A pandemia da covid-19 afetou não só os adultos, mas as crianças também. Relatório publicado em conjunto pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e Pela Organização Pan-americana da Saúde (Opas) mostrou que mais de 1,4 bilhão de crianças e jovens foram afetados pelo fechamento das escolas. Apenas na América Latina e no Caribe, esse número chegou a 154 milhões.
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A volta às aulas presenciais em 2021 foi diferente para as crianças. Além de se adequarem ao uso constante de máscaras, elas precisaram aprender a usar álcool em gel e a manter o distanciamento dos amigos. Consequentemente, a rotina de brincadeiras foi deixada de lado, assim como as atividades extracurriculares acabaram prejudicadas.
A psicóloga infantil Cleuza Barbieri explica que faz-se necessário o diálogo com as crianças para definir as escolhas do contraturno. “A primeira infância é uma fase de grande desenvolvimento emocional. Por isso, é comum as crianças tentarem agradar ao máximo os pais, para corresponderem às expectativas que eles têm. E é nesse momento que o diálogo é tão importante”, disse.
Cleuza lembra que a parte responsável por gerar e assegurar a inteligência emocional é, justamente, a criativa. “O ócio de uma criança é diferente do ócio de um adulto. Durante esse período, a criança vai inventar, vai criar. É esse momento de desenvolvimento que as escolas e as famílias têm que entender para ajudar no desenvolvimento dela.”
Para a psicóloga, a melhor opção na hora de escolher as atividades extracurriculares é respeitar a individualidade do filho e compreender para quais atividades ele está mais apto. Já em relação às crianças, elas devem confiar no julgamento dos pais sobre quais são as melhores escolhas naquele momento.
No colégio Claretiano Stella Maris, em Taguatinga, os pais podem optar pelo turno em que o filho estuda, e é ofertado um período adicional, que funciona no contraturno. A coordenadora do ensino fundamental I, Maria Alice Camargo Nascente, conta que ter os pequeninos participando do período adicional se tornou muito mais do que uma forma de mantê-los ativos, mas uma necessidade. “Hoje, mesmo que ainda na pandemia, os pais dos alunos trabalham, então, deixar que a criança fique em período integral se tornou uma necessidade para a família.”
Segundo a pedagoga, o contraturno não se baseia apenas em atividades, mas em descanso também. “Sabemos que, ao fim do horário de aula, os alunos tendem a estar cansados, por isso, dispomos de salas onde eles podem tirar um cochilo, descansar, ler ou ver televisão.”
O período adicional conta com um programa de artes, em que os alunos são estimulados a criar e a desenvolver peças artísticas, tecnológico, com aulas de robótica, esportiva e cultural, trazendo elementos da cultura brasileira e do mundo para a educação infantil.
Retorno
A professora de tênis Juliana Xavier, 36 anos, optou por deixar o filho Yan Gabriel, 10 anos, em regime integral no colégio há cerca de dois anos. Para ela, a decisão tem gerado bons frutos. “O Yan já chega em casa com os deveres prontos, com os exercícios físicos praticados e preparado para o próximo dia de aula.”
O colégio em que ele estuda tem, ainda, escolinhas nas modalidades balé, futebol society, futsal, hidroginástica, jiu-jitsu, judô, natação e vôlei. No contraturno, apenas um esporte é ofertado aos alunos participantes a cada três meses. Juliana acredita que o formato é bom para as crianças. “O esporte agrega. Então, é bom que o Yan consiga experimentar várias modalidades e compartilhar com os amigos as dificuldades e as vitórias.”
Quanto à atividade favorita do filho, Juliana responde sem pestanejar: robótica! De forma lúdica, estimula a imaginação das crianças. “Quando tem robótica, Yan chega em casa satisfeito e com vários projetos que quer colocar para frente”, diz Juliana.
Na escola Maria Montessori, na Asa Sul, há crianças na faixa etária de 2 a 10 anos que participam do regime integral. A criança que faz parte do integral tem as mais diversas atividades, que vão desde computação até aulas manuais, como aprendizagem na horta da escola. A orientadora educacional e neuropsicopedagoga Rosângela Maria Lopes explica que a escola segue a filosofia montessoriana, que se baseia no ensino concreto, partindo para as abstrações. “Queremos que a criança desenvolva independência, autonomia, responsabilidade e, consequentemente, habilidade nas coisas de que ela mais gosta.”
Os alunos também têm ao seu dispor aulas de inglês e a sala de educação cósmica, onde podem fazer atividades e experiências relacionadas à história e à ciência. “As crianças do infantil e fundamental I são muito curiosas e gostam de aprender, de descobrir novas coisas.” A partir do ano que vem, será implementado o ensino de língua espanhola.
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte