O uso indiscriminado de celular e da internet pode ter sido a causa da crise de ansiedade 'coletiva' registrada recentemente na Escola de Referencia em Ensino Médio (Erem), na zona norte do Recife (PE). A unidade de ensino acionou o Serviço de Atendimento Móvel Urgência (SAMU) na tarde do dia 8 deste mês, após 26 alunos apresentarem sintomas de crise de ansiedade.
Os estudantes relataram instabilidades como choro excessivo, falta de ar e tremor. Em vídeos que circulam na internet, eles aparecem deitados no chão enquanto são atendidos por socorristas do Samu.
A crise de ansiedade é provocada por algum gatilho, seja durante o dia ou por uma semana estressante. Esse tipo de transtorno, que atinge, em sua maioria, crianças e adolescentes, é caracterizado pela persistência e é considerado o mal do século por psicólogos e psiquiatras.
Mau hábito
De acordo com o PhD em neurociência,Fabiano de Abreu Agrela, o episódio ocorrido na escola pernambucana tem relação direta com o mau uso do celular e das redes sociais. Segundo ele, esses hábitos estão deixando as pessoas menos inteligentes e o excesso de redes sociais revela transtornos de personalidade, problemáticas que tendem se agravar entre adolescentes.
"O que acontece no cérebro é essa intercepção, uma falta de controle emocional que desencadeia disfunções que acarretam atitudes impulsivas”, explica Agrela, analisando como o uso excessivo da tecnologia pode ser a raiz do problema entre os jovens.
No início da pandemia, Agrela alertou que o Brasil seria o maior consumidor de celular do mundo, o que se confirmou no fim do ano passado. "O brasileiro é o povo mais ansioso do mundo, isso tem relação com a violência, diferenças sociais e agora com a pandemia e questões políticas. Excesso de ansiedade conduz à necessidade de sensações de prazer que são mais fáceis de serem exploradas nas redes sociais, mas este ciclo recompensa e ansiedade acentua-se mais já que, para buscar novas e melhores sensações a ansiedade torna-se constantemente acionada. Essa hiperatividade causa diminuição das regiões da emoção e da inteligência no cérebro colocando a vida das pessoas em risco por diversas consequências." disse o cientista.
Alertou também que o apego exagerado dos jovens com o celular chega a ser até doentio, se tornando uma necessidade incontrolável da qual a pessoa não consegue se livrar. Segundo ele, isso ocorre há muitos anos, mas vem ganhando mais alarde após casos como o dos estudantes do Pernambuco.
Política educacional
O especialista considera ser de extrema urgência a formulação de uma política educacional para combater esses excessos.“Esse acesso descontrolado muda a química cerebral, sobretudo quando essas crianças ainda estão em fase desenvolvimento. Esse tipo de vício é explicado pelo hormônio da dopamina, que é conhecida como neurotransmissores da recompensa.”
A psicóloga e professora Viviane Marçal acredita que a tecnologia deve ser uma aliada da escola e não inimiga da educação e dos alunos. “A escola precisa ser um lugar seguro, para que os alunos saibam gerir crises sociais e lidar com os projetos de vida para que o futuro não seja assustador”, afirma.
Segundo ela, a mentalidade da juventude mudou durante a pandemia e a maioria dos colégios não estava pronta para essa mudança. “Durante os dois anos da pandemia esses adolescente estavam isolados em casa. Nesse período, as mudanças de humor, os problemas sociais e econômicos foram latentes. É preciso saber como lidar com a volta do ensino presencial. Isso não pode ser ignorado pelos pais e pela escola", alerta.
*Sob supervisão de Jáder Rezende