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PANDEMIA

DF: volta às aulas presenciais para educação infantil começa nesta quinta

Para muitos dos alunos, este será o primeiro contato com a comunidade de ensino, após 511 dias de aulas a distância. Retorno divide opiniões, mas será acompanhado pelo poder público e por associações civis

A ansiedade pelo retorno presencial às aulas da rede pública acaba nesta quinta-feira (5/8) para os estudantes da educação infantil. Desde a publicação do decreto do Governo do Distrito Federal (GDF) que suspendeu o ensino presencial devido à pandemia da covid-19, em 11 de março de 2020, os alunos estão há 511 dias com atividades em ambiente virtual.

Para muitos estudantes da etapa que retorna, este será o primeiro contato presencial com a comunidade escolar. No entanto, apesar dos preparativos para a retomada, pais, mães e professores temem por perdas educacionais, pelo avanço da variante Delta e o baixo alcance da imunização.

Nesta primeira fase, os trabalhos voltam em 276 unidades de ensino, nas quais estudam 45.587 crianças. Nessa quarta-feira (4/8), a diretora do Sindicato dos Professores (Sinpro-DF) Rosilene Corrêa participou de reunião com diretores de colégios.

“Eles pontuam algumas dificuldades como falta de pessoal para cuidar da entrada e aferir a temperatura, por exemplo. Em uma unidade de ensino de São Sebastião, de segunda-feira até hoje (quarta-feira), duas professoras testaram positivo para a covid-19. Ou seja, lá, não há condições de voltarem às aulas amanhã”, comenta.

Além disso, ela considera que existem “vários desafios” para a retomada: “Em algumas escolas, há receio de não haver merenda suficiente. E os pais que optarem por não levar os filhos não terão profissionais para atendê-los, porque o professor estará no presencial e não tem duas jornadas”.

Para o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), a rede de ensino não tem impeditivos para a volta das atividades. Uma força-tarefa do órgão visitou 18 colégios em diversas partes do DF. Os dados foram repassados à Promotoria de Justiça de Defesa da Educação (Proeduc). “As regionais de ensino serão notificadas para (tomar) providências, caso necessário. O MPDFT vai acompanhar todo o processo em diálogo com a sociedade”, reforça a instituição.

Diretor da Escola Classe 7 do Guará, Fernando Gabriel Vasconcelos afirma que as expectativas estão altas. O colégio recebe cerca de 600 alunos, do ensino infantil aos anos iniciais do fundamental. Aproximadamente 100 devem voltar hoje. “A emoção é mais da gente. Depois de um ano, ter contato com crianças que nunca estiveram na escola não é fácil, mas estamos felizes por retornar. Vai ter falha, com certeza, por ser uma realidade nova. Mas posso dizer que teremos muitos acertos também, principalmente quanto à segurança”, comenta.

 

Contudo, para a professora de uma regional de ensino infantil do Varjão, Thelma Maria da Silva, e mãe de dois filhos em idade escolar, o retorno ainda é um risco. Ela faz parte de um comitê de pais que pedem pela não obrigatoriedade do envio dos filhos para as escolas. “Sou professora da rede de educação infantil e mãe de duas crianças, uma que está no sétimo ano e outra que estuda na mesma unidade em que trabalho. E eu não vou enviá-los para a escola. O ensino infantil não consegue manter todas as regras, são crianças”, observa.

“Se eles querem voltar devido a vulnerabilidade social das famílias, deveriam garantir programas que os ajudassem. Por exemplo, o que o governo fez com a verba da alimentação escolar? Além disso, segundo o último documento emitido pelo Conselho Nacional de Educação, publicado em 2020, as aulas presenciais não poderiam ser obrigatórias”. Thelma destaca que até o momento nenhuma nova resolução foi publicada acima do texto emitido pelo Conselho em dezembro. “Além disso, existe o artigo 7 do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) que fala que a família tem que proteger a vida e a saúde das crianças e já está claro para os infectologistas que voltar às aulas aumentará o número de casos”, pontua.

Para Thelma, é essencial que o governo permita a escolha dos pais. “Se ele permitir que quem pode ficar com os filhos em casa fique, isso vai diminuir o número de crianças na escola e consequentemente facilitar esse retorno mais seguro. No entanto, querem ameaçar os responsáveis falando sobre acionar o Conselho Tutelar. E claro, tem escolas na periferia que não receberam todo o suporte de outras, das regiões centrais. Até o momento, eles não apresentaram nenhuma justificativa que garantisse um motivo para o retorno presencial. Afinal de contas, se for para ajudar os pais com o trabalho, não vai resolver, porque o retorno será escalonado e ninguém trabalha semana sim e outra não”, frisa.

