O Instituto Natura publicou nesta segunda-feira (14) o estudo Ideb-Enem, que apresenta um novo indicador de qualidade no ensino básico nos municípios. A pesquisa de nome, "Um Novo Índice de Qualidade da Educação Básica e seus Efeitos sobre os Homicídios, Educação e Emprego dos Jovens Brasileiros", é inspirada nos moldes do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), mas a diferença para o novo indicador é a análise da contribuição de cada município para a progressão e o aprendizado dos jovens no seu sistema escolar.
Os indicadores usados no cruzamento de informações foram saúde, segurança, empregabilidade e acesso ao ensino superior. Criado pelo governo federal, o Ideb mede a qualidade do ensino nas escolas públicas. Ele é calculado a partir de dados sobre aprovação escolar, obtidos no Censo Escolar, e das médias de desempenho no Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb).
O estudo é encabeçado por Naercio Menezes Filho, professor da Cátedra Ruth Cardoso do Insper, e da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP), e por Luciano Salomão, aluno de mestrado da FEA-USP.
Segundo Naercio, o novo índice pode nortear os municípios na formulação de políticas públicas. “A educação é fundamental para mudar a vida dos nossos jovens. Ela oferece uma certa motivação para a idealização do futuro deles”, afirma o professor.
Para o projeto Ideb-Enem utilizou-se a combinação da proporção entre estudantes de 6 e 7 anos matriculados nos anos iniciais da educação básica que, entre os 17 e 18 anos, prestaram o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), analisando suas notas alcançadas no exame.
De acordo com o estudo, uma boa gestão de ensino possibilita que uma grande parcela de alunos de uma geração continue estudando até o ensino médio, completando essa trajetória sem atraso, e motivados para realizar o Enem, aumentando, assim, a perspectiva de vida.
No último levantamento do Ideb, em 2019, a nota do Brasil nos anos iniciais foi de 5,7 e 4,6 nos anos finais, e de 3,9 no ensino médio. O índice varia em uma escala de 0 a 10.
Agora, por meio do novo índice, o documento analisou as variações na qualidade do ensino básico, entre 2009 e 2014, que estão relacionadas com diferentes indicadores de saúde, violência e mercado de trabalho de jovens de 22 e 23 anos, entre 2014 e 2019.
“Pensar no que esses municípios fizeram para poder melhorar a sua educação já é um grande passo, se os dados apontam que houve uma melhora durante o período estudado”, comenta Naercio. Ele reforça que para proporcionar uma educação de qualidade, o governo local não pode mudar apenas um indicador. O ideal, afirma, é tentar alcançar a raiz do problema, a educação.
Como resultado geral, o estudo aponta que o aumento de um ponto no indicador Ideb-Enem nos municípios está associado a uma queda de 25% nas taxas de homicídios e óbitos por causas externas, ou seja, provocados pela criminalidade, além de aumento de 200% nas taxas de empregos entre os jovens e ampliação de 15% no número de matrículas no ensino superior.
Óbitos e violência
Ao relacionar indicadores de óbitos e violência com os avanços obtidos nos municípios entre 2009 e 2014, observou-se que os municípios bem-sucedidos ampliam a quantidade de alunos que concluem a educação básica e também a qualidade de sua educação medida pelo novo indicador, levando ao aumento das perspectivas e oportunidades dos jovens de 23 e 24 anos, reduzindo o número médio de homicídios nessa faixa etária.
Ensino Superior
Em relação à correlação do indicador com as taxas de ingresso ao ensino superior, foi possível notar coeficientes positivos e estatisticamente significativos para a variação defasada do índice Ideb-Enem no total de matrículas no ensino superior, especialmente nas matrículas em instituições privadas.
Já para as matrículas em instituições públicas, percebeu-se coeficientes positivos, mas não estatisticamente significativos para a variação do índice. Os efeitos mostram que um aumento de 1 ponto no Ideb-Enem está associado a um acréscimo de 19 matrículas, em média.
Emprego
Os resultados da regressão relacionando a variação do Ideb-Enem com a alteração no número de empregos gerados, mostram que um aumento de 1 ponto no Ideb-Enem provoca aumento de 20 empregos gerados liquidamente (admissões menos desligamentos), em média.
*Estagiária sob a supervisão de Jáder Rezende