Quando chega a hora de introduzir o filho ao ensino de uma segunda língua, é comum que uma dúvida venha à mente dos pais: ensino bilíngue ou escola de idiomas no contraturno? No mundo globalizado em que vivemos, aprender uma língua estrangeira, com destaque para o inglês, desde os primeiros anos de vida, torna-se um diferencial importante que poderá abrir portas profissionais e pessoais no futuro.
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Um levantamento da British Council sobre as habilidades profissionais mais importantes para o mercado apurou que 48% das empresas consideram o domínio do inglês como uma competência básica essencial para exercer atividades dentro das instituições. Isso demonstra que a fluência no idioma não é apenas um diferencial, mas um requisito para a rotina de trabalho de muitas empresas, inclusive dentro do território brasileiro.
A diretora-executiva da Casa Thomas Jefferson, Lucia Santos, concorda que o inglês está sendo cada vez mais requisitado. “Facilita viagens e aumenta as chances de se conseguir um bom emprego. Além disso, crianças e jovens que aprendem sobre uma nova cultura desenvolvem uma visão de mundo mais ampla e se tornam cidadãos mais tolerantes às diversidades”, comenta.
O aprendizado de uma segunda língua pode ser oferecido tanto no contraturno da grade escolar, quanto incorporado à proposta da escola, como é o caso do ensino bilíngue — em que o colégio trabalha com uma proposta acadêmica em duas línguas diferentes. Ou seja, as duas convivem no ambiente escolar e têm o mesmo peso na grade curricular.
Segundo a diretora de admissions da Mapple Bear, Silvia Tzemos, a escola oferece uma imersão no inglês e no português. O modelo de ensino foge do tradicional à medida que as aulas são mais dinâmicas, estimulam a participação dos estudantes, além do desenvolvimento de projetos em grupos.
“A nossa proposta traz tudo de bom que é a criança ser bilíngue e vivenciar uma metodologia internacional, mas, ao mesmo tempo, os conteúdos ensinados são oferecidos tanto em português quanto em inglês”, explica Silvia.
Dependendo da faixa etária, a dinâmica de ensino muda um pouco. De 1 a 4 anos de idade, todas as aulas e atividades são 100% em inglês. Já a partir dos 5 anos, a metade de tempo de instrução do aluno é em português e a outra metade, na língua inglesa. A coordenadora observa um crescimento do interesse de pais por esse tipo de ensino nos últimos anos.
Além de proporcionar maiores oportunidades relacionadas à vida profissional do aluno, o ensino bilíngue pode promover uma série de benefícios no desenvolvimento de crianças e adolescentes. “Há várias pesquisas que mostram a questão da plasticidade do cérebro, que a criança fica mais habilidosa no raciocínio lógico, na resolução de problemas. Além disso, ela melhora as habilidades socioemocionais, torna-se mais criativa e consegue enxergar os problemas com várias soluções ao mesmo tempo”.
A questão da multiculturalidade é outro benefício. “O aluno se habitua desde pequeno a frequentar esses vários mundos e, também, amplia as fronteiras. O mundo se torna menor para ele”, ressalta Silvia. De acordo com ela, mesmo que os pais não queiram que o filho faça faculdade fora, ainda há a possibilidade de uma oportunidade de emprego, estágio ou curso em outro país.
Adaptação
Para que o aluno se adapte ao ensino bilíngue, Silvia Tzemos afirma que é necessário que a escola ofereça todo o suporte. Na Mapple Bear, no primeiro ano em que o aluno entra na escola, recebe aulas extras de inglês e está rodeado de pessoas que falam o idioma nativo dele, isto é, o português, o que, na visão da educadora faz com que a criança se sinta mais segura. O estudante também é acompanhado pela coordenadora, orientadora educacional, psicóloga escolar e por uma professora psicopedagoga que dá um apoio adicional dentro da sala de aula.
Mas, de maneira geral, a diretora considera que o processo de adaptação da criança é bem rápido. Por isso, quanto mais cedo ela começar a aprender inglês, maior é a velocidade do aprendizado. “Mesmo um adolescente ainda está preparado para ser bilíngue. Não é tarde para ele. Mas é claro que quanto mais jovem melhor.”
Muitas pessoas também imaginam que o ensino bilíngue pode confundir a mente da criança. Mas Silvia desconstrói essa ideia: “A mente de uma pessoa bilíngue é dupla, ela tem acesso a vocabulários de dois idiomas. Então, a partir de 5 anos a pessoa já está fluente nos dois idiomas. É só uma questão de adaptação”. Isaac Dias, 5, começou a aprender inglês com 3 anos. A mãe, Rosimar Chaves, 43, conta que o processo de adaptação dele superou as expectativas. Em pouco tempo, e de forma natural, ele estava incorporando o vocabulário, contando números e recitando o alfabeto.