Ed Alves/CB/D.A Press - 04/08/2021. Cidades. Volta as aulas no ensino fundamental. Na foto o diretor Fernando Gabriel Vasconcelos da Escola Classe 7 do Guara 2.

Três perguntas para Hélvia Paranaguá, secretária de Educação

Existe alguma expectativa de até quando vai durar o retorno híbrido?

Cada escola tem poder de flexibilidade para receber os estudantes. Não engessamos o processo exatamente por isso, porque existem colégios de 2,8 mil alunos, nos quais os 50% (de alunos por semana) representam 1,4 mil (estudantes). Mas há, também, escolas com 600 alunos. Isso significa que, dependendo da estrutura de que a unidade dispõe, 100% podem retornar (às aulas presenciais). Mas cada região tem uma realidade. Não dá para dizer se vai voltar tal número de escolas, porque essa estimativa só existirá após o retorno.

Qual a avaliação dos professores?

Muitos querem voltar e entendem o clamor da sociedade. O professor, nesse processo todo, foi um guerreiro, porque, em um dia, estava na escola e, no outro, recebeu um decreto dizendo que todos deveriam ficar em casa. Ele teve de se reinventar para dar aula de forma remota. Os gestores das escolas nunca deixaram as unidades. Estiveram presentes durante toda a pandemia, correndo, recebendo os pais, entregando material como complemento pedagógico. Todos abraçaram a causa.

Quais as expectativas para o retorno presencial?

Todos o estão esperando: a comunidade, a família e a (Secretaria de) Educação. Programamos de forma escalonada para permitir essa tranquilidade. A expectativa é de que seja muito positivo, pois teremos um protocolo de segurança que orientará o que fazer caso haja algum caso de contaminação na unidade escolar, como o governo deve agir, como a escola deve se comportar, o que a Secretaria de Saúde deve fazer. Tudo isso para dar segurança à sociedade. Além disso, acompanharemos esse processo com fiscalização e acolhimento. As famílias precisam muito disso.

Normas definidas

Os alunos do Centro de Educação Infantil (CEI) 9, no Areal, encontrarão uma escola de cara nova, nesta fase de retorno. A instituição funcionava no mesmo terreno do Caic Walter José de Moura, passou por reforma na pandemia e receberá 307 estudantes. A inauguração ocorreu nessa quarta-feira (4/8), com participação da secretária de Educação, Hélvia Paranaguá.

Diretora da instituição de ensino, Fernanda Vaz afirma que a escola está preparada para receber as crianças, respeitando as normas definidas pelas secretarias de Educação e de Saúde. “Na entrada, temos tapete sanitizante e haverá aferição de temperatura, além da higienização das mãos. Está muito seguro. Os pais podem ficar tranquilos por esse retorno presencial, pois está bem planejado”, comenta.

A professora Beatriz Watrin entende que há riscos, mas avalia que a necessidade de ter os estudantes na escola é maior. “Tem o medo, por causa da covid-19. Estamos vacinados, mas eu sei que isso não dá 100% de garantia. Tenho medo pelas crianças, pelas famílias, mas precisamos retornar. Muitos estudantes não têm sido assistidos em casa. Passam por violência e inúmeras situações das quais nem sabemos. Precisamos acolhê-los”, defende.

Maria Dalvanete, 43 anos, mora no Areal e aproveitou o período de retomada das aulas para matricular a neta Patrícia Rodrigues, 4, no CEI 9. A família esteve no colégio ontem, para conhecer o novo espaço. “Não temos condições de pegar o transporte público para levá-la à escola. O trajeto é todo feito a pé. Conseguir a vaga foi muito bom”, diz a avó.

A gerente de contas, Ana Rita Osório, 49, mora na Asa Norte e diz que era contra o retorno presencial do filho Leonardo, 7, estudante da Escola Classe 304 Norte. “Eu me posicionava contra. Mas senti mais segurança agora, devido à vacinação, porque consegui tomar a primeira dose, mas entendo que todos os cuidados devem continuar”, pontua.

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