O final de 2021 se aproxima, e é chegada a hora de os pais decidirem em qual instituição de ensino o filho estudará no próximo ano letivo. Seja para renovar a matrícula, seja para buscar um novo colégio, a tarefa requer muita reflexão e cuidado por parte dos responsáveis. Especialistas alertam: é preciso atenção redobrada aos pré-requisitos para a escolha, para que o processo de aprendizagem das crianças não seja comprometido.
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Mestre em tecnologias emergentes da educação do curso de pedagogia do Instituto de Ensino Superior de Brasília (Iesb), Junior Mariz explica que não existe opção certa ou errada. “O que deve servir como incentivo principal é o sentido dessa escola em relação à dinâmica do dia a dia da família. Ela precisa ser uma extensão do que a criança vê em casa, dos valores sociais e pessoais que a família prioriza. Vivemos uma vida muito agitada, e a escola tem que fazer parte dessa rotina diária”, explica.
Mariz adverte, porém, que os pais não devem terceirizar a educação, jogando toda a responsabilidade para o colégio. “A escola é apenas um pilar entre a vida em família e a vida social da criança. É muito importante que os pais acompanhem o desenvolvimento educacional, porque só assim vão conseguir auxiliar o filho. Alguns tomam um susto quando as crianças não atendem às expectativas escolares, e criam certa frustração. Mas se esquecem de observar os sinais que as crianças dão, porque não são todas que têm autonomia para pedir ajuda, para se expressar dizendo que não gostam da escola”, diz.
Para o educador, estudar precisa ser um processo prazeroso, e é importante que a criança ganhe autonomia, principalmente nas séries iniciais. “Isso só é feito de forma saudável se os pais conseguem enxergar a melhor forma de seu filho efetuar esse processo”, completa.
A servidora pública Luciana de Oliveira Martins, 43 anos, é mãe da Luísa, 3, estudante do maternal III; Vinicius, 10, aluno do 5º ano; e Gustavo, 14, do 9º ano do ensino fundamental. Ela conta que os valores que a escola apresenta para os alunos são importantes para definir a instituição em que os filhos estudarão. “A gente busca uma escola que vá de acordo com o que acontece dentro de casa. Assim como eu acompanho as tarefas, os estudos para as provas, para nós, é preciso que a escola acompanhe o que é ensinado em casa”, justifica.
Luciana explica que a família está em busca de um novo colégio para o filho mais velho. “Ele vai entrar no ensino médio e manifestou o desejo de uma escola de maior concorrência”, justifica. Agora, a mãe tenta encontrar um local que una as duas vertentes: boa grade curricular e bons valores. “Preciso considerar o desejo dele. Se ele quer mais,
tenho que oferecer mais. Quero que meu filho seja um profissional de sucesso, mas que seja um cidadão no mais amplo sentido da palavra.”
Pré- requisitos
O especialista Junior Mariz destaca alguns pontos a que os pais devem estar atentos. É importante que os responsáveis tracem um plano para o dia a dia dos filhos, levando em consideração os compromissos e afazeres sociais. “Um dos primeiros fatores é a logística, no sentido de como o pai vai adequar a vida da criança com o dia a dia na escola, na família e no social. Deve ser avaliado se ela estudará em uma escola integral, semi-integral ou efetivo, por exemplo”, pontua.
Outra questão que deve ser avaliada é o projeto pedagógico da instituição de ensino. Para Mariz, nesse ponto, a família pode se basear naquilo que acredita ser importante para a construção e o desenvolvimento da criança ou do jovem. “Vamos ter escolas de todos os tipos e desejos, desde as mais simples às mais modernas. Tem a que promete que o filho vai aprender por meio de projetos, outras vão dizer que promovem o desenvolvimento por meio da solução de problemas reais. Outras garantem que o diferencial é a inclusão de pais, funcionários e alunos nas decisões da instituição. Não é preciso conhecer todas as linhas pedagógicas, mas os pais devem ter a sensibilidade de enxergar como os filhos se interessam pelos assuntos para poder escolher qual seguir”, ensina.
