização do Processo Seletivo Simplificado Complementar, visando suprir a carência de professores nas RA’s. O objetivo, de acordo com  a publicação, é contratar professores substitutos para a rede pública. As inscrições serão on-line, e ocorrerão de 6 a 10 junho, no site da banca organizadora. As informações da seleção foram publicadas no Diário Oficial do DF na terça-feira (24).

O novo processo seletivo ocorre em junho devido ao baixo número de aprovados no último concurso para professor substituto. A quantidade de profissionais aprovados não supriu a carência da rede pública em alguns componentes curriculares. As principais carências são de professores de matemática, física, artes e língua estrangeira.

Eles serão designados nos bancos de reserva vinculados às 14 Coordenações Regionais de Ensino (CREs): Brazlândia, Ceilândia, Gama, Guará, Núcleo Bandeirante, Paranoá, Planaltina, Plano Piloto/Cruzeiro, Recanto das Emas, Samambaia, Santa Maria, São Sebastião, Sobradinho e Taguatinga.