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Ensino híbrido veio para ficar? Sim, é uma opção para as escolas

Para especialistas, mesmo com o retorno da maioria dos alunos à escola, o ensino que mescla aulas presenciais e remotas é uma realidade que veio para ficar. Modelo pode ser usado em várias possibilidades

Ao longo dos últimos dois anos, o ensino a distância (EAD) foi protagonista nas escolas. Os estudantes precisaram se adaptar à nova realidade diretamente de casa, e os professores tiveram de se reinventar. Essa tendência fez com que a transformação digital acelerasse, e o que estava previsto para “um futuro não tão distante” virou realidade em poucos meses, desde a chegada da pandemia da covid-19. Agora, com o retorno gradual das aulas presenciais, a discussão por novas metodologias de ensino que personalizam a educação ganha um novo capítulo.

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Dentro desse contexto, especialistas afirmam que a modalidade híbrida é a tendência para a vida escolar pós-pandemia. Mesmo que as escolas optem por voltar 100% presencial, esse modelo tende a ser usado, por exemplo, na oferta de aulas complementares ou extracurriculares.

Em outubro do ano passado, o Conselho Nacional de Educação (CNE) decidiu que as escolas têm autonomia para manter o ensino remoto até dezembro de 2021, ajustando as necessidades de cada público e instituição. Atualmente, o combinado é que ocorra aulas tanto presenciais quanto remotas, o chamado ensino híbrido. Esse modelo propõe que a aprendizagem aconteça tanto no espaço físico da sala de aula quanto em plataformas digitais.

O diretor da Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed), Wellinton Baxto, explica que a tendência é que o ensino remoto diminua gradativamente e, consequentemente, o modo híbrido seja incorporado. Segundo o diretor, a modalidade já estava sendo implementada nas instituições de ensino superior ao longo dos últimos anos. “Houve uma publicação, a portaria 2.117/2019, divulgada pelo Ministério da Educação (MEC), que dispõe a oferta da carga horária da modalidade a distância em cursos de graduação presencial. Essa portaria já permitia que cursos tivessem disciplinas até 40% na modalidade a distância”, recorda.

Para Wellinton, a educação a distância pode ajudar a educação nacional como um todo, não só a superior. “O que precisa é que instituições invistam em educação, no corpo docente, na infraestrutura adequada para cada segmento. Sem esse aporte financeiro, não conseguiremos alcançar a qualidade desejada nos cursos”, ressalta.

O diretor recorda, ainda, que o ensino híbrido não é uma modalidade inserida na legislação federal. “Hoje, o que temos é o modelo a distância e o presencial. O que entendo é que não deve haver distinção entre modalidades. A educação deve ser tratada como um todo, sem distinção e, de acordo com as condições da instituição, seja ensino básico ou superior, ofertando mais ou menos recursos tecnológicos”, pontua.

Dificuldades


A enfermeira Eliane Duarte de Souza, 44 anos, é mãe da estudante do 1º ano do ensino médio Letícia Duarte Paiva, 15, e conta as dificuldades que sentiu durante o período das aulas remotas. “Foi um pouco desafiador porque eles (jovens) perderam o contato físico. Psicologicamente e emocionalmente, sentiram muito isso. Eu vi um pouco de ansiedade nela durante esse período, e a gente foi tentando administrar. No geral, ela conseguiu se sair bem, porque a escola oferece muitos recursos, as aulas eram ao vivo e ela conseguia interagir com os professores”, diz.

Eliane conta que, quando o colégio deu a oportunidade de os estudantes retomarem para as aulas presenciais, a família não hesitou e, de imediato, colocou a filha na modalidade híbrida, alternando uma semana presencial com outra remota. “Ela ficou mais confortável, porque sentia falta do contato. Na época do remoto, sentia também muita dor de cabeça, porque ficava muito tempo na frente do computador. Então, foi um desgaste muito grande”, explica.

Desde o início do ano, a estudante tem participado da aula no modelo híbrido. Letícia conta que a alternativa foi bem-aceita. “Eu não tive tantas dificuldades e, apesar de problemas de internet, a escola foi bem organizada, criou estratégias, como plantões de dúvidas. Só que, no presencial, a gente acaba tendo uma experiência mais completa e fica mais fácil de entender as matérias, principalmente as que tenho mais dificuldade”, pontua Letícia.

Apesar de preferir o período regular das aulas no modelo presencial, Letícia afirma que as extracurriculares no modelo remoto são bem-vindas. “Faço parte dos clubes de biologia, de história e do jornal da escola. A maior parte deles, hoje, acontece só no on-line, mas tem alguns tanto no presencial quanto no remoto. Às vezes, tenho que passar o dia na escola porque não tenho como voltar pra casa e assistir aula à tarde. Nisso, perco muito tempo”, ressalta. “Acho bem interessante os próximos anos serem no modelo híbrido, e acredito que muitas tecnologias, que tenham sido mais utilizadas por conta da pandemia, vão ajudar e facilitar”, diz.

