Eu, Estudante

EDUCAÇÃO NA PANDEMIA

Debate no Senado prevê recuperação lenta dos prejuízos da pandemia na educação

Definido como "quadro catastrófico" pelo senador Flávio Arns, os prejuízos na educação causados pela pandemia podem demorar para serem reparados

Participantes da reunião da Subcomissão Temporária para Acompanhamento da Educação na Pandemia, nesta segunda-feira (6), concluíram que a gestão da educação neste período de pandemia foi precária em vários lugares do país. A reunião, que ocorreu no Senado, também revelou que será necessário muito tempo e vontade política para a recuperação dos prejuízos.

O presidente da sessão, o senador Flávio Arns (Podemos-PR), defendeu que o orçamento determine mais recursos para o setor. Na reunião, o político usou uma frase do ex-procurador-geral do Ministério Público do Paraná, Dr. Olympio Sotto Maior, para ilustrar seu argumento. A frase diz que “lugar de criança, e adolescente e da educação é no orçamento”. 

Para Arns, a educação brasileira vive um "quadro catastrófico" e o motivo, além da pandemia, é a desigualdade estrutural que marca a sociedade. O acesso precário à internet impediu que dezenas de milhões de crianças e adolescentes assistissem às aulas. Para os participantes da audiência, o país tem grandes dificuldades de desenvolver políticas públicas para o acesso amplo à internet e este é um dos maiores desafios do Brasil. Segundo dados da Fundação Lemann, 25% dos estudantes não têm acesso à internet no país.

Ao todo, cinco pessoas participaram do debate. Além do senador, a diretora de educação da Fundação Lemann, Camila Pereira; a representante também da Fundação Lemann, Bárbara Pensari; a procuradora da República, Maria Cristina Manella e o vice-presidente da Confederação Nacional de Municípios (CNM), Jair Souto.

Para Jair Souto, as prefeituras precisam de apoio técnico e financeiro dos estados e da União para recuperar o dano causado pela pandemia. Souto disse ainda que “o prejuízo educacional é profundo. E não adianta nos iludirmos: levará muito tempo para a recuperação, pelo menos parcial, das perdas”.

Ele também cita a amplitude da desigualdade de oportunidades entre ricos e pobres. Além destes argumentos, o vice-presidente da CNM fala da capacidade e flexibilidade de investimento, e a maior preparação do ensino particular, e ressalta que a readequação no ensino público precisa de mais cooperação técnico-financeira dos outros entes. “Não podemos tratar os desiguais de forma igual. Os municípios devem ter essas diferenças consideradas na elaboração de políticas públicas de forma regionalizada. Temos que investir na universalização da internet de qualidade e equipamentos de software, por exemplo”, afirma.

Camila Pereira, da Fundação Lemann, ressalta a necessidade de recuperar o interesse pela educação por parte de dezenas de milhões de estudantes. Segundo pesquisa realizada pela Agência Senado, Datafolha e Itaú Social, com pais de crianças, entre maio de 2020 e setembro de 2021, 34% dos pais afirmam que os filhos perderam o interesse pela escola.

Outro dado mostra a insegurança alimentar, no qual 34% das famílias dizem que a quantidade de comida foi menor do que a desejada e insuficiente. Um levantamento do Todos pela Educação mostra que o número de crianças entre 6 e 14 anos fora da escola aumentou 171% em relação a 2019.

Camila Pereira também disse que o Brasil foi o país que manteve as escolas fechadas por mais tempo, na contramão do que foi feito pelos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), grupo de 35 nações com economias mais avançadas. Esse quadro também foi mencionado pela procuradora da República, Maria Cristina Manella Cordeiro. De acordo com ela, o Ministério Público teve que entrar na Justiça para forçar a reabertura Institutos Federais.

Fonte: Agência Senado