Com as aulas em formato remoto desde março de 2020, chegou a vez do ensino básico da rede pública do Distrito Federal retornar as atividades presenciais. Nesta terça-feira, a secretária de Educação, Hélvia Paranaguá, anunciará os detalhes do plano de volta às aulas. Mas, em reunião com diretores de escolas, a secretária de Educação fez alterações no plano de retorno às aulas presenciais. A volta será escalonada, mas os critérios serão definidos por cada instituição de ensino. O retorno dos estudantes às aulas presenciais só vai ocorrer a partir de 5 de agosto e não na próxima segunda-feira (2). Os professores devem retornar nessa data. Até 4 de agosto será reservado para encontros pedagógicos.
Os alunos matriculados na educação infantil devem retornar em 5 de agosto. O retorno dos anos iniciais e do 1º segmento da EJA (Educação de Jovens e Adultos), enquanto os alunos matriculados nos anos finais e nos 2º e 3º segmentos do EJA devem voltar em 16 de agosto. As aulas do ensino médio e da educação profissional e tecnológica só devem voltar em 23 de agosto.Em 30 de agosto está previsto o retorno de todos os demais atentimentos da rede de ensino, como o das escolas de Natureza Especial.
A SE-DF tinha elaborado um documento, que foi divulgado no começo de julho para explicar o funcionamento das aulas presenciais e instruir as instituições sobre como devem receber os alunos a partir de 5 de agosto.
“As escolas públicas vão funcionar no modelo híbrido. Haverá "alternância de grupos de estudantes: em uma semana, metade dos estudantes de cada turma irá à escola presencialmente, enquanto os demais farão atividades remotas - por meio do uso de tecnologia ou material impresso; e, na semana seguinte, o mesmo processo ocorrerá invertendo-se os grupos", diz do guia divulgado pela Secretaria de Educação.
A primeira parte do guia refere-se aos protocolos e medidas de biossegurança, que incluem cuidados individuais, como o uso de máscara de proteção, tópicos como higienização e adequação dos espaços físicos, manipulação e distribuição da alimentação escolar, assim como procedimentos a serem adotados em casos de suspeita de covid-19.
Na segunda parte detalhes sobre a ambientação e o acolhimento à comunidade escolar. Por fim, o guia aborda a organização do trabalho pedagógico para o ensino híbrido. O modelo será adotado no retorno das aulas na rede pública de ensino. Segundo a SE-DF, Brasília tem 686 instituições públicas, 460 mil alunos e cerca de 40 mil professores.
A diretora do Centro de Ensino Médio do Guará (CEM 01), Cynara Martins, conta que para o colégio está preparado para receber os alunos foram feitas diversas obras e mudanças estratégicas, como a lotação das salas de aula, que agora serão ocupadas por apenas 20 alunos no máximo, com um metro de distância. Outra mudança significativa, segundo Cynara, foi a instalação de projetores em todas as salas, o que possibilita a gravação das aulas para os alunos que estiverem no grupo de aulas remotas. Para isso, os alunos serão divididos em dois grupos: o grupo 1 ficará uma semana no presencial, enquanto o grupo 2 estará remoto. Na semana seguinte, a ordem se inverte.
“Nossa preparação vem desde o ano passado, reorganizamos o espaço da escola com novo piso e pintura. Corremos atrás de verba parlamentar para as reformas e a criação de espaços. Criamos também uma cartilha com regras e orientações que será entregue aos alunos. Fizemos duas entradas para evitar aglomeração na entrada e saída dos alunos, os bebedores estão com distanciamento e todos são apenas para que cada aluno encha sua garrafa”, conta a diretora.
No CEM 01, estão matriculados 1.289 e lecionam ao todo 75 professores. São 32 turmas divididas em dois turnos. Para o apoio e acolhimento, a escola conta com uma psicóloga e dois psicopedagogos fazem um acompanhamento dos alunos, inclusive no ensino remoto.
O professor de história, Nirvado Barros, leciona no CEM 01 há mais de 20 anos e relata que sua expectativa é a melhor possível. Ele perdeu o pai para a Covid-19 em agosto de 2020. O docente faz uma leitura de que essas aulas presenciais, ainda que pelo sistema híbrido, precisam voltar.
“Eu acredito que o tempo em que nossos alunos ficaram distante desse espaço chamado escola, na minha avaliação, foi além do que se devia. Reconheço todos os problemas e riscos, mas é preciso que a escola siga com muita rigidez os protocolos de proteção.
Segundo o professor, os prejuízo pedagógicos, no desenvolvimento intelectual, os aspectos emocionais que precisam ser considerados, já foram enormes. Agora, os professores terão a missão árdua de colocar em prática um sistema que será novidade e administrar várias carências que alunos enfrentam, sejam sociais ou econômicas, buscando diminuir os danos a educação.
Para a diretora do Sindicato dos Professores do Distrito Federal (Sinpro-DF), Rosilene Correa, os professores entendem a importância da escola para os alunos e para os professores como local de trabalho, mas que não se pode esquecer que o retorno ocorre no momento em que a pandemia ainda não foi superada e ainda surgem novos e mortes diariamente.
"A vacina é indispensável, mas não é suficiente". adverte. Muita escolas, segundo a diretora do Sinpro-DF, não têm condições para esse retorno. Ela diz que existem estabelecimentos de ensino que não dispõem de local para que as crianças possam lanchar, não têm pessoal suficiente, como o porteiro para ajudar na entrada e saída dos estudantes, além de salas de aula sem ventilação. Algumas contam com ar-condicionado, mas não podem ser usados. "Uma série de problemas precisam ser avaliados, como o protocolo para a educação especial. Então, as escolas precisam se preparar. Muitos alunos não têm condições de comprar uma máscara e de ficar com ela no rosto durante horas”. Rosilene lembrou que todas esses problemas foram pontuadas pela diretoria do Sinpro em reunião com a Secretaria de Educação. A expectativa da diretoria da entidade é de que todos esses cuidados sejam levados em conta para que o retorno seja feito de forma segura. Mas ela informa que está convocada assembleia com a categoria para definir essas pendências.
Com o retorno das aulas ocorrendo em vários estados do país, o Ministério da Educação (MEC) também lançou um guia para orientar o retorno seguro das aulas presenciais nas redes de ensino estadual e municipal. O guia detalha medidas de higiene a serem adotadas, de desinfecção de ambientes, distanciamento entre alunos em sala de aula, uso do transporte escolar, da biblioteca, de equipamentos de proteção individual e de proteção coletiva e ventilação de ambientes.
Como medida de higiene e proteção ambiental, por exemplo, uma recomendação é estabelecer uma rotina de higienização das mãos em diversos momentos das atividades escolares. E também ter um cronograma de limpeza regular do ambiente com atenção especial a banheiros, maçanetas, carteiras, interruptores e material de ensino.
O documento também traz orientações pedagógicas e sobre o que deve ser observado antes da decisão de retorno presencial das aulas como avaliar as condições de estrutura da escola, definir como será o processo de alimentação dos estudantes e analisar se há condições de fazer o treinamento e capacitação da comunidade acadêmica.