A estrutura do colégio também precisa ser analisada. “É preciso observar se o discurso da escola combina com a estrutura apresentada. Se existe espaço físico ideal, se há brinquedos que estimulem a criatividade, se há livros com diversidade de temas, se há muitos espaços improvisados e locais que os estudantes vão potencializar a criatividade”, cita. “A instituição deve oferecer segurança, sempre com cuidado quanto ao limite entre o seguro e o excesso de zelo”, completa.
Por fim, o especialista reforça a atenção que se deve ter com os funcionários — desde o da limpeza até professores e coordenadores. “É preciso avaliar se eles são felizes no local de trabalho. É muito difícil que o professor realize seu ofício se ele está insatisfeito. Observe se aparentam estar relaxados e, principalmente, se há formação continuada, se a escola se preocupa em oferecer cursos de capacitação, se há reuniões constantes. Isso é importante para que revisem suas práticas no dia a dia e busquem sempre melhorar.”
Hora de sair
Saber se é o momento de trocar o filho de escola também é um desafio para os pais e envolve uma sucessão de detalhes que devem ser observados. A professora Rosamilda de Jesus Feitosa, 38, é mãe de Davi, 7, que estuda no 2º ano do ensino fundamental, e Bárbara, 17, aluna do 2º ano do ensino médio. Ela conta que a filha mais velha foi diagnosticada com transtorno de deficit de atenção com hiperatividade (TDAH) e passou por um processo difícil de adaptação no colégio antigo, até receber o laudo. “A escola não tinha estrutura, achavam que ela era mimada, tinha preguiça, quando, na verdade, era o transtorno. E eles não tiveram muito interesse em ir atrás, compreender o que ela tinha”, diz.
Foi quando a família decidiu procurar outra instituição de ensino. “Eu sempre busquei por escolas acolhedoras, que demonstram atenção aos meus filhos, principalmente depois do diagnóstico da Bárbara. Hoje, ela é acompanhada por psicólogo e neurologista e, por muito tempo, por uma pedagoga também”, diz. Além dos valores, Rosamilda diz que a família priorizou a equipe técnica da instituição. “Costumo falar que a gente tem que procurar o local que seja a extensão da nossa casa, então, que a escola seja uma parceira. A Bárbara foi muito bem acolhida na atual escola, sempre teve um profissional capacitado à disposição”, completa.
De acordo com a psicopedagoga e professora do Centro Universitário de Brasília (Ceub) Ana Paula Sampaio, é importante saber, também, a hora de tirar o filho da escola. “O primeiro ponto é avaliar se a criança está se sentindo bem no local. Às vezes, ela não gosta de ir, chora, apresenta sintomas físicos de ansiedade, como dor de barriga e cabeça, que devem nos colocar em estado de alerta. É a hora de rever se essa instituição continua sendo acolhedora e boa para o desenvolvimento da criança”, pontua.
Quando a escola começa a levar muitas queixas para a família, também é preciso haver atenção. “Quando há reclamações de mau comportamento, é preciso ficar atento. Mas, quando fazem muitas queixas e reclamações e não apresentam soluções, ou não têm uma equipe técnica multidisciplinar que acolha, que proponha trabalhar junto tudo isso, é preciso rever”, ressalta.
Ana Paula reforça, ainda, que, em caso de crianças diagnosticadas com doenças como autismo, TDAH, entre outras síndromes, é preciso haver um cuidado maior. “Será que a escola tem o recurso ou o apoio? Será que a criança se adaptou ou gostou? É um cuidado a mais que temos que ter com esse aluno. Então, se não há resposta para o estímulo e desenvolvimento desses jovens, também é interessante a mudança, até porque ele precisa de um apoio maior devido a essas dificuldades do seu neurodesenvolvimento.”