Aprovado ainda em 2017, o Novo Ensino Médio deve ser implantado em todas as instituições de ensino públicas ou particulares no primeiro semestre letivo de 2022. Mesmo com os desafios impostos por essa mudança, algumas escolas mantêm o otimismo e uma boa expectativa, é o caso do Colégio Marista da Asa Norte, que pretendia adotar o novo sistema antes mesmo da legislação.
De acordo com a vice-diretora da unidade, Luciana Wink, a ideia surgiu a partir do desenvolvimento de um projeto da Rede Marista. O Projeto Estratégico denominado De(S)Colar Ensino Médio propôs a criação de um grupo de trabalho para construção do percurso de implementação para os colégios da rede, entre eles o Marista João Paulo II. “A proposta chegou pautada pela necessidade de ressignificar e descolar o que já não atende ao tempo atual, com contextos e realidades diversas, onde as juventudes expressam suas visões de mundo e experienciam outras vivências de forma plural e imersa em um mundo em constantes transformações”, pontua Luciana.
A vice-diretora continua, argumentando que “novas habilidades são necessárias para que se dê conta dos desafios atuais”, e que desde 2018 têm se traçado uma trilha de estudos, pesquisas, grupos operativos e formações com estudiosos ligados a currículo, juventude e conhecimentos acerca da BNCC. A etapa final foi a apresentação do desenho curricular que hoje está proposto, e dividido em Formação Geral Básica e Itinerários Formativos”, conclui.
Segundo o colégio, o ano letivo de 2022 promete se tornar um marco na preparação de seus estudantes do ensino médio para os desafios da vida acadêmica e profissional futuras. Com a nova base curricular do ensino médio, a carga horária do colégio mudará de 2,6 mil para 3 mil. “Ter um novo Ensino Médio já era discutido na Rede Marista e a nova legislação nos deu oportunidade para implementar conceitos e práticas que vinham sendo refletidos anteriormente”, comenta o diretor-geral, Luiz Gustavo Mendes. De acordo com a instituição, a nova estrutura também traz novidades para aprofundar e estimular o conhecimento.
A escola deve implantar cinco novas linhas de formação, chamadas de percursos optativos investigativos, nas quais os estudantes podem escolher entre Ciências da Saúde e da Vida, Contextos e Movimento do Século XXI, Cultura Digital, Educação Financeira e Processos Criativos em Múltiplas Linguagens. Para a instituição, esta é uma oportunidade histórica de revitalização do currículo do ensino médio, que traz a oportunidade de aproximar a juventude. Além da qualificação do desempenho acadêmico dos estudantes e ampliação das capacidades da escola em responder aos desafios do Século XXI.
Os centros de ensino devem conduzir seus estudantes a aplicar os conceitos trabalhados nas áreas do conhecimento por meio de propostas diversificadas — como oficinas, seminários, laboratórios e projetos. O estudante poderá aproveitar áreas de conhecimento como ciências da natureza, ciências humanas, linguagens e matemática. Os eixos estruturantes são empreendedorismo, investigação científica, mediação e intervenção sociocultural e processos criativos.
Mas, apesar disso, a formação geral básica deve permanecer. Ela será estruturada pelas quatro áreas do conhecimento obrigatórias, o que compõe 600 horas anuais e será distribuída nos três anos do ensino médio. Os pais dos estudantes também comentam essa mudança. Para Dunia Aleixo, mãe de aluna ingressante do ensino médio, “dá um friozinho na barriga ver o filho grande, começando a tomar suas próprias decisões, porém tranquila porque ela tem, além do apoio de nós, pais, o apoio da equipe de educadores e coordenadores do Marista”.
Para a estudante Beatriz Vilella, do 9º ano ensino fundamental, o momento gera expectativas. "O ensino médio é um desafio de extrema importância na caminhada de um estudante. E é por isso que estamos esperando, com empolgação, a chegada dessa nova etapa”, comenta a estudante. “Assim, estamos com altas expectativas com as melhorias deste novo modelo de ensino, que contribuirá para o nosso futuro”, conclui.
O especialista em educação e doutor em ensino de química Gerson de Souza diz que o principal benefício dessa nova base curricular do ensino médio é iniciar uma formação mais sólida na área que o estudante pretende continuar estudando. “No entanto, isso compromete a formação em outras áreas, dificultando que o estudante possa mudar de ideia em relação ao seu futuro profissional. Além disso, há por parte dos especialistas um grande temor de que esses percursos acabem não sendo realmente escolha dos estudantes, pois seu desejo pode não ser contemplado pelo que a escola oferece“, explica.
Para ilustrar seu argumento, Gerson diz: “Imaginemos um exemplo: uma escola que não tenha em seu quadro professores de exatas suficientes a oferecer percursos formativos nessa área, pode oferecer apenas percursos voltados para a área de humanas. Desta forma, deixará muitos estudantes órfãos em seus sonhos. Em grandes centos talvez esses estudantes possam buscar outras escolas que atendam seus anseios, mas nas pequenas cidades isso será praticamente impossível. Além disso, essa busca pode envolver gastos com transporte, por exemplo, inviáveis para muitos estudantes de escolas públicas”, esclarece o especialista.
*Estagiária sob a supervisão da subeditora Ana Luisa Araujo