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Para fazer dar certo

A diretora pedagógica do Colégio Iesb, Dila Lira, explica que o ensino híbrido já se consolidou no meio acadêmico. “Muito dificilmente vamos conseguir deixar os benefícios que ele nos trouxe. Não foi um ensino ruim, trouxe muitas possibilidades que até então não eram vistas. Ele veio para ficar, mas não da forma como é hoje, com os alunos indo uma semana presencial e outra on-line, mas aplicando novas técnicas para respeitar as particularidades das duas modalidades”, pontua. “É muito diferente dar aula no ensino remoto e no presencial. Quando mistura, são criadas certas dificuldades para o professor e o aluno, e ele acaba tendo que se dividir”, completa.

Por isso, Dila reitera que, para o modelo híbrido dar certo, é preciso que as escolas façam a separação do remoto com o presencial. “É possível que, para 2022, tenham algumas disciplinas ou monitorias, por meio do ensino híbrido, só que mantendo a distinção entre o que é remoto e presencial, para que se preserve o que há de melhor. Uma vez misturado, isso pode se perder”, diz.

Para a diretora, é importante a aplicação do conhecimento na prática, valorizar as oportunidades que as novas tecnologias ofereceram dessa pandemia. Dessa forma, a escola consegue respeitar as particularidades e unir as modalidades. “Foi tão enriquecedora a quantidade de livros, de palestras. Eles descobriram a aplicação do conhecimento na prática. Conseguimos, por exemplo, um especialista para falar sobre tartarugas marinhas, o que seria difícil se não fossem as tecnologias. Isso mostrou a importância e deu um novo sentido ao que estavam aprendendo”, justifica.

Prós e contras


A estudante do 1º ano do ensino médio Mariany Esther de Lima Carvalho, 16 anos, foi uma das pessoas que conseguiram fazer da sua casa, a sala de aula. Ela continua no modelo remoto e conta que gosta. “Eu consegui participar das aulas de casa, tirar dúvidas com mais facilidade, e percebi que colegas perderam a vergonha também, começaram a participar mais das aulas. Começamos a ter muito mais debates”, explica.

Para fazer o ensino a distância dar certo, Mariany seguiu à risca uma rotina, e a disciplina com os horários tem ajudado nas aulas. “Nas primeiras provas, percebi que o que caía era o que os professores falavam em aula. E aí comecei a prestar muita atenção à aula. Além disso, para conseguir fixar, acordo 1h30 antes, e assisto à aula on-line da matéria”, diz.

Mesmo com pontos positivos, a distância começou a afetar o emocional da estudante. “Comecei a ver minhas amigas voltando e conversei com minha mãe. Decidimos voltar apenas para as aulas à tarde, que são monitorias e extracurriculares, porque há poucas pessoas”, diz. “Ficar em casa é bom, mas o contato faz falta, né? Estava com muita saudade dos professores e colegas.”

Para a mãe de Mariany, a administradora Katiucia Lima, 42, o modelo híbrido deve continuar, mesmo depois que tudo isso passar. “A pandemia nos trouxe essa realidade e acho que não conseguimos mais voltar. Vamos andar daqui pra frente. O modelo híbrido funciona, mas as responsabilidades têm de ser bem divididas. Infelizmente, não consigo acompanhar 100% o que a Mariany faz, mas ela conta, e a gente vê que não são todos que têm a mesma interação com o modelo remoto”, ressalta. “Eles precisam ter socialização, saber trabalhar em equipe, juntos. O híbrido é bom porque oferece isso, ela tem o espaço dela, faz a gestão e convive com os colegas e amigos”, completa.

Atenção dos pais


De acordo com a psicopedagoga e professora do Centro Universitário de Brasília (Ceub) Ana Paula Sampaio, o modelo híbrido traz vantagens para o novo educar do país. “Propõe melhor flexibilidade de rotina, de poder ter o conforto de estar em casa, de até inserir algum descanso maior nesses horários rígidos de atenção em sala de aula. Entretanto, quando falamos de educação infantil, as crianças perdem no encontro com o outro, nas interações, nos movimentos, na aprendizagem que é social, que é cultural”, pondera.

Para a educadora, o Brasil ainda enfrenta dificuldades para lidar com o retorno seguro. “A vacinação não tem sido plena e cada família tem um modo de se proteger nesse contexto. Infelizmente, nem todas as escolas adaptam o ensino a distância, e isso acaba gerando mais frustração, tanto dos pais quanto das crianças.”

Mas é possível tirar proveito da atual situação, como ensina Ana Paula: “Fazer escolhas que estejam em consonância com aquilo que sua família acredita ser melhor, inclusive priorizando o que a criança tem gostado e se adaptado mais. Acho que é um bom momento de ouvirmos mais nossas crianças, de acreditar na possibilidade de elas escolherem o modo como se sentem melhor para aprender”.