Água potável

Estudantes baianas criam sistema de purificação usando semente de moringa

Alunas vão representar o Brasil na maior feira de ciências e engenharia do mundo, em maio, nos Estados Unidos

*Mariana Albuquerque
postado em 13/04/2022 18:05 / atualizado em 13/04/2022 18:08
 (crédito: Arquivo Felina Bulhões / Divulgação )
(crédito: Arquivo Felina Bulhões / Divulgação )

Três estudantes da Escola Sesi de Barreiras (BA) desenvolveram um processo inovador de filtragem de água que pode beneficiar milhares de pessoas sem acesso à água potável, utilizando pastilhas produzidas com sementes de moringa, espécie também chamada de árvore da vida ou acácia branca. Com o projeto Pastilhas Filtrantes, elas foram premiadas recentemente na 20ª edição da Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace), e conquistaram vaga para participar da maior feira de ciências e engenharia do mundo, que acontece em maio nos Estados Unidos.

O processo teve início no ano passado, quado as estudantes Ana Luiza Oshiro, 16 anos, Maria Eduarda Brandão, 16, e Sarah Fernandes de Oliveira, 17, decidiram criar um processo rápido e barato para garantir água tratada para consumo para moradores de comunidades da região onde moram, banhada pelo Rio Grande.

Sabedoria popular

“A moringa é uma espécie muito comum aqui na região. A gente ouvia falar dos seus benefícios para a saúde e que também servia como filtro. Como aqui tem muitas comunidades ribeirinhas que não têm acesso à água potável, buscamos uma solução que fosse acessível a essa população”, disse Maria Eduarda, ao Correio.

Pelo processo inovador, foi comprovado que uma pastilha de 1gm consegue filtrar até 500 ml de água, podendo ser também proporcionado a quantidade. Além disso, todo o processo de coagulação das partículas da pastilha acontece de forma muito rápida, em torno de 12 a 24 horas.

Inicialmente, segundo Maria Eduarda, a pesquisa e os testes eram feitos em casa, por conta da pandemia. “Tanto os testes quanto os experimentos eram feitos de forma caseira”, conta. Porém, com o incentivo,  os testes começaram a ter maior comprovação científica. Com isso, as estudantes passaram a contar com o apoio do professor pesquisador da Universidade do Estado da Bahia (Uneb) Enoc Lima do Rego e, ainda, ter acesso a laboratórios da Universidade Federal do Oeste da Bahia (Ufob).

“Temos vários planos. Queremos fazer pesquisa de campo, levar o nosso projeto o mais longe possível. Até o dia da viagem tem muito o que ser feito. Queremos desenvolver um trabalho ainda melhor do que o que apresentamos na Febrace”, conta Sarah. “O projeto ficou mais complexo. Com a bolsa e o retorno das atividades presenciais, no ano passado elas conseguiram usar os laboratórios da escola, fizeram testes físicos e de microbiologia”, disse a coorientadora Felina Bulhões.

Testes laboratoriais

No desenvolvimento do o projeto, suas idealizadoras fizeram testes físico-químicos e microbiológicos, que comprovaram a eficácia na eliminação de coliformes totais e toda bactéria E. Coli, que habita naturalmente o intestino das pessoas e de alguns animais, sem que haja qualquer sinal de doença, mas é nociva quando ocorre consumo de alimentos contaminados, causando gastroenterite com diarreia intensa e com muco ou sangue.

“Nossa meta é que todas as populações carentes tenham acesso a esse tipo de tratamento, que esse estudo possa ajudar a vida de outras pessoas ao redor do país e, quem sabe, até do mundo”, diz Maria Eduarda.

Além do primeiro lugar na 20ª edição da Febrace, elas conquistaram, com o mesmo projeto, prêmios de destaque, primeiro lugar em Ciências Biológicas, prêmio destaque Unidades da Federação, e prêmio da Sociedade Brasileira de Bioquímica e Biologia Molecular (SBBq). A feira internacional em que els representarão o Brasil - International Science Engineering Fair – Regeneron ISEF -, acontece entre 7 a 13 de maio, em Atlanta.

Expectativa

De acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma em cada três pessoas no mundo não tem acesso à água potável. No Brasil, segundo o Instituto Trata Brasil, cerca de 83% da população brasileira é atendida com abastecimento de água potável. Porém, os outros 17% (mais de 30 milhões de pessoas, sendo 14% crianças e adolescentes) não têm acesso à água pura.

As garotas, que nunca estiveram fora do país, contam sobre a ansiedade de participar da feira nos Estados Unidos. “Ficamos muito felizes, nunca viajamos de avião e ainda teremos a oportunidade de conhecer pessoas do mundo todo, em uma experiência maravilhosa. Estamos resolvendo os processos de formulários, passaporte e documentação, mas toda essa correria tem uma satisfação muito especial” diz Ana Luíza.

Agora, além de solucionar questões práticas, como passaportes e vistos, as alunas passam a semana aprimorando o projeto e preparando o material que será apresentado em Atlanta.

 

*Estagiária sob a supervisão de Jáder Rezende

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