Investir em inovação é uma tendência que veio para ficar e, no ramo do transporte, não é diferente. Pensar "fora da caixa" para obter bons resultados tornou-se uma necessidade nas companhias de diversas áreas de transportes, seja aéreo ou rodoviário, que precisaram impulsionar seus negócios com a alta demanda de entregas e consumo durante a pandemia. Mas não é preciso estar em uma empresa para buscar inovação. Grandes ideias podem vir de onde menos se espera. No Distrito Federal, alunos das três escolas do Sesi-DF participam e apresentam, neste sábado (26/3), projetos que promovem essa inovação no Torneio Sesi de Robótica First Lego League Challenge (FLL), que tem como tema Cargo Connect, com foco no desenvolvimento de projetos ligados ao transporte e à logística.
Entre treinos com robôs e desenvolvimento de projetos, seis equipes devem competir pelo Sesi-DF. Da escola do Gama, participam as equipes Lego Field e Lego of Olympus. De Sobradinho, Bisc8 e Bono, e de Taguatinga, Albageek e Albatroid. Ao todo, serão 35 alunos na competição, orientados por dois técnicos em cada time. Os projetos vão desde a criação de um sensor para medir a tensão das amarras que prendem bobinas de aço em caminhões, um armário para armazenamento de encomendas, até uma pulseira de silicone, com sensores que alertam o motorista quando ele começa a entrar em estágio de sono.
A temática da temporada deste ano também está alinhada ao nono objetivo de desenvolvimento sustentável das Nações Unidas (ONU), que busca construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovação. Na disputa, os competidores serão avaliados em quatro quesitos: projeto de inovação, desafio do robô (cumprimento de missões pelo robô de Lego), design do robô e core values (valores fundamentais e trabalho em equipe). As equipes precisam desenvolver e programar um robô autônomo para executar missões em uma arena com o tema da temporada, encontrar e desenvolver uma solução inovadora para um problema do mundo real dentro da temática, e estar norteadas por valores fundamentais.
André Alcântara, interlocutor-técnico da robótica no Sesi-DF, explica que o torneio é mundial e, a cada ano, promove uma temática diferente. "Nos últimos anos, são solicitadas soluções para problemas impulsionados pela pandemia. O intuito é promover ambientes de inovação, com crianças. Acreditamos no potencial delas, que vivem uma geração totalmente diferente", pontua. De acordo com o técnico, os estudantes são incentivados a pensar "fora da caixinha". "Pensar em inovação não é algo totalmente novo. É sobre melhorar o que já existe, pensar em um problema real, fazer um projeto com foco em uma solução", completa.
Neste ano, o torneio funcionará em formato híbrido. No primeiro dia, on-line, a transmissão da cerimônia de abertura será pelo YouTube, a partir das 9h30, quando os estudantes vão apresentar o projeto de inovação. Neste sábado, as competições serão presenciais, no Sesi Taguatinga, com batalhas de robôs, a partir das 8h30. Em todo o país, serão realizados torneios em 15 unidades da Federação. O evento não será aberto ao público. As melhores equipes de cada competição garantem vaga para a disputa nacional, no Festival Sesi de Robótica, que ocorrerá em São Paulo, de 27 a 29 de maio. Participarão da etapa regional sediada em Brasília 18 equipes do Centro-Oeste: 14 do Distrito Federal, duas de Mato Grosso do Sul, uma de Goiás e uma de Mato Grosso.
Expectativa
A estudante Jane Evilynn de Melo, de 16 anos, cursa o 2º ano do ensino médio, e conta que este será o primeiro torneio que participa. Ela faz parte da equipe Albageek, que levará para o torneio um sensor para medir a tensão das amarras que prendem bobinas de aço durante o transporte desse tipo de estrutura em caminhões. Ela conta que a equipe, formada por seis estudantes, fez uma pesquisa de campo para entender como o produto é transportado. "Vimos que o problema estava nas amarras que prendem as bobinas dentro de um berço. Esse berço é solto no caminhão, e as amarras não são tão resistentes", pontua.
Foi quando a equipe decidiu criar o dispositivo, denominado Geek Tration Design, que mede a tração e manda a informação para os caminhoneiros, garantindo a segurança do trabalho. Jane conta que montar o projeto foi desafiador, principalmente porque toda a equipe é iniciante. Apesar disso, garante que a experiência tem sido incrível. "Crescemos muito aqui dentro. Tem pessoas de 12, 14 anos. Já aprendemos coisas que muitos adultos não conseguem fazer e isso é o que nos deixa animado, inclusive. É surreal parar para pensar que crianças, jovens desenvolveram algo que pode chegar ao mundo inteiro. E ainda mais legal é poder solucionar problemas que fazem parte do cotidiano, da vida de alguém", explica.
Técnico da equipe Albageek, o professor André Mota diz que o torneio vai além da programação e robótica. "Os alunos são de diferentes idades, e desde os mais novos aos mais velhos começam a adquirir habilidades com o torneio, que vão colocar em prática quando adultos", pontua. Um dos desafios para os técnicos que acompanham os jovens, segundo André, é o cuidado em não interferir além do necessário. "O objetivo é que eles sejam o mais autônomos possíveis, que atuem como protagonistas. E isso faz com que eles criem senso de responsabilidade, dividam tarefas. Dá uma maturidade que não vai ser encontrada só na sala de aula. É incrível ver o crescimento e o que sai da cabeça deles, as ideias que surgem", completa.
Programação
Ir além da programação, dos projetos de inovação, crescer e amadurecer, é uma realidade que é vivida pelos estudantes que participam do torneio, segundo o estudante do 2º ano do ensino médio, Igor Santarém, 16, integrante da equipe Lego Field, do Sesi Gama. Ele conta que, este ano será a quarta e última temporada como participante e que já acumula diferentes histórias que o ajudaram a crescer como pessoa. "Eu tinha muito problema em me apresentar, já passei por situações em que acabei chorando ou passando mal. Era algo que me incomodava muito. Através do torneio de robótica mudei isso, superei a timidez, e comecei a aplicar valores que aprendemos só na robótica", garante.
Disciplina, foco, organização, doação. Estes são alguns dos valores que, segundo Igor, podem ser aprendidos através do trabalho na robótica. "Alguns membros da equipe estão entrando pela primeira vez na robótica, e poder passar os conhecimentos, conversar, interagir, foi algo fácil e super interessante", defende. A equipe apresentará, no torneio, a No Sleep, uma pulseira de silicone com sensores que alertam o motorista quando ele começa a entrar em estágio de sono. "Nós vimos que o sono é um problema frequente entre os caminhoneiros, e causa muitos acidentes no Brasil e no mundo. Então estamos bem empolgados em apresentar o projeto, porque sabemos que ele vai ajudar muitas pessoas", ressalta.
O técnico da equipe Lego Field, Wandersom Gomes, o professor completou o raciocínio de Igor, e falou sobre a importância da robótica para os jovens. "Ela trabalha valores que impactam na vida deles, como o senso de responsabilidade, o planejamento, a inclusão, o trabalho em equipe, o respeito e aceitação. Tudo isso traz amadurecimento ao longo da temporada", garante. "A robótica sempre se renova. É a última temporada do Igor, ano que vem ele não pode mais participar, por conta da idade, já que o torneio permite jovens apenas até os 16 anos. Mas os novos integrantes aprenderam muito. E isso é legal, como um passa o bastão pro outro e aprendem juntos", reitera.