A divulgação do cronograma de volta às aulas presenciais na rede pública de ensino dividiu a opinião de pais e mães do Distrito Federal. Enquanto alguns não concordam com a volta às salas de aula por causa da pandemia de covid-19, outros temem um prolongamento dos reflexos negativos na educação dos filhos — consequência do ensino a distância — e dizem não ter mais condições de mantê-los em casa. O planejamento escalonado foi divulgado na terça-feira (27/7) pela Secretaria de Educação, e o retorno ocorre em 5 de agosto.
O casal de agricultores Raimundo Nonato Martins, 47 anos, e Claudineide de Oliveira Neves, 33, viu a notícia com bons olhos. Pais de Ana Flávia, 15, e Eduardo, 6, eles relatam que os filhos não sofreram tanto os prejuízos da fase de ensino a distância porque tiveram apoio dos educadores. “Não foi tão ruim. Eles estavam fazendo a tarefa. Eu levava meu menino para fazer algumas atividades com a professora, e minha filha ficou em casa, fazendo os deveres on-line”, conta a mãe.
A família mudou-se para o Núcleo Rural Taquara, em Planaltina, há dois meses. Antes, moravam no Guará, mas, desde que chegaram ao novo endereço, enfrentam dificuldades com a conexão. “Antes, tínhamos wi-fi, internet. Mas, agora, ficamos sem acesso”, explica o pai. Por isso, a família aguardava o retorno presencial. “Nós trabalhamos na roça, não tem como ficar ajudando menino o tempo todo. Na escola, é diferente. Lá, você tem leitura, palestra, acompanha a explicação do professor. Aqui (em casa), chega um tanto de folha (de exercícios) para fazer e não tem explicação. Não tem revisão de matéria, e a gente não sabe ensinar. Então, lá (na escola) é melhor”, completa o agricultor.
Ana Flávia e Eduardo estudam na Escola Classe Taquara, em Planaltina. Assim como os alunos, a direção do colégio tem se preparado para o retorno das atividades. Com 774 pessoas matriculadas em três turnos, a instituição atende em todas as modalidades de ensino: da educação infantil à de jovens e adultos (EJA). “Temos adequado toda a estrutura física para quando os estudantes chegarem. Disponibilizamos álcool em gel em todas as portas das salas de aula, compramos tapetes higienizantes, estamos montando kits para professores e adotando todas as medidas de segurança nas dependências do prédio”, ressalta o diretor, Volemar Orleans.
Receio
Apesar dos preparativos, alguns pais têm medo de permitir que os filhos voltem às atividades presenciais. É o caso da veterinária Layanne da Silva de Souza, 26, moradora de Santa Maria. Ela conta que a filha, Ana Júlia, 4, tem dermatite atópica, rinite e asma leve e que isso gera preocupação. “Torna meu medo maior, porque adotamos uma série de cuidados para aliviar as crises que ela tem. Considero um risco ela ir para a escola”, opina. “Criança não consegue seguir a regra de ficar com máscara o tempo todo. Elas vão brincar, dividir materiais, mesmo que o professor tente impedir. Só vou me sentir tranquila quando a maior parte da população estiver imunizada e houver controle sobre essas variantes”, completa Layanne.
Diretora da Escola Classe do Setor P Norte, em Ceilândia, Magda Pereira da Silva destaca alguns dos temas que mais preocupam a equipe. “O corpo docente está bem tenso com esse retorno, mas entendemos que é o momento de voltar. Nossa preocupação maior é com os estudantes”, comenta. Além das pias separadas, dos tapetes higienizadores e dos totens com álcool em gel dispostos pela instituição de ensino, haverá identificação das mesas dos alunos e dos materiais de convivência. “O colégio recebe estudantes de 4 a 10 anos. São 800 no total. Como será uma semana remota e uma presencial, teremos 400 alunos por dia. Mesmo com o horário de aulas reduzido para quatro horas, será um desafio para a equipe fazer toda a limpeza necessária”, acrescentou Magda.
A auxiliar de serviços gerais Alessandra Gomes da Silva Batista, 41, conta que a família teve dificuldade para se adaptar à plataforma on-line. Mãe de Rafael, 8, e Vitória, 15, ela conta que os filhos precisaram dividir o mesmo celular. “Temos um só para as três pessoas da casa”, conta. Agora, eles se preparam para o retorno presencial. “Ao mesmo tempo em que temos medo, por causa dessa nova variante circulando, quero mandá-los para a escola. Minha filha está na expectativa. Como é adolescente, quer conviver de novo com os colegas. O pequeno tem hora que diz querer voltar. Mas ele acha que vai ser como antes, brincando com os colegas. Tenho tentado explicar que não será bem assim”, relata Alessandra.