Rosimar considera o aprendizado do inglês importante para a nova geração. Como ela e o marido apresentam dificuldades com a língua, eles querem que a experiência do filho seja diferente. “Vejo que ele se sente muito confiante por aprender uma língua estrangeira. O motivo decisivo para optarmos pelo método bilíngue foi o fato de ele dar muita autonomia e confiança à criança. Acreditamos que o inglês é importante não só para morar fora do Brasil, mas para o sucesso profissional e pessoal também”, destaca a mãe.
Para a mãe, o mais interessante nesse processo é a inversão de papéis, pois é o pequeno Isaac que a ensina: “Todas as atividades que vêm da escola em inglês ele faz sozinho, não precisa dos pais. Ele praticamente me ensina a fazer as atividades. Eu aprendo a língua junto com ele”.
Escola de idiomas
Outra possibilidade é matricular os filhos em escolas de idiomas no contraturno do período escolar. Elas são especializadas no ensino de outros idiomas, como inglês e espanhol, e oferecem algumas aulas semanais. Para Lucia Santos, da Casa Thomas Jefferson uma das principais vantagens de uma escola de idiomas é que o aluno consegue focar apenas no aprendizado do inglês. “Procuramos atualizar as técnicas de ensino e aprendizagem para fazer o aluno ler, escrever, compreender e falar inglês com naturalidade e fluência.” Além disso, a instituição tem parcerias com algumas escolas de Brasília.
Lucia aponta que não existe idade certa para ser introduzido a um novo idioma, mas destaca: “Nos primeiros quatro anos de vida, há uma janela importantíssima para se trabalhar a plasticidade cerebral nas crianças. Os circuitos de linguagem estão em formação, e os neurônios fazem novas conexões e especializações”. Contudo, ela afirma que despertar um interesse genuíno dos alunos pela língua é um desafio.
Para acompanhar os novos tempos, assim como o interesse dos alunos, o Marista João Paulo II decidiu incorporar o ensino bilíngue à proposta de ensino. “O mundo hoje é conectado, integrado, e o próprio DNA da instituição é internacional. Todo ano, temos estudantes buscando universidade internacionais, intercâmbio. Entendemos que, naturalmente, existe hoje uma necessidade pela aquisição da língua inglesa”, justifica o diretor-geral do Marista João Paulo II, Luiz Gustavo Mendes.
A previsão é que o projeto comece a ser implementado em 2022. O plano é oferecer aulas semanais de inglês na forma tradicional, além do programa bilíngue, como uma extensão. Segundo Luiz, o programa conta com mais aulas e uma metodologia própria. Quando estiver em curso, as aulas de inglês vão ser incorporadas à rotina escolar do estudante de forma prática e dinâmica.
O diretor explica que a metodologia é baseada no desenvolvimento da língua por meio de conteúdos de outras disciplinas, isto é, com um caráter interdisciplinar: “Em vez de estudar inglês, o aluno estudará conteúdos em inglês, o que facilita a aquisição da língua, vão aprender de forma natural. Eles vão desenvolver um projeto, por exemplo, sobre um assunto qualquer em língua inglesa. Vão aproveitar os conhecimentos dos outros componentes curriculares e trazer isso para dentro da aula de inglês.”
Currículo duplo
O Marista também conta com parcerias para incrementar o aprendizado de outros idiomas. Uma delas é o oferecimento do inglês no contraturno, na própria escola, com a metodologia trazida da Casa Thomas Jefferson. Outra possibilidade é que os alunos cursem o currículo oficial norte-americano de forma simultânea ao brasileiro. A iniciativa com a Way American School é uma opção a mais para os estudantes, que podem ter uma real imersão na cultura americana no contraturno das aulas, de forma on-line e com professores nativos.
Quem optou por esse projeto foi o estudante do 3º ano do ensino médio, Tiago Limoeiro, 17. Graças ao contato com músicas, filmes e jogos eletrônicos, ele começou a se interessar pelo inglês desde cedo. “Eu me senti compelido a aprender a língua inglesa pelo menos para saber o significado das letras das músicas e entender os comandos dos jogos. E foi justamente por conta desse contato constante que acabei tendo mais facilidade para aprender e, também, melhorei muito a pronúncia”, conta.
Depois, Tiago começou a cursar aulas de inglês, e o desejo de fazer faculdade fora do país foi surgindo. Para tornar esse sonho possível, decidiu cursar o currículo americano em paralelo com o nacional. “É bem difícil conciliar os dois. Para conseguir, tenho que organizar bem os meus horários de estudo e de realização de projetos. O que facilita é que os conteúdos se relacionam bastante em vários momentos”, avalia.
Na visão do estudante, o ensino de uma segunda língua nas escolas é essencial, pois possibilita a comunicação em viagens a países estrangeiros, além da compreensão de livros e artigos acadêmicos: “É imprescindível que as escolas invistam no aprendizado bilíngue porque o inglês estará cada vez mais interligado com o meio acadêmico e vai ser cada vez mais útil para qualquer carreira profissional, além das várias utilidades do dia a dia”.
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte
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