Na manhã desta quinta-feira (2/9), estudantes de uma escola particular em Cuiabá (MT) assistiram a um helicóptero da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp) do Mato Grosso sobrevoando o prédio do colégio. Essa demostração ocorreu dois dias depois que uma professora foi suspensa por criticar o presidente Jair Bolsonaro em sala de aula. A União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) repudiou a ação, que classificou como intimidação por parte da Sesp-MT.
No discurso, a professora, que não teve identidade revelada, teria dito que o presidente é a favor do desmatamento e que prejudica o povo indígena. As declarações foram gravadas pelos alunos, mas também não foram divulgadas. Segundo o portal de notícias G1, a professora teria falado para alunos, na faixa etária entre 7 e 9 anos, e sua conduta teria repercutido mal entre os pais das crianças.
Na quarta-feira, a escola solicitou ao Sesp-MT um “breve sobrevoo na Praça de convivência do Colégio Notre Dame de Lourdes, trazendo a Bandeira Nacional do Brasil”. O documento ainda especifica que “o intuito dessa ação é sensibilizar e semear em nossos mais de 1.600 alunos o amor pela nossa Pátria, bem como o respeito a todas as instituições que contribuem servindo nosso Brasil”. O ofício foi direcionado ao Coronel da PM do Mato Grosso, Juliano Chiroli, e assinado pelas diretora e coordenadora do colégio.
Em nota, a assessoria do Sesp-MT esclareceu que, como parte das atividades da Semana da Pátria, realizada pelo Colégio Notre Dame anualmente, o Ciopaer realizou um sobrevoo no local, a pedido da própria instituição educacional. E que, na ocasião, a bandeira do Brasil foi mostrada aos alunos sem nenhuma conotação política, mas no intuito de demonstrar o patriotismo nesta data.
A assessoria também informou que o Ciopaer realiza diversas atividades sociais e educacionais, visitando entidades sociais, escolas públicas e particulares, com o objetivo de aproximar as forças de segurança e a população. Além do sobrevoo, membros do Ciopaer estiveram no colégio, nesta quarta-feira, realizando palestra e orientações aos alunos sobre o tema “segurança pública”, em convite feito pela própria instituição.
A União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), entidade responsável por representar os interesses de jovens estudantes, repudiou a ação da Sesp-MT. Em nota, a entidade disse que “é inaceitável a censura e desperdício de dinheiro público para a intimidação de crianças, jovens e trabalhadores. Não se trata de coincidência, quando uma ação nesses moldes acontece às vésperas dos atos antidemocráticos, cheios de ameaças convocados por Jair Bolsonaro. É uma ação aparelhada com as ideias golpistas e conservadoras do governo".
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A Ubes defende ainda que a escola seja um ambiente de estímulo ao pensamento crítico, de formação ampla e que também amplifique a urgente defesa do meio ambiente, contra a crise climática que o planeta atravessa. A presidente da entidade, Rozana Barroso, se manifestou. "É um absurdo ver a professora ser suspensa por três dias e prestamos toda nossa solidariedade a essa trabalhadora. Mas, ainda mais absurdo, é ver uma ação de intimidação como essa, que não representa a educação que acreditamos, que é um meio de transformação e liberdade do povo brasileiro", disse.
Na internet, o caso repercutiu entre famosos como o cantor Marcelo D2, o jornalista e apresentador Felipe Andreoli, a vereadora Erika Hilton, a deputada estadual Renata Souza e outros.
A escola foi procurada por e-mail, mas não se manifestou.
* Estagiária sob a supervisão de Ana Sá